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Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Pequenos diálogos para desbravar grandes obras & ideias − e cuidar melhor de si e do mundo

A mensagem do papa Francisco para envelhecermos bem (e em boa companhia)

'Um mundo que viva uma nova aliança de jovens e idosos": é o que defendeu o pontífice recém-falecido no livro 'Sabedoria das Idades'. Leia seu texto

Por Papa Francisco
Atualizado em 25 abr 2025, 09h25 - Publicado em 24 abr 2025, 18h44

Tenho uma lembrança maravilhosa de minha visita às Filipinas. O povo saudou-me cantando “Lolo Kiko!”, que significa “Vovô Francisco”! Lolo Kiko, gritavam! Fiquei realmente feliz por ver que se sentiam tão próximos de mim — como de um avô.

Nossa sociedade silenciou as vozes dos avós. Nós os empurramos para fora do caminho. Não lhes demos a chance de compartilhar suas experiências, contar suas histórias e falar de sua vida. Nós os pusemos de lado e assim perdemos o tesouro de sua sabedoria. Não queremos demonstrar nosso medo da fraqueza e da vulnerabilidade, mas desse modo aumentamos o sofrimento de nossos idosos, que não têm nosso apoio e passam a se sentir abandonados.

Em vez disso, devemos reavivar um sentimento respeitoso de gratidão, apreço e hospitalidade, que leve os idosos entre nós a sentir que realmente fazem parte da comunidade. Quando marginalizamos nossos avós, perdemos a chance de descobrir seu segredo, o segredo que lhes permitiu navegar com segurança pela aventura da vida. E, assim, nos privamos dos exemplos e dos benefícios da experiência que viveram. Nós nos perdemos. Ficamos sem a sabedoria dos que, com o tempo, não apenas venceram as dificuldades, mas também guardaram no coração a gratidão por tudo que experimentaram.

Por outro lado, imagine como é desagradável quando uma pessoa mais velha se torna infeliz. Ela reluta em compartilhar sua experiência. Menospreza os jovens. Queixa-se o tempo todo. Não compartilha sua sabedoria. Só rememora inutilmente os tempos antigos.

Contudo, como é maravilhoso o incentivo que o idoso concede ao jovem que busca o sentido da vida! É essa a missão dos avós. É vocação real e verdadeira, como ouvimos, por exemplo, em Sirácida: “Não menosprezes os dizeres dos idosos, porque também eles aprenderam de seus pais; é deles que aprenderás a prudência e como responder no momento oportuno” (Sr 8,9). Nossos idosos têm um reservatório de sabedoria para nossa sociedade. Prestar atenção em nossos idosos melhora nossa vida juntos.

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As palavras de nossos avós contêm alguma coisa especial para os jovens. É como se transmite a fé — pela sabedoria dos mais velhos, que fizeram da fé o fermento de sua vida. Sei disso por experiência pessoal. Ainda carrego comigo as palavras que minha avó Rosa me escreveu no dia de minha ordenação sacerdotal. Levo-as sempre comigo, dentro do breviário. Leio-as com frequência e elas me fazem bem.

Já há algum tempo trago um pensamento no coração. Sinto que é isto que o Senhor quer que eu diga: é preciso haver uma aliança entre jovens e idosos. Este é o tempo em que os avós devem ter sonhos para que os jovens tenham visões. A ideia ficou clara para mim quando considerei as palavras do profeta Joel, que diz, em nome de Deus: “Derramarei o meu espírito sobre todos os mortais, vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens verão visões” (Jl 3,1).

O que isso significa? Nossa sociedade só vai progredir se nossos avós tiverem a coragem de sonhar e nossos jovens imaginarem grandes coisas. Se queremos ter uma visão para nosso futuro, deixemos nossos avós nos dizerem, deixemos que compartilhem seus sonhos conosco. Precisamos de avós que sonhem! Eles vão inspirar os jovens a seguir em frente com criatividade enquanto planejam um futuro.

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Sabedoria das idades

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Hoje, os jovens precisam dos sonhos dos idosos para terem esperança num futuro. Os mais velhos e os jovens avançam juntos e precisam uns dos outros.

Quando o Menino Jesus foi levado ao templo, foi acolhido por dois anciãos, uma mulher e um homem, que relataram seus sonhos: no sonho de Simeão, o Espírito Santo lhe prometera que ele veria o Senhor. Simeão e Ana esperavam a vinda de Deus todos os dias havia muitos anos e com grande fidelidade. Ansiavam por ver aquele dia chegar. Essa espera constante — talvez apesar do cansaço e da frustração — preenchia toda a vida deles. Então, quando Maria e José chegaram ao templo para cumprir a lei, Simeão e Ana tomaram a palavra. Foram movidos pelo Espírito Santo. Os dois idosos reconheceram o menino e descobriram uma nova força interior que lhes permitiu dar testemunho. Simeão tornou-se poeta e passou a entoar seu cântico. Ana foi a primeira pregadora de Jesus, falando do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.

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De fato, a falta de avós como Simeão e Ana, que compartilham seus sonhos, atrapalha a capacidade da geração mais jovem de planejar um futuro. E assim eles acabam impedidos de prosseguir. Sem o testemunho da vida dos mais velhos, os planos dos jovens não têm nem raízes nem sabedoria. Hoje, mais do que nunca, o futuro gera ansiedade, insegurança, desconfiança e medo. Só o testemunho dos mais velhos ajuda os jovens a olhar acima do horizonte para ver as estrelas. Aprender que valeu a pena lutar por alguma coisa ajuda os jovens a encarar o futuro com esperança.

O que peço aos idosos dos quais faço parte? Conclamo que sejamos protetores da memória (“memoriosi della storia”). Nós, avôs e avós, precisamos formar um coro. Imagino os anciãos sendo o coro permanente de um grande santuário espiritual, onde orações de súplica e cantos de louvor apoiam a comunidade maior que trabalha e luta no campo da vida.

Mas também insisto que comecemos a agir! Peço que lutemos, de todas as maneiras possíveis, contra a “cultura do desperdício” que nos é imposta em todo o mundo. Há alguma coisa muito errada nessa dependência da cultura do desperdício. Quando envelhecemos, reconhecemos as lacunas e faltas de uma sociedade tão inclinada à eficiência. Como idosos, agradecemos ao Senhor os muitos benefícios que recebemos. Preenchemos o vazio de ingratidão que nos cerca.

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Não só isso: reverenciamos a memória e os sacrifícios do passado. Lembramos aos jovens de hoje, que têm sua própria combinação de ambições heroicas e inseguranças, que a vida sem amor é uma vida árida. Dizemos aos jovens temerosos que é possível superar a ansiedade em relação ao futuro. Ensinamos a esses jovens, às vezes tão concentrados em si mesmos, que há mais alegria em dar que em receber e que não se demonstra amor apenas com palavras, mas também com ações. Neste tempo e momento da vida, nós idosos precisamos nos reinventar, porque, como ela é hoje, a velhice é um fenômeno novo.

É o que nos impele a ser criativos. E o que peço aos jovens? Sinto pena do jovem que tem os sonhos tolhidos na burocracia, que, como o jovem rico do Evangelho, segue pela vida triste e vazio. Peço-lhes que escutem e se unam a seus idosos. Peço-lhes que não se retirem para uma tranquila “existência comum” que os prende a projetos sem esperança e sem heroísmo. Peço-lhes que olhem para as estrelas. Peço-lhes que sonhem com um mundo melhor e deixem esse sonho inspirá-los e enchê-los de energia.

Eis o meu desejo: um mundo que viva uma nova aliança de jovens e idosos.

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