80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial em 8 novos (e potentes) livros
Neste 8 de maio, celebra-se o ponto final no conflito na Europa. Lançamentos ajudam a entender momentos críticos e repercussões que se estendem até hoje

A Segunda Guerra Mundial mudou tudo. Sem exagero. Herdamos seus traumas e também seus legados políticos, econômicos, morais e tecnológicos. No dia 8 de maio de 1945, foi assinado o documento que encerrava o conflito na Europa, com a rendição da Alemanha de Hitler. Foi o Dia da Vitória, segundo o batismo dos Aliados.
Só não foi o autêntico ponto final nesse capítulo da história, porque as operações militares seguiriam no Pacífico e, em agosto daquele ano, bombas atômicas americanas destruiriam duas cidades no Japão – um evento sem precedentes pela monstruosidade nuclear e um dos pontos de partida de uma nova guerra, agora marcada pela queda-de-braço entre Estados Unidos e União Soviética.
Nos 80 anos do fim da Segunda Guerra no continente europeu – data simbólica também pela derrota do nazismo e do fascismo -, oito novos livros ajudam a entender suas causas e consequências – que perduram até os dias de hoje.
O medo e a liberdade
Autor: Keith Lowe
Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges
Editora: Zahar
Páginas: 648
O historiador britânico se propõe a examinar a transformação do mundo após a Segunda Guerra ancorado em relatos de “sobreviventes” do conflito e uma arguta análise do processo de reconstrução geopolítica, econômica, urbana e social, cujos reflexos se fazem sentir ainda hoje – seja nas lutas sangrentas no Oriente Médio, seja nos discursos de lideranças como Putin e Trump. Lowe investiga a formação de um grande imaginário de heróis, vilões, mártires e utopias criado pela guerra e, muito além do renascimento europeu após um cenário de ruínas, mapeia as repercussões da nova ordem global gestada pelo evento nos demais continentes – um percurso marcado, em comum, pela dicotomia entre as sensações de medo e liberdade na formação de homens e nações.
A bomba
Autor: Howard Zinn
Tradução: Bruno Cobalchini Mattos
Editora: Manjuba
Páginas: 96
Um pequeno e tocante livro sobre as motivações e os impactos por trás das armas de destruição em massa que estrearam com a Segunda Guerra. O autor, historiador mas também um ex-bombardeiro americano que participou de ofensivas na França ocupada, nos oferece dois ensaios. No primeiro, monta uma sensível reflexão sobre a monstruosidade das bombas atômicas lançadas sobre o Japão nos estertores do conflito. No segundo, parte de suas memórias pessoais do ataque à cidade de Royan, então tomada por tropas alemãs, para questionar por que o governo americano autorizou bombardeios com direito a napalm em um momento em que a Alemanha já estava praticamente derrotada. Um libelo vívido contra os princípios e golpes brutais de qualquer guerra.
Ausência de destino
Autor: Imre Kertész
Tradução: Paulo Schiller
Editora: Carambaia
Páginas: 232
O escritor húngaro, laureado com o Prêmio Nobel de Literatura de 2002, foi um sobrevivente dos campos de concentração nazistas. Ausência de destino, seu primeiro livro, é o romance baseado no percurso do próprio autor, que, com apenas 14 anos, escapou por um triz de Auschwitz, mas teve de encarar a rotina c cruel de outros dois campos de trabalho forçado construídos e mantidos pelo exército alemão até o fim da guerra. A miséria, a violência e a doença se tornam a realidade de um jovem apartado dos seus que passa a vivenciar, na própria carne e alma, a desumanização do “outro” – e a enxergar num prato de sopa rala o único alívio em meio à tormenta. Para Kertész, como contextualiza o posfácio do tradutor Paulo Schiller, só a ficção pode contar os horrores do Holocausto.
A Segunda Guerra Mundial – A História Completa (vol. 2)
Autor: Martin Gilbert
Tradução: Renato Marques
Editora: Objetiva
Páginas: 528
Depois da publicação do primeiro volume de uma das obras mais ricas em detalhes sobre o início, o desenrolar e o término da Segunda Guerra, finalmente chega ao Brasil o segundo tomo que encerra o panorama das operações militares e dos bastidores das decisões e ações tomadas durante as batalhas. No novo livro, o historiador inglês parte de 1943, com o acordo selado por EUA e Reino Unido em Casablanca, no recém-liberto norte da África, e os movimentos subsequentes que permitiram aos Aliados começar a virar o jogo contra o Eixo. Seu apurado relato vai até os combates finais na Europa e no Pacífico, com um bônus reflexivo sobre os “assuntos inacabados” deixados como herança pela guerra.
Na voz dela
Autora: Alba de Céspedes
Tradução: Joana A. d’Avila Melo
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 464
O romance da escritora italiana retrata uma dupla resistência: a de uma mulher que, no início do século XX, precisa enfrentar uma sociedade machista que ainda abre seus braços para o fascismo. A obra, considerada um clássico contemporâneo, acompanha a vida de uma jovem coagida a seguir as convenções sociais, ao mesmo tempo que decide comprar suas batalhas dentro e fora de casa, numa jornada marcada por desventuras familiares e a participação no movimento de reação às ideias e hordas de Mussolini numa Itália que, muito em breve, teria sua capital bombardeada no início da guerra.
O urso que caçava nazistas
Autor: Marcio Pitliuk
Editora: Vestígio
Páginas: 160
Escritor e curador do Memorial de Imigração Judaica e do Holocausto de São Paulo, Marcio Pitliuk mistura o amor a uma causa com o faro histórico para elaborar romances inspirados em episódios reais e muitas vezes desconhecidos da Segunda Guerra Mundial. Eis a bem-sucedida fórmula de obras como O homem que venceu Hitler e O engenheiro da morte. Com esse mesmo espírito, o autor traz à tona agora a luta armada de judeus que, enfrentando uma das situações mais adversas possíveis, partiram para o contra-ataque ao Terceiro Reich. O enredo é protagonizado por um jovem ucraniano que, lutando para sobreviver em meio às florestas invadidas de seu país, foi “o primeiro caso de um garoto que virou urso”, uma criatura lapidada pela vida para resistir e trucidar antissemitas.
Os monstros de Hitler
Autor: Eric Kurlander
Traduçã: Gisele Eberspächer
Editora: Zahar
Páginas: 552
Amparado em farta pesquisa, o historiador americano se debruça sobre o apego dos alemães e, sobretudo, dos nazistas por crenças ocultistas e pseudocientíficas e os reflexos do pensamento sobrenatural em sua visão dos inimigos, planos de conquista e busca de armas milagrosas. Astrologia, radiestesia por pêndulo, culto à terra, redenção de bruxas e outras figuras folclóricas, símbolos pagãos… Tudo isso foi cultivado pelos seguidores do Reich, inclusive por líderes do movimento do porte de Heinrich Himmler, o comandante das forças especiais nazistas, e do próprio Hitler. Kurlander também analisa em que medida essa fixação pelo além e a negação da ciência tradicional – tão associada aos judeus – contribuíram para o fracasso alemão na Segunda Guerra.
Uma visão pálida das colinas
Autor: Kazuo Ishiguro
Tradução: Jorio Dauster
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 200
O primeiro romance do Nobel britânico de origem nipônica e expressão inglesa, recém-traduzido ao português, é protagonizado por mulheres japonesas em uma Nagasaki que acaba de ser reconstruída e ocupada pelos EUA após a destruição imposta pela bomba. Uma narrativa instigante sobre a influência da História (com o peso do H maiúsculo) nas pequenas histórias familiares – e o encontro entre as culturas oriental e ocidental – amarrada por uma aparição misteriosa.