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4,6 bilhões de anos em 280 páginas: o relato da vida na Terra numa sentada

Paleontólogo inglês Henry Gee conta uma história instrutiva, célere e ao mesmo tempo saborosa, cheia de criaturas e aprendizados fascinantes

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 18 jul 2024, 16h31

De um grupo de moléculas se encontrando em meio a um tumulto físico e químico até a nossa espécie caminhando (e interferindo) no planeta. Quem acompanha a trajetória narrada por Uma História (Muito) Curta da Vida na Terra, recém-publicado pela Fósforo, pode ficar com a ilusão de que o tempo passa depressa, demasiado depressa. Mas a proeza do autor, o paleontólogo Henry Gee, é justamente botar para acelerar o relógio evolutivo, condensando mais de 4 bilhões de anos em 12 capítulos e menos de 300 páginas (com as referências bibliográficas incluídas).

Editor experiente da revista Nature, o cientista britânico se propôs a fazer um resumo da ópera biológica. E, com prosa didática e saborosa, ele nos apresenta a vida, nua e crua, com seus percursos, facetas e roupagens as mais diversas. Desde os primórdios. Até o ser humano precipitando um aquecimento global.

No miolo, encontraremos criaturas estranhas (para nós, claro), catástrofes ambientais, ciclos geológicos e climáticos que se abrem e fecham… E a origem, o desenvolvimento, a extinção e o renascer das espécies. A história da vida não se resume a uma sopa primordial, dinossauros devorando uns aos outros e hominídeos se arvorando o papel de donos do mundo. Gee preenche as lacunas que o senso comum nos legou.

Uma história (muito) curta da vida na Terra

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(É daqueles textos que, pela fluência e ausência de cientifiquês, podemos devorar numa sentada – ou ler entre as paradas de ônibus, quando o trabalho dá uma trégua, se os filhos permitirem…)

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O autor inclusive coloca nossa espécie em seu devido lugar no extenso e incapturável panorama da evolução. “Qual será o legado humano? Quando comparado ao período da vida na Terra, nenhum”, provoca. Com a palavra, Henry Gee.

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O paleontólogo e editor da Nature Henry Gee (Foto: John Gilbey/Reprodução)

 

Entre tantas formas de vida que você descreve no livro, qual criatura mais o impressiona?

Há tantas! É difícil escolher. Mas, quando penso a respeito, sempre me vem uma criatura à cabeça. É como se ela estivesse tentando chegar à superfície dos meus pensamentos, tirando todas as outras do caminho. Essa criatura é o Lystrosaurus. Ele foi um primo muito distante dos mamíferos modernos, com aproximadamente o mesmo tamanho e o formato de um porco.

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Era muito feio: tinha o tipo de rosto que só uma mãe poderia amar, com um bico córneo e duas presas assustadoras. Mas foi uma das poucas criaturas que sobreviveu ao imenso evento de extinção no final do Período Permiano, há 250 milhões de anos. No período seguinte, o Triássico, o Lystrosaurus era bastante comum. Ia para todo lado e comia qualquer coisa. Um verdadeiro sobrevivente.

Lystrosaurus
Recriação gráfica de um Lystrosaurus (Ilustração: Wikimedia Commons/Reprodução)

Qual seria o maior mistério sobre a origem e a evolução da vida na Terra?

O fato de a vida existir já é incrível. Mas o que mais me surpreende é a rapidez com que ela apareceu. O Sol, a Terra e o restante dos planetas nasceram há cerca de 4,6 bilhões de anos. E temos evidências da existência de vida de aproximadamente 4,1 bilhões de anos. Isso significa que a vida em si deve ter surgido antes disso. Suspeito que ela seja uma daquelas coisas normais em qualquer planeta parecido com a Terra.

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Conhecemos agora mais de 5 000 planetas em outras partes do Universo, e esse número aumenta a cada dia. Nem todos são como a Terra. No entanto, penso que o aparecimento precoce da vida na Terra significa que a vida é algo muito comum no Universo.

Até que ponto o aquecimento global que vivenciamos poderá moldar a existência e as formas da vida no nosso planeta?

A Terra teve muitas faces durante a sua longa história. Tudo começou como uma bola de lava derretida. Em vários momentos ela esteve completamente coberta de água. Ou com mantos de gelo de polo a polo. Ou virou uma selva tropical. Foi atingida por asteroides vindos do espaço. Violentos terremotos remodelaram o solo e o mar. E as erupções vulcânicas cobriram continentes inteiros com lava derretida, expelindo gases venenosos na atmosfera.

Em todas essas fases, a vida adaptou-se às novas circunstâncias. Da mesma forma, a vida está se adaptando ao aquecimento global. Muitas espécies estão migrando para novos hábitats. Algumas espécies estão desaparecendo, enquanto outras evoluindo rapidamente. A questão para os humanos não é se a Terra sobreviverá, mas se seremos capazes de nos adaptar ao aquecimento global causado pelas nossas atividades ao longo dos últimos séculos.

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