
Em 13 de novembro se comemora o Dia Mundial da Gentileza. Aposto que você não sabia disso — o que só confirma como a homenageada não está com tanto moral assim ultimamente. Parece estranho falar de gentileza às vésperas das eleições, momento que tende a exacerbar a polarização e o radicalismo. Mas exatamente por isso o assunto é mais pertinente do que nunca.
A ideia de consagrar um dia do ano à gentileza surgiu em 1996, quando o Movimento das Pequenas Gentilezas realizou uma conferência em Tóquio, no Japão. Quatro anos depois, surgiu o Movimento Mundial pela Gentileza, e o 13 de novembro passou a ser celebrado em diversos países, incentivando ações de amabilidade. Se neste ano ele cai numa sexta-feira 13, o azar é da descortesia.
Mas o que exatamente é gentileza? É difícil definir, mas uma coisa é certa: gentileza tem a ver com empatia, isto é, com a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa. É impossível ser gentil sem esse exercício inconsciente de imaginar o que faria o outro se sentir melhor. A discussão trata, portanto, do tipo de sociedade que queremos — mais acolhedora, mais solidária, mais justa.
Falando assim parece um problema complexo. Mas, como sempre, tudo começa com pequenas ações: um elogio entusiasmado, um sincero pedido de desculpas, um presente fora de hora, uma ajuda sem querer nada em troca, uma mensagem carinhosa. O importante é não deixar para depois, pois a gentileza precisa virar um hábito — ainda mais nos dias de hoje.
“Praticar a bondade faz nosso corpo liberar substâncias ligadas à sensação de prazer”
As redes sociais permitiram um grau de anonimato impossível até poucas décadas atrás, tornando muito mais fácil humilhar, ofender e caluniar. Não por acaso, problemas como o cyberbullying cresceram exponencialmente, com sequelas psicológicas terríveis para a autoestima de crianças e adolescentes. Isso sem contar o grau de agressividade que as discussões políticas vêm ganhando no ambiente virtual. Infelizmente, o hábito da gentileza está em falta nas redes sociais.
Como melhorar esse cenário? Talvez caiba lembrar a frase mais célebre do saudoso Profeta Gentileza, figura folclórica do centro do Rio de Janeiro: “Gentileza gera gentileza”. Você pode até não conhecer o Profeta, mas com certeza já viu uma placa, pôster ou grafite com esse lema. A mensagem, agora parte do nosso repertório cultural, apresenta de forma simples e direta essa espécie de “lei do retorno” que atua em nossa vida quando decidimos impactar positivamente nossas famílias e comunidades.
Mas o que isso tudo tem a ver com bem-estar? Mais do que você imagina.
Pesquisadores ao redor do mundo não cansam de atestar os efeitos benéficos que a gentileza traz para nossa saúde física e mental. Praticar a bondade faz nosso corpo liberar substâncias ligadas à sensação de prazer (como a serotonina) que, por sua vez, podem reduzir o stress, ajudar a controlar a pressão sanguínea, melhorar nosso sistema imunológico. Resumindo, praticar a gentileza traz longevidade e qualidade de vida. Do ponto de vista psicológico, ela ajuda também a construir relacionamentos mais saudáveis e a tornar nossa vida profissional mais produtiva.
Ser gentil, portanto, não é só cuidar dos outros, mas também de si mesmo.
Publicado em VEJA de 18 de novembro de 2020, edição nº 2713