
Como você estará em cinco anos? Cara Lucilia de 2030, como vai? Imagino que bem, pois estou tomando bastante cuidado com minha saúde, que, afinal, também é a sua. Espero que você continue se alimentando adequadamente, praticando exercícios e pesquisando muito sobre a área da saúde e do bem-estar. A carreira tem me levado a diferentes lugares. Viajo, participo de palestras e de conselhos, mas sempre de olho no equilíbrio. E não só no nosso: também no de quem me lê toda semana. Espero muito que você continue o trabalho, que tanta satisfação me dá, de escrever esses textos. Aliás, eles são um pouco como esta carta. Quis mandar esta mensagem inspirada por uma coluna do The New York Times. A autora falava sobre um projeto a respeito do qual uma leitora lhe contou e em que as pessoas escreviam para o seu eu de dali a cinco anos. A idealizadora da iniciativa recebia as cartas e, passado aquele tempo, mandava de volta para os participantes.
Adorei a ideia, em especial porque deixa bem claro como não só a gente, mas o mundo ao redor, muda ao longo do tempo. Conforme a vida avança e ganha um ritmo diferente, cinco anos podem não parecer muito. Mas o empenho de pôr no papel os principais temas da nossa realidade imediata, registrando aspirações, inquietações e o contexto em que vivemos, pode nos mostrar que essa percepção é enganosa. A ideia do projeto lembra um pouco as cápsulas do tempo, como as que os astronautas mandam para o espaço, ou as que se enterram por aí para que algum desconhecido encontre, numa arqueologia calculada. São todas amostras de uma época, assim como as cartas que mandávamos em outros tempos.
“Você se lembra de como era quando escrevíamos para amigos ou parentes em outras cidades?”
Você se lembra de como era quando escrevíamos para amigos ou parentes em outras cidades? Cada envelope trazia um arrepio de emoção. Uma carta exigia dedicação. A gente se concentrava em descrever os ambientes, as histórias de família, os medos e anseios. Entre a mensagem ser enviada e chegar ao seu destino, tudo já tinha mudado. Os e-mails tiveram função parecida. Mas, com o avanço das redes sociais e das mensagens instantâneas, falamos o tempo todo uns com os outros, de qualquer lugar do mundo. Nem sempre por escrito. Mandamos muito áudio. Na verdade, como aqui em 2025 andamos muito corridos, não são poucos os que respondem só com emojis.
Se pensarmos na velocidade das mudanças, cinco anos dão para muita coisa. Você se lembra do nosso maravilhamento quando a inteligência artificial se tornou uma ferramenta ao alcance de todos? Era 2022, e para mim foi outro dia. Hoje ela se tornou comum. Há cinco anos, também não se pensava ser possível combater a obesidade com “canetas emagrecedoras”. Bom, elas ainda não são muito acessíveis. Será que ficaram? Aliás, será que ainda são “canetas”? Como você sabe, sou uma entusiasta das inovações, essas e outras. Posso até soar nostálgica ao insistir nesta correspondência, mas é só porque acredito no valor de compartilhar conhecimento por meio da escrita. Estou certa de que esse entusiasmo permanece em você e desejo que, nesses cinco anos que nos separam, tenham surgido muitos avanços e realizações a comemorar. Vou terminando por aqui. Espero que esta carta a encontre bem e que, daqui a outros cinco anos, você tenha muitas maravilhas para contar à Lucilia e aos leitores de 2035.
Publicado em VEJA de 8 de agosto de 2025, edição nº 2956