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Overbooking pessoal

Chega dezembro e, com ele, a agenda cheia

Por Lucilia Diniz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 nov 2024, 12h43 - Publicado em 29 nov 2024, 06h00

Dezembro está aí, batendo à porta, e com ele, infalível como as luzes piscantes pela cidade e os Papais Noéis nos shop­pings, chega aquela longa lista de encontros sociais e familiares. Se, por um lado, eles nos alegram a alma, a ânsia por atendê-los cobra seu preço em estresse.

É bem provável que já há algumas semanas a sua agenda tenha mais compromissos do que o habitual. Tudo o que não fizemos nos outros onze meses, tentamos realizar com uma urgência que transforma esse período em uma maratona emocional.

Mas será que faz sentido? Algo nos leva a ver dezembro como um mês diferente dos demais. Racionalmente, porém, ele é como os outros. Humanos, no entanto, são dados a rituais, e a ideia de que um ciclo tem de acabar para que o novo venha é muito forte. O que não está dito é que ele tenha de começar ao mesmo tempo para todas as pessoas.

Penso na famosa frase do filósofo chinês Lao-tsé: “A natureza não se apressa, e ainda assim tudo é realizado”. Ela nos lembra de que o tempo todo a vida está recomeçando. Não hoje, nem amanhã, nem daqui a um mês, mas todos os dias.

Voando de compromisso em compromisso, podemos até tirar as metas do papel, mas a que custo? Para ficar numa imagem que também tem muito a ver com um clássico dos fins de ano, vivemos em dezembro um verdadeiro “over­booking pessoal”.

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Quem já esteve na fila de um voo com superlotação entende a analogia. É como se cada quadradinho do calendário ou página da agenda fosse um assento que tivesse de acomodar não os afazeres de um dia, mas os de dois ou três.

A frustração de sentir que as coisas simplesmente não cabem no tempo disponível é semelhante ao sentimento do viajante quando, na hora do embarque, descobre que ficará em terra. A diferença é que não há uma companhia aérea para culpar.

“A ânsia por ‘aproveitar’ o que restou do ano é um dos componentes que nos impelem a essa agitação”

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Ironicamente, muitos desses compromissos deveriam ser momentos de celebração. Mas, ao se tornarem obrigações numa agenda saturada, reuniões festivas facilmente podem ter seu brilho apagado.

Às vezes nos esquecemos de buscar a felicidade e o prazer num dia qualquer. A ânsia por “aproveitar” o que restou do ano é um dos componentes que nos impelem a essa agitação. Mas, se olharmos para cada dia como uma oportunidade de louvar o encontro com o outro, teremos felicidade ao longo do calendário.

Um jantar despretensioso, uma conversa em casa sem hora para acabar ou uma tarde de “ócio produtivo” com um bom livro podem fazer mais por nosso bem-estar do que uma sequência infindável de eventos que pretendem ser especiais.

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Por isso, ao olhar para o mês que se inicia, pergunte-se o que realmente importa. Onde você encontrará alegria genuína ou alívio para o estresse? Do meu ponto de vista, é fácil responder: uma rotina equilibrada, com tempo para exercício, alimentação regrada e pequenos prazeres ao lado de quem se ama são a chave da felicidade.

Por fim, saiba também ver a beleza particular deste mês. Arrumar a árvore pensando que na véspera do Natal teremos a família ali reunida; abrir a porta e o coração para o Papai Noel sob o olhar encantado dos pequenos. Tudo isso compensa a correria.

Que neste dezembro possamos viver plenamente esses momentos e, assim, receber o ano novo presentes — e não exaustos.

Publicado em VEJA de 29 de novembro de 2024, edição nº 2921

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