
Do lado de fora do quarto onde escrevo esta coluna, uma imensa massa verde se descortina. Não, não estou em nenhum hotel de selva ou de campo. Basta dizer que, a menos de 500 metros dessa vista, se estende uma avenida de oito pistas. Onde mais tal contraste poderia se dar senão em Nova York? De um lado Central Park, do outro Park Avenue. Um pujante centro financeiro e, ao mesmo tempo, uma capital das artes. Ano após ano, volto à cidade para algum evento — a bem da verdade sempre são alguns, seguindo o ritmo intenso pelo qual é conhecida esta metrópole. Neste mês de maio, ao lado de Luiz, meu marido, cumpro uma agenda de eventos diversos, cobrindo da reflexão econômica à música.
Entre nossos compromissos, estava o Fórum VEJA Brazil Insights, um palco privilegiado, pensado para que empresários, governadores, ministros e líderes do mercado e da sociedade analisassem o momento do país no cenário global. Um encontro rico, guiado pela confiança no Brasil, pela crença de que o país tem vigor para atrair investimentos e vencer seus desafios. Um espaço para refletir sobre relações e parcerias que valorizem o que temos de melhor, em termos de inteligência e inovação.
Falando no que o Brasil tem de melhor, participamos com emoção e orgulho de outro compromisso especial: a despedida de João Carlos Martins dos palcos. No Carnegie Hall, templo da música, vimos não só a celebração artística de uma carreira notável, mas também um impressionante encontro de personalidades brasileiras. Empresários influentes, representantes do Judiciário e formadores de opinião se reuniram em torno da capacidade magnética do maestro, dono de um talento extraordinário, de enorme carisma e peso cultural. Ao som de Bach e das Bachianas Brasileiras, de Villa-Lobos, nos deixamos levar pela graça e pela comoção desse momento.
“Comoção com o papa americano? O nova-iorquino sabe que logo outra grande novidade virá”
A vocação de Nova York para a diversidade é o que permite, em poucos passos, ir da natureza ao asfalto, do concreto à arte. Se me lanço ao difícil exercício de tentar dizer algo novo sobre esta cidade, é porque, mesmo em meio àquilo que julgamos conhecer, sempre podemos ser surpreendidos. Foi o que aconteceu na semana passada, quando descíamos a pé a Quinta Avenida. Nas calçadas, tudo seguia a agitação normal. Eis que, bem quando passávamos em frente à Catedral de São Patrício, escutamos os sinos. Não era hora de missa, não era dia santo. O que o repique sonoro anunciava era a eleição do papa. Enquanto isso, porém, bicicletas, carros e os infalíveis táxis amarelos passavam, indiferentes.
Um casal mais curioso nos perguntou se sabíamos o que era. Porém, nem quando mostramos a foto do novo pontífice americano, esboçaram comoção. É que o nova-iorquino sabe que logo outra grande novidade virá. E segue em frente. Afinal, como se costuma dizer, é uma cidade que nunca dorme. Há sempre algo acontecendo entre uma esquina e outra.
Chamam Nova York de Big Apple. Acho que, de todos, é o clichê que mais lhe faz jus. Se ninguém se decepciona ao dar sua mordida na maçã, é porque, como num passe de mágica, ela tem o sabor da variedade que mais agradar — e olha que nos Estados Unidos há mais de 2 500 variedades dessa fruta. Sempre a mesma, nunca igual.
Publicado em VEJA de 16 de maio de 2025, edição nº 2944