Não se sabe ao certo quando, onde e como a data entrou para o calendário. Mesmo nas minhas buscas não consegui achar uma explicação que aplacasse por completo minha curiosidade. Mas 10 de setembro é Dia do Gordo, e o que eu pude descobrir foi que a data comemorativa ganhou impulso perto de nós, pelas mãos de um grupo de ativistas de Salvador, que conferiram à celebração contornos de luta contra a gordofobia.
Se você acha que comemorar o Dia do Gordo neste espaço contraria minha defesa da vida saudável e do combate à obesidade, faço um convite para que reconsidere. Por trás dessa conclusão apressada, talvez haja um tanto do sentimento que a data visa destruir. Não faço aqui apologia dos quilos a mais. Mas, sim, proponho refletir sobre como fazer piada não ajuda quem luta contra eles – ao contrário.
Tanto a obesidade quanto seu enfrentamento são complexos, e isso eu vi bem de perto. Não foram poucas as vezes em que, nos meus anos de obesa, me senti à margem. Minha reação foi ser não só a mais gorda, mas a mais simpática, a mais presente, a mais afetuosa, em todas as ocasiões. O sobrepeso foi embora, ficaram as habilidades sociais.
Naquela época, em que o olhar para a questão era muito diferente, essas habilidades eram um traço ao qual muitos gordos se aferravam como antídoto à falta de acolhimento. Lembro o exemplo do saudoso Jô Soares. Ao abraçar sua condição física, rindo ele mesmo de si, antes de dar esse gosto aos outros, construiu uma carreira fantástica. Mostrou que sua inteligência, seu carisma e seu humor eram maiores que o seu corpo.
Claro que nem todo obeso tem como seguir esse caminho. E hoje sabemos que a gordofobia afeta não só a saúde mental, mas também a física, daqueles que lutam para emagrecer. Pois a vergonha e o isolamento não ajudam no dia a dia nem mesmo na hora de procurar atendimento médico. Quantas histórias não conhecemos de pessoas que, procurando apoio, encontraram incompreensão?
Quando falamos em Dia do Gordo, ou Dia do Combate à Gordofobia, estamos em busca de encontrar o justo equilíbrio entre a aceitação do corpo e o cuidado e atenção necessários para abordar questões de saúde relacionadas ao sobrepeso. Trata-se, em resumo, de ir em direção a uma sociedade mais inclusiva e empática.
A nutrição consciente, sem excessos que fazem mal e sem restrições punitivas, e a atividade física desempenhada de acordo com a capacidade e o momento de cada um, mas de forma constante, são aliados de todos, independentemente da silhueta.
Existem pessoas acima do peso com diferentes constituições físicas. Nem todas têm problemas de saúde. Nem todas querem ou podem ser magras como a modelo na capa da revista. Todas, porém, têm direito a buscar seu bem-estar sem passarem constrangimento.