Tem dias que a gente acorda com certa irritação que parece inexplicável. Acontece comigo. Não com frequência, mas acontece. Imagino que seja um fenômeno comum, faz parte da nossa natureza. É um estado de espírito que, se não combatido a tempo, pode arruinar o dia. Qualquer pequeno contratempo ganha dimensões de grande problema. Nessas horas, o que fazer?
O primeiro passo é tentar entender o que está acontecendo. Não adianta acionar o velho conhecido mecanismo de autodefesa e atribuir a culpa a fatores externos. O mau tempo, por exemplo, costuma ser um eterno candidato ao posto de vilão. Afinal, com chuva, frio e vento, não dá vontade de se arrumar para sair. Outros suspeitos de sempre são uma resposta atravessada, o barulho da cidade, os atrasos dos outros em compromissos ou consultas. Enfim, qualquer coisa sobre as quais não temos poder de interferência.
Ocorre que a origem da nossa irritação em geral se encontra em algum compartimento dentro de nós. Se a má notícia é que somos responsáveis pela nossa raiva temporária do mundo, a boa notícia é que a solução está ao nosso alcance. Para evitar a irritação desnecessária precisamos começar praticando o autoconhecimento. Não estou pensando em Sócrates nem dos gregos antigos. “Conhece a ti mesmo” é um aforisma clássico, mas que serve mais como ponto de partida para a reflexão sobre as grandes questões da humanidade. O que tenho em mente carrega uma dimensão mais prática da vida.
Acho muito útil, naqueles dias entortados pelo mau humor, identificarmos o que nos tirou do sério. As fontes de estresse podem ser muitas. Uma noite mal dormida, uma atividade física inadequada, talvez álcool em excesso, ou algo que comemos e não caiu bem. Pode ser também a lembrança de uma conversa difícil, que mexe com a nossa cabeça, ou uma sandália apertada que nos incomoda o pé. De um extremo ao outro, autoconhecimento é saber o que nos faz mal. É saber o que devemos deixar de lado.
Uma maneira de nos entendermos melhor é prestando atenção nos outros. Não para julgar ninguém, mas para termos uma espécie de espelho da nossa alma. Como disse Jung, “tudo o que nos irrita nos outros pode nos levar a uma melhor compreensão de nós mesmos”.
Observar aquilo que nos faz mal, porém, é só metade do autoconhecimento. A outra metade, igualmente importante, é notar aquilo que nos faz bem. Quanto a mim, sei que uma caminhada revigorante pela natureza me é benéfica, da mesma maneira que o convívio com pessoas queridas, o tempo necessário para desenvolver minhas receitas e, claro, uma alimentação equilibrada. Tudo isso requer atenção, foco no que é essencial para cada um de nós.
O proveito maior em geral se revela nos detalhes. Não basta comer de maneira saudável, é preciso saber escolher os alimentos de acordo com suas propriedades. Não basta fazer caminhadas por uma trilha qualquer, é preciso eleger um percurso que nos diga algo. São pequenas descobertas como essas que aos poucos nos abrem as portas do autoconhecimento e permitem que façamos as pazes conosco.