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Claudio Lottenberg

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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Um ótimo dia para deixar de fumar: o Dia Mundial Sem Tabaco

O hábito do tabagismo, nocivo como já em qualquer tempo, torna-se ainda mais perigoso agora, em que o mundo se encontra assolado pela pandemia de Covid-19

Por Claudio Lottenberg
31 Maio 2021, 17h57

A OMS (Organização Mundial da Saúde) celebra nesta segunda-feira, 31 de maio, o Dia Mundial Sem Tabaco, uma campanha para estimular as pessoas a deixarem de fumar por ao menos 24 horas. O hábito do tabagismo, nocivo como já em qualquer tempo, torna-se ainda mais perigoso agora, em que o mundo se encontra assolado pela pandemia de Covid-19. Isso porque, como vimos ao longo de mais de um ano de pandemia, a Covid-19 ataca de forma brutal os pulmões – os mesmo órgãos que são igualmente castigados pelo hábito de fumar.

Verifica-se no combate diário ao coronavírus que pacientes com doenças pulmonares como bronquite crônica e enfisema pulmonar – duas doenças bastante agravadas pelo tabagismo – desenvolverão quadros mais graves de Covid-19. Além disso, um estudo publicado no último dia 25 pelo periódico especializado Clinical Epidemiology mostrou que a associação entre tabagismo, Covid-19 e óbito subsequente varia com a idade: fumantes com menos de 69 anos apresentaram maior risco de infecção pela doença: uma vez infectados, os fumantes mais velhos tinham duas vezes mais chances de morrer que os nunca fumantes, “possivelmente mediado pelo aumento do risco de doenças ou condições crônicas”.

Fazer uma lista que comece pelos benefícios trazidos pelo consumo de tabaco é bastante fácil: não há nenhum. Só o que há de benéfico em relação ao cigarro é abandoná-lo. Não há uma quantidade mínima que se possa consumir sem prejudicar a saúde, ao contrário do argumento de alguns fumantes, que dizem só fumar aos fins de semana, ou uns poucos por dia. A quantidade segura para o consumo de cigarros é zero.

Já a lista dos malefícios – bom, essa já seria (bem) mais longa. Para não arrolar aqui uma lista, podemos lembrar daqueles mais graves, sempre lembrados: o câncer de pulmão, por exemplo, que tem no tabagismo uma de suas principais causas. Não aflige só os fumantes, mas também os fumantes passivos. Segundo dados da OMS, o cigarro é o elemento principal em mais de dois terços das mortes por câncer de pulmão no mundo. No caso das doenças respiratórias crônicas de que se falou acima, o risco maior fica entre os que começam a fumar muito jovens – o que retarda de forma significativa o desenvolvimento pulmonar. Para quem tem asma, fumar só faz piorar e muito a condição – chega a ser espantoso que alguém com asma mantenha esse hábito. Gestantes que fumam expõem os bebês à fumaça do tabaco – o que com frequência retarda o crescimento e o desenvolvimento da função pulmonar. A tuberculose, que já danifica gravemente os pulmões, é turbinada pela ação simultânea do tabaco. Os olhos não escapam: fumar pode causar desde alterações da superfície ocular e alergias até DMRI (Doença Macular Relacionada à Idade), glaucoma e catarata.

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O custo do tabagismo para os cofres públicos, por sua vez, é considerável. De acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer), uma publicação recente do Iecs (Instituto de Efetividade Clínica e Sanitária, da Argentina) estimou que, em 2020, o custo direto imposto ao SUS (Sistema Único de Saúde) pelo tabagismo ficou em R$ 50,3 bilhões, e o valor perdido por causa de doença e morte prematura da população trabalhadora ativa chegou a R$ 42,4 bilhões. O que o governo arrecada com os impostos incidentes sobre o tabaco cobre apenas 10% das perdas ligadas ao tabagismo, diz o instituto argentino.

A data foi instituída em 1987 para ser lembrada em 7 de abril 1988, com ações que foram do quase protocolar (a Etiópia proibiu fumar em locais públicos) ao lúdico (a Espanha promoveu um concursos de pôsteres contra o tabagismo) e até ao mais assertivo (no Nepal houve cerimônias públicas de queima de cigarros). Em 1988, a data foi transferida para 31 de maio, e é neste dia que é lembrada até hoje. O Brasil tem tido relativo sucesso na campanha para reduzir o consumo de tabaco: dados da OMS mostram que aprevalência de tabagismo em adultos diminuiu de 35% em 1989 para 18,5% em 2008 e daí para 14,7% em 2013, e entre adultos nas capitais, diminuiu de 15,6% em 2007 para 10,1% em 2017.

Num momento em que a saúde passou ao topo da pauta do mundo todo, o momento não poderia ser melhor para começar por algo que está ao alcance. Parar de fumar sempre será uma boa decisão, seja qual for o momento em que seja tomada. Se você fuma, pare hoje.

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