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Claudio Lottenberg

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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein

Treinar a mente para mantê-la afiada

Fortalecer conexões neuronais retarda o aparecimento ou evolução de demência

Por Claudio Lottenberg
Atualizado em 14 Maio 2024, 00h28 - Publicado em 4 jul 2023, 18h09

A experiência de encontrar uma pessoa muito querida, a quem talvez não víssemos há um bom tempo, é comum a muitas pessoas – e costuma ser um momento de intenso prazer. Lembranças de momentos felizes vividos, mesmo de eventuais dores sofridas em conjunto, tudo isso é bastante intenso, e está radicado profundamente na memória. E a ideia de perder contato com essas lembranças gera pavor em qualquer um de nós.

Pois a demência – a perda, gradual e irreversível, de nossas capacidades de memória, de linguagem, de raciocinar – já aflige cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil, e esse número pode mesmo triplicar até 2050. De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 70% das pessoas com demência sequer estão diagnosticadas. São muitas as doenças neurodegenerativas reunidas sob o termo demência: doença de Alzheimer; doença de Huntington; esclerose lateral amiotrófica; esclerose múltipla; demências parkinsonianas, entre outras.

A demência não tem cura, e este é um dos seus aspectos mais graves. Mas medicamentos e tratamentos conseguem adiar a chegada da doença e garantir qualidade de vida. E já existe também a reabilitação cognitiva – o treinamento da mente, por assim dizer. Há uma experiência fascinante que foi realizada em Liverpool (no Reino Unido), com pacientes acometidos de demência. A terapeuta leu para eles um poema de Henry Charles Beeching (1859-1919) sobre passear de bicicleta, e em seguida perguntou a um deles se já teve uma. E o paciente se lembrou de que ia pedalando ao trabalho. Um outro poema fez outra pessoa – que mal conseguia falar, acometida de demência severa – se lembrar de que um avô tinha um papagaio. A história é emocionante, e foi contada em reportagem do jornal inglês The Guardian em 2018.

O texto diz ainda que foram tentados textos em prosa, sem sucesso. A poesia, no entanto, fez diversas pessoas com demência se engajarem na leitura conjunta, e fez lembranças, consideradas perdidas, retornarem. Para o diretor do Centro de Pesquisa em Leitura, Literatura e Sociedade da Universidade de Liverpool, Philip Davies, o ritmo, a força e a concisão da poesia ajudaram no resultado.

No Brasil já existem hospitais e centros que oferecem formas de treinamento e reforços cognitivos para que a chegada da doença seja adiada por alguns anos. O Nemo (Núcleo de Excelência em Memória), do Hospital Albert Einstein, é um desses centros, em que se desenvolve um trabalho de diagnóstico, tratamento e reabilitação cognitiva de pacientes que sintam preocupações quanto à memória.

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O filme “Para Sempre Alice” (2014) conta a história de uma acadêmica que é diagnosticada com Alzheimer. Com a licença do spoiler, o primeiro sinal de que algo não vai bem na mente daquela mulher brilhante o espectador percebe logo no início, na palestra que ela vai dar sobre seu livro. O lapso na fala, a palavra que escapa, aquele “branco” que dá no meio do discurso que não dá para disfarçar. Manter a mente ativa certamente é positivo – leitura, novas tarefas e outras iniciativas podem ajudar, além de manter hábitos saudáveis, como evitar o sedentarismo, manter uma boa alimentação, horas suficientes de sono.

Infelizmente, como já dito, não há cura. Mas não há motivo para evitar o engajamento em atividades e hábitos que ajudem a preservar o bom funcionamento da mente. Quem procura orientação para manter uma boa saúde física vai encontrar, em praticamente qualquer fonte que consultar, um conjunto de recomendações muito parecido: descanso, alimentação saudável, atividade física, hábitos saudáveis. Não haveria de ser diferente justo com o cuidado com a saúde mental.

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