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Claudio Lottenberg

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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Ter um propósito de vida melhora a saúde e o bem-estar

Estudos revelam que pessoas com propósito são mais resilientes e vivem mais tempo e de forma saudável

Por Claudio Lottenberg
Atualizado em 24 ago 2020, 18h37 - Publicado em 24 ago 2020, 18h37

A questão do envelhecimento no Brasil tem perspectiva dramática. De acordo com o Banco Mundial, a população com mais de 65 anos deverá dobrar nos próximos 20. Se o problema do financiamento já é complexo nos dias de hoje, imaginemos o que poderá acontecer caso sejam mantidas as mesmas condições, sem modelos preditivos e sem o uso de inteligência artificial; tão fundamentais para minimizar os efeitos individuais e coletivos? E mais do que isto: por que não entender as oportunidades de melhorias que se fazem necessárias nas questões da qualidade de vida e, em particular, na perspectiva do envelhecimento?

Pessoas que têm forte senso de propósito tendem a ser mais resilientes e apresentam melhor recuperação de eventos negativos. De fato, as pesquisas conduzidas durante a pandemia revelaram que, ao comparar pessoas que dizem estar “vivendo seu propósito” no trabalho, com aquelas que dizem o contrário, os primeiros relatam níveis de bem-estar cinco vezes maiores do que o outro grupo. Além disso, aqueles no primeiro grupo também são quatro vezes mais propensos a relatar níveis mais altos de engajamento.

Pessoas com propósito vivem mais tempo e de forma saudável. Um estudo longitudinal descobriu que um único aumento de desvio padrão no propósito diminuiu o risco de morte na década seguinte em 15 %– uma descoberta que se manteve independentemente da idade em que as pessoas identificaram o seu propósito. Da mesma forma, o projeto Rush Memory and Aging, que começou em 1997, descobriu que, ao comparar pacientes que dizem ter um senso de propósito, com aqueles que dizem o contrário, os primeiros têm 2,5 vezes mais probabilidade de estar livre de demência, 22% menos probabilidade de apresentar fatores de risco para AVC, e 52% menos probabilidade de ter sofrido um derrame. E como se isso não bastasse, o propósito individual beneficia as organizações também.

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O propósito pode ser um contribuidor importante para a experiência do funcionário, que por sua vez está ligado a níveis mais altos de engajamento, compromisso organizacional mais forte, e maior sensação de bem-estar. Pessoas que consideram o seu propósito individual congruente com o seu trabalho tendem a obter mais significado de suas funções — tornando-as mais produtivas e com maior probabilidade de superar os colegas.

Em pesquisa recente, verifica-se a correlação positiva entre a determinação dos funcionários e a margem EBITDA de sua empresa.

Nas últimas três décadas, ter um propósito de vida emergiu como uma questão importante na pesquisa médica, especialmente no contexto de uma população em envelhecimento. Em estudo da Universidade da Califórnia descobriu-se que a busca e o encontro de propósito de vida são importantes para a saúde e o bem-estar. Muitos olham o propósito de vida sob uma perspectiva filosófica, mas visto de um sentido mais amplo, ele “está associado à melhor saúde e bem-estar, e, talvez, à longevidade”, diz Dilip V. Jeste, MD, reitor do Center of Healthy Aging e professor de neurociência da Faculdade de Medicina da UC San Diego.

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O estudo, publicado no Journal of Clinical Psychiatry (Revista de Psiquiatria), descobriu que encontrar propósito na vida está associado ao melhor bem-estar físico e mental, enquanto que somente sua busca pode estar associada a uma fase de mal-estar e mau funcionamento cognitivo; já que “quando se encontra propósito na vida há mais contentamento, enquanto que a procura sem sucesso leva a pessoa a um estado de mais estresse”.

Os resultados também mostraram que o propósito de vida pode ser representado graficamente como um U invertido, enquanto que a busca por este propósito mostra uma representação em forma de U. Os pesquisadores descobriram que aos 60 anos a presença do propósito de vida atinge o pico, e a busca está no seu ponto mais baixo.

O propósito de vida trata-se de um planejamento a longo prazo para a realização de coisas grandes. Grandes não em tamanho, mas na forma como impacta a nós mesmos e o ambiente onde estamos.

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Nem sempre o raciocínio que não é cartesiano é de simples absorção por parte da comunidade científica. Muito pelo contrário: ela tende a ser mais cartesiana que quântica — por mais que a última tinha demonstrado o seu valor. Portanto, nem tudo que se vê pode ser explicado, mas isto também é questão de tempo. Tristes tempos nos quais é mais fácil quebrar um átomo que quebrar um preconceito, como diria Albert Einstein.

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