Setor privado terá reconhecimento por testagem contra Covid-19
No momento em que se ensaia a retomada da atividade econômica, a ampliação dos testes ganha ainda mais importância

A vacinação contra a Covid-19 tornou-se o principal assunto quando se fala em pandemia. Ainda que em ritmos diferentes, todos os países se engajaram no esforço de imunização. Com isso, a testagem contra a doença acabou ganhando um papel acessório nos debates a respeito do combate ao coronavírus. Isso, no entanto, é injustificável: a testagem, desde sempre fundamental, ganha ainda mais importância num momento em que se ensaiam reaberturas de locais de trabalho e uma retomada da atividade econômica.
Para impulsionar esse trabalho, o governo do Estado de São Paulo, em parceria com o ICOS (Instituto Coalizão Saúde), lançou no dia 26 de maio o portal Testagem São Paulo – uma plataforma de incentivo para ampliar a realização de testes no setor privado para detectar a doença. Trata-se de uma iniciativa de reconhecimento às empresas e organizações que contribuem para monitorar o desenvolvimento da contaminação por Covid-19 no Estado. O objetivo é estimular empresas e organizações a contribuírem com informações sobre a Covid-19 em seus ambientes de trabalho, por meio de: testagem da comunidade (funcionários, clientes e fornecedores); uso de testes registrados na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária); realização dos testes RT-PCR e sorológico por laboratórios clínicos; e notificação dos testes realizados pelos sistemas oficiais. A iniciativa é aberta à participação não só de empresas, mas também de organizações sem fins lucrativos e outras entidades privadas nas cidades paulistas.
A tecnologia dos testes também avançou. Tanto o teste RT-PCR quanto o teste de antígeno podem detectar a doença a partir do primeiro dia de sintomas. É consenso entre os especialistas que o PCR é superior na detecção do vírus – uma vez que busca material genético (e por isso é considerado como “padrão ouro”), e não apenas a proteína do vírus, como é o caso do teste de antígeno. A sensibilidade e a especificidade deste último, no entanto, ficam entre 97% e 98% (muito próximo ao próprio exame PCR), e seu resultado sai em cerca de 15 minutos, a um custo muito menor.
A testagem ganha mesmo certa urgência quando se sabe que já existem no Brasil casos da variante indiana do coronavírus. No mês passado foi confirmado um caso, em um passageiro que chegou a São Paulo vindo da Índia; dias antes, um navio vindo da Malásia aportou em São Luís (MA), com seis dos tripulantes infectados com a cepa B.1.617, originária da Índia. A OMS (Organização Mundial da Saúde) já considerou essa variante como um tipo “digno de preocupação global”.
Testar as pessoas para detectar a presença do vírus é uma medida de cunho estratégico: é com base no conhecimento de onde circulam tanto o Sars-Cov-2 como suas variações que se poderá adotar medidas para evitar que elas se alastrem. O Brasil se encontra na iminência de uma terceira onda de covid-19, e chega a esse ponto com hospitais ainda em situação de saturação – em muitas cidades, a ocupação das UTIs passa de 80% e em algumas bate os 100%, com casos de óbitos entre pessoas que aguardavam vaga. Dados recentes do SindHosp (sindicato dos hospitais, clínicas e laboratórios de São Paulo) levantados junto a hospitais privados mostram que há uma tendência de aumento de casos.
Problemas já conhecidos, como o esgotamento de insumos essenciais – os medicamentos do “kit intubação”, por exemplo –, continuam presentes, tanto na rede particular como no SUS (Sistema Único de Saúde). Também não há ainda uma ação coordenada entre os entes federativos para controlar a disseminação do coronavírus. Num cenário como este – e que na verdade continua a se transformar diariamente –, a testagem se faz indispensável. Passado mais de um ano de pandemia, estamos ainda muito atrás do que deveríamos em termos de cobertura vacinal. A vacinação com duas doses só chegou até o momento a 14,25% da população adulta, o que é pouco.
Para que a saúde dos brasileiros seja protegida contra o coronavírus, vacina e testagem são fatores determinantes – a primeira para imunizar; a segunda, para saber quais regiões do Brasil requerem mais ações para impedir a disseminação. A plataforma Testagem São Paulo é um passo adiante no trabalho de inteligência para que a doença seja controlada e a vida de todos possa voltar o quanto antes ao normal.