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Claudio Lottenberg

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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein

IA dá eficiência ao atendimento primário à saúde

A tecnologia digital ajuda a definir ações de prevenção e customizar abordagens terapêuticas

Por Claudio Lottenberg
11 dez 2024, 11h40

A medicina é uma das áreas do conhecimento que mais tem experimentado avanços com a aplicação das tecnologias ligadas à Inteligência Artificial (IA). Podemos falar, sem exagero, em revolução quando se analisa os ganhos de eficiência em diagnóstico, terapia, pesquisa, na administração hospitalar e na redução de custos que proporciona.

Segundo diversos estudos, o uso de IA para detectar precocemente doenças como o câncer, além de aumentar as chances de cura, pode reduzir os custos do tratamento em até 20%. O tempo de desenvolvimento de medicamentos acelerou sensivelmente quando impulsionado por IA: leva-se de 3 a 5 anos com a tecnologia e, sem ela, de 10 a 15 anos. A rapidez, é claro, representa uma conta até 70% menor nas despesas com pesquisa e desenvolvimento.

A IA vem sendo empregada com sucesso no monitoramento remoto e em telemedicina, reduzindo as visitas hospitalares em até 25%, o que se reverte em um ganho econômico significativo. Isso é especialmente relevante no cuidado de pacientes que sofrem com doenças crônicas e requerem acompanhamento contínuo.

Um recente relatório publicado pelo Fórum Econômico Mundial mostrando como a IA está transformando os sistemas de saúde, pinça exemplos da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, um dos mais respeitados centros de medicina no mundo. A Mayo trabalha com a tecnologia digital em diversas frentes com enorme êxito. Um deles, pelo enorme potencial, chamou a minha atenção.

Com o auxílio de IA, a Mayo estruturou um poderoso banco de dados regionalizado, e corte feito por cidades, bairros ou por setores específicos de uma metrópole, por exemplo. A ferramenta relaciona índices públicos como condições de habitação, de poluição, estatísticas de crime, acesso da população a equipamentos de saúde, entre outros números. O cruzamento dos dados fornece indicativos robustos de problemas de saúde que podem ser mais recorrentes naquela comunidade, permitindo trabalhar preventivamente, dando mais eficiência às políticas púbicas de saúde.

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Ao meu ver, essa é uma das grandes vocações da IA quando aplicada à medicina: customizar abordagens terapêuticas pensando no atendimento primário à saúde. O que é crucial, uma vez que há um crescente descompasso entre demanda e necessidade de assistência. Temos hoje 4,5 bilhões de pessoas no mundo sem acesso a serviços ou produtos médicos e três vetores principais que provocam grande impacto no ecossistema de saúde: a obesidade, o tabagismo e o sedentarismo.

O primeiro, verdadeira pandemia planetária, aumenta o risco de doenças crônicas como diabetes do tipo 2, hipertensão, males cardíacos, exigindo tratamento médico constante e prolongado. Na ponta do lápis, essa sobrecarga representa de 2% a 7% das despesas totais em saúde dos países desenvolvidos. As enfermidades relacionadas ao tabagismo respondem de 6 a 15% dos gastos de saúde em muitos países. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta ainda o sedentarismo como umas das principais causas de morte no mundo, com 5 milhões óbitos por ano.

Combinando e processando dados públicos de saúde, ambientais e sócio-econômicos, entre outros, como no exemplo da Clínica Mayo, a IA ajuda a modelar estratégias de combate a essa verdadeira tríade do mal. No Brasil, diante das carências que enfrentamos e da crescente pressão de custos que assola os serviços públicos e privados de saúde, a IA, assim como as demais tecnologias digitais, pode ter um papel central na definição das ações de prevenção, dando-lhes mais eficácia.

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