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Claudio Lottenberg

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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Filas mostram que é preciso aperfeiçoar o sistema de doação de órgãos

O país tem uma rede organizada, mas que necessita de aperfeiçoamentos e investimento

Por Claudio L Lottenberg
19 set 2024, 14h48

Há 36 anos realizo transplantes de córnea. Um orgulho da minha trajetória profissional foi ter criado um dos primeiros bancos córneos do Brasil. Por isso, recebi com preocupação o levantamento produzido pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) e divulgado no início deste mês, dando conta de que o número de pacientes na fila de espera por um transplante de córnea praticamente triplicou nos últimos dez anos: de 10.7 mil pessoas, em 2014, saltamos para 28,9 mil, em 2024. Hoje, a média de espera para a realização desse transplante é de 194 dias, pouco mais de seis meses.

Os números que me deixaram apreensivo têm muito a ver com a pandemia de covid-19, quando os hospitais suspenderam ou diminuíram drasticamente os procedimentos eletivos, provocando o inchaço da fila de espera. Com efeito, o aumento expressivo foi registrado entre 2019 e 2020, quando o crescimento da fila chegou a 30%. Mas o fenômeno tem relação com a baixa conscientização do público sobre importância da doação de órgãos e passa também por uma melhora geral na gestão do ecossistema de transplantes.

O Sistema Nacional de Transplantes (SNT), órgão do Ministério a Saúde, por meio da Coordenação-Geral do Sistema Nacional de Transplantes (CGSNT), é quem monitora a lista dos pacientes à espera de um transplante. A lista é única por Estado e respeita a ordem de inscrição, mas casos urgentes ou graves têm prioridade. Além disso, a CGSNT faz o controle do processo de captação e distribuição de órgãos, tecidos e células-tronco hematopoéticas para fins terapêuticos.

A doação de córnea só possível após o falecimento e precisa ser autorizada pela família do doador. A captação deve ocorrer entre seis e 12 horas após a parada do coração. A técnica cirúrgica para a sua retirada não deixa vestígios nem altera a aparência.

O Sistema Único de Saúde (SUS) começou a cobrir os transplantes nos anos 1990, com a criação do SNT, tornando os procedimentos acessíveis a quem deles necessita, independentemente da situação financeira. O número de cirurgias do gênero cresceu desde então. Em termos absolutos, o Brasil é o segundo maior executor de transplantes do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

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O país tem uma rede organizada, mas que necessita de aperfeiçoamentos e investimento a fim de solucionar gargalos e dar conta da demanda. Há que se resolver, por exemplo, as assimetrias. Há uma disparidade significativa na oferta e demanda de transplantes entre regiões do Brasil. Em determinadas áreas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, por exemplo, os desafios logísticos são significativos e há carência de hospitais especializados na captação dos órgãos e no transplante. Nem todos têm as condições necessárias para realizar os procedimentos, como equipes médicas especializadas e centros de captação de órgãos.

O país conta hoje com 651 equipes treinadas para realizar transplantes de córnea, distribuídas por 249 serviços habilitados. Essas equipes estão em todos Estados, mas maioria se concentra no Sul e no Sudeste. Outra demanda crucial diz respeito ao valor dos repasses do SUS para os hospitais que realizam as cirurgias. Esse financiamento, hoje subdimensionado, é determinante para o aumento a capacidade de atendimento.

Por fim, é necessário investir pesado em campanhas de conscientização para população sobre a importância da doação de órgãos, sobre como proceder para fazer a doação e como essa atitude pode transformar e salvar vidas. Infelizmente, questões que envolvem a doação, como morte encefálica, por exemplo, ainda hoje estão envoltas em mistificações e desinformação.

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