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Claudio Lottenberg

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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein
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Duas a cada três pessoas cegas no mundo são mulheres, aponta OMS

Diferenças socioeconômicas estão entre as principais razões. Cenário exige mudanças urgentes

Por Claudio Lottenberg
Atualizado em 17 mar 2023, 20h46 - Publicado em 17 mar 2023, 16h04

Comemoramos neste mês o Dia Internacional da Mulher. Uma data bastante controversa e que exige de todos nós reflexões sobre direitos e lutas feministas. Nesse contexto, a questão do acesso à saúde estará sempre na pauta – e a saúde ocular, principalmente das mulheres, mostra que há um longo caminho a percorrer.

O “Relatório Mundial sobre a Visão”, elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e publicado em 2021, expõe um quadro incômodo, para dizer o mínimo. No mundo todo, cerca de 2,2 bilhões de pessoas têm deficiência visual ou cegueira – e destas, ao menos 1 bilhão de casos poderiam ter sido evitados; por exemplo, 11,9 milhões de pessoas têm deficiência visual moderada ou grave, ou cegueira, devido a glaucoma, retinopatia diabética e tracoma (esta última, doença típica de áreas rurais pobres carentes de água tratada, saneamento básico e serviços adequados de saúde).

O acesso a procedimentos como cirurgia de catarata é dificultado por fatores socioeconômicos e culturais, também nos países mais pobres, mas algumas mulheres ainda têm de enfrentar resistências familiares para poder sair das localidades em que vivem em busca de tratamento, diz a OMS no documento.

Mas há fatores inerentes à saúde da mulher que complicam o quadro do cuidado com a visão. Alterações hormonais, para citar um caso, acarreta problemas como a ceratoconjuntivite seca: se não tratada, a doença pode levar à necrose da córnea. Falta de vitamina A também é um fator que leva ao olho seco. Mesmo a gravidez pode trazer problemas como uma miopia agravada, hipermetropia, astigmatismo e até alterações na córnea.

O diabetes é outra doença que afeta mais as mulheres – pesquisa recente do fundo filantrópico Umane mostrou que 57% dos casos de diabetes e hipertensão nas capitais brasileiras se concentram nas mulheres e, nos últimos 15 anos, a prevalência do diabetes entre elas aumentou 54%. Glaucoma, catarata e problemas na retina são conhecidas consequências do diabetes. E há o tabagismo, que, na miríade de problemas de saúde que causa estão os de visão. Parar de fumar é um bem em si.

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Vivemos em um tempo em que o mundo chega a nós principalmente pelos olhos. Já dependemos de smartphones para tarefas que, em alguns casos, já nem lembramos mais como são feitas sem eles. Sem querer estabelecer uma hierarquia dos sentidos (mas, sendo eu oftalmologista, fica subentendida uma certa preferência pela visão), os olhos precisam ser mantidos saudáveis, em bom funcionamento, para navegar pelos desafios cotidianos.

E o acesso, nunca será demais lembrar – mas, em uma realidade ideal, não seria preciso –, não pode ter restrições, condições nem dificuldades, seja em que bases forem: os cuidados de saúde têm de estar disponíveis para todos, campanhas de conscientização e prevenção, e, como vimos, para as mulheres é preciso haver uma atenção ainda maior. Se, como escreveu Marcel Proust, a verdadeira viagem não é buscar novas paisagens, mas ver tudo com novos olhos, é preciso que todos tenhamos com eles, e as mulheres principalmente, o maior cuidado.

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