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Claudio Lottenberg

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Mestre e doutor em Oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), é presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e do conselho do Hospital Albert Einstein

A necessidade de estar diante das telas

Silenciar as notificações nem sempre é a melhor solução para diminuir o tempo frente às telas. Cortar o que causa dependência pode potencializá-la

Por Claudio Lottenberg
5 jul 2022, 18h18

Estar on-line o tempo todo pode ser cansativo. Vivemos essa situação em nosso dia-a-dia: mensagens trocadas por aplicativos, ligações telefônicas, mensagens de voz, avisos de e-mail, notícias, alertas sobre os preços daquele item que pesquisamos certa vez. São apenas uns poucos exemplos do quanto o smartphone que levamos conosco invade nosso dia em momentos aleatórios. É cansativo, para dizer o mínimo. Talvez o melhor fosse desligar ou ao menos silenciar as notificações, não? Pesquisa recente da Penn State University (EUA) mostra que não.

Isso porque, se deixarmos de receber as notificações pelo telefone, passaremos a ir mais e mais vezes checar o que está acontecendo no mundo. A pesquisa da universidade norte-americana, publicada no periódico especializado “Computers in Human Behavior”, avaliou os tempo de tela de 138 usuários de iPhone. Os participantes do estudo, antes de silenciarem as notificações, checavam as mensagens recebidas em média 53 vezes ao dia. Com as notificações silenciadas, as checagens aumentaram para 98 vezes em média por dia.

Segundo o estudo, esse comportamento se verificou mais intenso em indivíduos que compartilham de dois fatores principalmente: FoMO e NtB – abreviações (em inglês) para “Medo de Ficar de Fora” (descrito pelos pesquisadores como a necessidade de coletar informações de outras pessoas) e “Necessidade de Pertencer” (uma necessidade aguda de manter relacionamentos pessoais). No caso de pessoas com o primeiro traço, as checagens subiram de 50 para 120 em média por dia. Já no caso das que exibiam o segundo traço, a reação mais perceptível às notificações silenciadas foi que elas ficavam mais tempo diante da tela a cada checagem. O professor Shyam Sundar, da Penn State, diz que o caso das notificações parece ser daqueles em que cortar aquilo que causa dependência na verdade potencializa a dependência.

Não fosse a pandemia, as descobertas da pesquisa talvez provocassem alguma inquietação, dando argumentos a quem vê nos smartphones, e nos “gadgets” móveis em geral, outro sinal de que os avanços talvez tenham ido longe demais para o próprio bem das pessoas. Mas, há pouco mais de dois anos, smartphones, laptops, tablets e outro aparelhos se tornaram as escotilhas pelas quais temos contato com o mundo foram de nossas casas. Depois das vacinas, isso mudou um pouco, mas a adaptação feita por empresas, prestadores de serviços e trabalhadores fizeram em suas rotinas e práticas profissionais tornou os dispositivos móveis peças centrais. Home office, apps de compras, mesmo o WhatsApp, Pix, aplicativos de teleconferência e até a telemedicina: muito do que fazemos se dá por meio dos celulares. E a tendência é que isso se aprofunde.

Diversos estudos já mostraram o quanto os casos de ansiedade e depressão cresceram durante a pandemia. Claro que não se trata de atribuir apenas ao uso dos celulares esse aumento – entram aí fatores como o medo de se contrair a Covid-19, a incerteza quanto ao emprego, o confinamento imposto pela necessidade de conter o avanço da doença, entre outros fatores. Mas a necessidade de se estar sempre de prontidão para qualquer demanda via celular criou, por exemplo, a chamada nomofobia – justamente a forte ansiedade por se estar sem o celular por perto. Alguns cientistas e especialistas defendem inclusive a inclusão desse transtorno mental no DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, na sigla em inglês), da APA (Associação Psiquiátrica Americana).

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Talvez seja um clichê, mas, como diz a sabedoria popular, tudo que é em demasia faz mal. Personalizar as notificações do celular é uma recomendação comum. Comportamentos compulsivos não são extintos de uma hora para outra – mas não há apenas duas opções, ou se permite notificações indistintamente ou se silencia todas. Aí entra o trabalho de seleção de cada pessoa, de eleger quais são os avisos e alertas que de fato são relevantes. Não é viável ter a atenção desviada a todo momento (pense em quem está em uma aula, ou uma reunião de trabalho, por exemplo). Há que se hierarquizar os alertas.

E também é preciso considerar que a presença dos celulares e de dispositivos móveis tende a aumentar. Não se pode dizer hoje que haverá um limite máximo para a digitalização de nossas vidas, mas tampouco se pode dizer o contrário. Com o metaverso, a velocidade 5G e tantas outras vias digitais em que viveremos, saber dosar a presença diante das telas exigirá um equilíbrio fino, que, aos poucos, estamos aprendendo.

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