Como Haddad venceu o fogo amigo e se tornou homem forte do governo Lula
Chamado de 'Tucaninho' no passado, ex-prefeito custou a vencer resistências no PT, mas firma-se como o principal sucessor do presidente eleito

Quem acompanhava de perto a política petista 15 anos atrás custaria a acreditar naquela época na cena de Fernando Haddad sendo anunciado para comandar o Ministério da Fazenda no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Haddad sempre teve a simpatia de Lula. Mas encarou muita rejeição e muito fogo amigo dentro de seu próprio partido, antes de se tornar um dos homens mais fortes do novo governo.
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Uma reunião entre Haddad e a executiva estadual do PT, realizada no finalzinho de 2009, dá a dimensão do desafio que foi para o ex-ministro chegar ao núcleo central da Esplanada dos Ministérios. Na época ministro da Educação, Haddad tentava se apresentar como possível candidato ao governo de São Paulo na eleição que aconteceria no ano seguinte.
O ministro da Educação sentou-se diante dos colegas e disse abertamente que gostaria de disputar o Palácio dos Bandeirantes. Criticou a gestão José Serra, se disse confiante de que poderia fazer melhor. Mas admitiu que não teria como viabilizar uma candidatura se não fosse pela mão de Lula. E disse também que o apoio do próprio PT seria fundamental, segundo relatos feitos ainda naquela época a esta colunista.
Os colegas foram cordiais. Mas muitos deles riram pelas costas de Haddad, dizendo não haver a menor chance de a candidatura prosperar. Essa turma gostava de chamar Haddad de “Tucaninho”, uma clara provocação, numa época em que a política paulista era fortemente polarizada entre PT e PSDB. Diziam que faltava ao ministro “sangue petista”, que ele não sabia falar “a língua do povo”. Reclamavam do perfil acadêmico, do palavreado às vezes difícil. Aloizio Mercadante, mesmo já tendo sido derrotado em 2006, foi escolhido para disputar o governo paulista pouco depois daquela reunião. Foi mais uma vez derrotado por Geraldo Alckmin.
Foi de fato somente pela mão de Lula que Haddad conseguiu vencer as resistências dentro do PT. Venceu, mas não as eliminou. Até hoje tem gente que torce o nariz para o futuro ministro da Fazenda. Mas, com a ajuda de Lula e de alguns poucos fiéis escudeiros, Haddad viu o PT paulista ser enquadrado a aceitar sua candidatura à Prefeitura de São Paulo em 2012.
Nomes como o deputado estadual Emidio de Souza, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) e o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro são alguns exemplos de petistas que sempre apoiaram internamente o nome de Haddad, mesmo contrariando a forte maioria que dava as cartas na legenda naquela época.
A derrota de Haddad na tentativa de reeleição foi um baque grande. Mas que foi superado mais uma vez pela mão de Lula, que, preso, o recrutou para assumir a chapa presidencial de 2018. Desde então, os críticos de Haddad baixaram o tom. Muitos deles, inclusive, se aproximaram do novo ministro da Fazenda com o passar dos anos e entenderam que é dele, sem sombra de dúvidas, a vaga de principal cotado como sucessor de Lula. Mas quem é próximo de Haddad garante que ele não se esquece do que teve que enfrentar para chegar até aqui.
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