Como a visita a Joaquim Barbosa estourou na cara de Sergio Moro
Ex-ministro erra no jogo e superestima aceitação à sua candidatura no meio jurídico
Quem viveu o escândalo do mensalão sabe que Joaquim Barbosa não é um tipo muito chegado a fazer sala e distribuir tapinha nas costas. Depois do julgamento histórico de um dos maiores escândalos políticos do País, ele acumulava um capital político de dar inveja a muito presidenciável na disputa deste ano. Foi assediado insistentemente para entrar na política, mas nunca se satisfez com as condições que lhe foram apresentadas. Mas o tempo passou e a eleição agora é outra. Barbosa estava quietinho no canto dele. O que torna ainda mais incompreensível o movimento feito nesta semana pelo ex-ministro Sergio Moro.
O pré-candidato do Podemos insistiu e conseguiu uma conversa com o ex-ministro do Supremo. Poucos minutos depois do encontro, Barbosa deixou correr nos corredores que vê com desconfiança a candidatura do ex-juiz da Lava Jato à Presidência. Um jogo de perde-perde mais que anunciado. Se Moro estava em busca de um possível vice, um candidato ao governo ou apenas de um aceno, deveria ter feito o que todo político que se preze sabe de cor e salteado: jamais fazer uma pergunta para a qual não tem certeza absoluta da resposta.
É para isso que servem os tais “emissários”, que mandam e pegam recados, preparando o terreno para situações como essa. Só para citar alguns exemplos recentes, Lula e Geraldo Alckmin sabiam de antemão exatamente como seria seu encontro no evento de fim de ano do Grupo Prerrogativas, no fim do ano passado. Escalaram aliados para negociar os termos e conversaram pessoalmente, depois que estava tudo bem ajeitado. João Doria também sabia exatamente o que esperar da reunião que teve com o próprio Moro no mês passado, um encontro que já vinha sendo ensaiado havia meses. Alckmin, de novo, combinou em detalhes com Paulinho da Força o que sairia da conversa que tiveram numa padaria no começo desta semana, na qual o ex-tucano mandou recados a Lula a respeito da reforma trabalhista.
Erra quem pensa que a situação em que Moro se encontra agora é fruto de amadorismo. O ex-ministro está cercado de políticos que sabem muito bem como se joga o jogo. É o caso do senador Alvaro Dias, um político altamente prestigiado entre os seus pares e um dos nomes de maior peso na pré-campanha do ex-juiz da Lava Jato. Mas fica evidente que Moro cometeu ao menos um erro em todo esse processo: superestimou a aceitação ao seu nome no mundo jurídico.
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