Sem a excelência de aeroportos internacionais, Congonhas contará com edifícios externos para complementar serviços
Há quase vinte anos, o site Sleeping in Airports avalia aeroportos do mundo todo, com críticas e dicas de quem já passou por eles. É consultado principalmente por quem precisa passar várias horas ou até mesmo uma noite inteira em um aeroporto antes de seguir viagem. De antemão, o passageiro fica sabendo se encontrará lounges para descanso, vestiários com chuveiro, guarda-volumes e hospedagens próximas. […]

Há quase vinte anos, o site Sleeping in Airports avalia aeroportos do mundo todo, com críticas e dicas de quem já passou por eles. É consultado principalmente por quem precisa passar várias horas ou até mesmo uma noite inteira em um aeroporto antes de seguir viagem. De antemão, o passageiro fica sabendo se encontrará lounges para descanso, vestiários com chuveiro, guarda-volumes e hospedagens próximas.
Pela avaliação desse guia, o aeroporto mais completo do mundo é o de Changi, em Singapura, o primeiro colocado do ranking geral há dezessete anos. Ele possui dezenas de bares sofisticados e restaurantes de primeira linha, área para jogar videogames, lounges com poltronas reclináveis para assistir à televisão e baias equipadas com computadores. Quem preferir cochilar pode procurar pelas espreguiçadeiras, uma marca do aeroporto. Há ainda academia, spa com massagem e ofurô e até uma piscina na cobertura — tudo aquilo que sonha quem aguarda para embarcar em um aeroporto brasileiro.
Pelo ranking do Sleeping in Airports, os aeroportos de Guarulhos, em São Paulo, e do Galeão, no Rio de Janeiro, são respectivamente o terceiro e o décimo piores da América Latina. As filas, o desconforto da espera, a dificuldade de acesso e a escassez de opções para matar o tempo ou descansar foram determinantes para a colocação.
O de Guarulhos é o mais movimentado do país, com quase 40 milhões de passageiros transportados por ano. O segundo lugar é disputado entre o aeroporto Juscelino Kubitschek (JK), de Brasília, e o de Congonhas, na Zona Sul de São Paulo, ambos com mais de 18 milhões de passeiros transportados por ano.
Residencial projetado por Marcos Acayaba, que será construído ao lado de Congonhas
Nem JK nem Congonhas aparecem no ranking do Sleeping in Airports. Estão naquela zona cinza em que alguns dos serviços existem, mas não se destacam pela excelência nem pela variedade. No ano passado, o JK passou por uma grande reforma para atender à demanda da Copa do Mundo e, como resultado, ultrapassou por pouco e pela primeira vez o volume de passageiros de Congonhas. Mas o aeroporto paulistano mantém uma vantagem ímpar: está situado numa área central da maior cidade brasileira. Assim, serviços que não são oferecidos dentro do aeroporto podem ser implantados na vizinhança, basta que se respeite a lei de zoneamento. Dessa forma, é possível melhorar Congonhas sem depender de ações do governo ou de reformas milionárias, como mostra um projeto já em andamento no tereno ao lado.
O enorme estacionamento que funcionava na Avenida Washington Luís, bem na altura do aeroporto, dará lugar a duas torres, uma corporativa e outra residencial, cujo objetivo é complementar os serviços disponíveis aos passageiros. Os edifícios ficarão separados do saguão apenas por uma passarela e servirão como base de trabalho e de descanso. O corporativo Gate One, já em obras, terá na cobertura um bar com mirante equipado de luneta para quem quiser passar o tempo assistindo a decolagens e aterrissagens. “Será acessível a qualquer um que queira frequentar o espaço, independentemente de ser condômino”, diz Jean Daher, do Grupo Rofer, um dos incorporadores.

Perspectiva ilustrada do terraço do Gate One, que será aberto ao público
Ao lado do Gate One será erguida a torre residencial SPression, com projeto arquitetônico de Marcos Acayaba, um dos principais nomes da geração pós-modernista, que levou adiante a tradição da escola paulista liderada por Vilanova Artigas. Os apartamentos serão compactos, com facilidades como serviço de limpeza e concierge. “São voltados a executivos que voam com frequência e precisam de um lugar para passar temporada”, diz Ricardo Yazbek, que também participa da incorporação. O terreno onde estarão as duas torres fica ao lado da futura estação congonhas do monotrilho, a linha 17 Ouro.
A inegável disparidade entre o conforto dos aeroportos nacionais e estrangeiros não deve ser vista como empecilho para melhorar o que já existe no país, pelo contrário. É justamente porque o Brasil está muito atrás é que é preciso avançar depressa. O imenso volume de passageiros e a localização dos aeroportos urbanos já são atrativos suficientes para o surgimento desses projetos, especialmente quando eles independem da boa ou má vontade do poder público de enfrentar a questão.
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Por Mariana Barros
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