São Paulo: pesquisa revela que 54% são a favor de estacionar na rua e 58% não trocariam o carro pela bicicleta
Todo mundo acha que o trânsito de São Paulo precisa melhorar, mas pouquíssimos estão dispostos a fazer algo para que isso aconteça. Uma pesquisa realizada em São Paulo pelo instituto Paraná Pesquisas com exclusividade para o blog Cidades sem Fronteiras revela que, para 54,3% dos entrevistados, a prefeitura não deve proibir as pessoas de […]


Pessoas pedalam na Avenida Paulista antes do início da construção da ciclovia, que deve ser inaugurada neste mês (Levi Bianco/Folhapress/VEJA)
Todo mundo acha que o trânsito de São Paulo precisa melhorar, mas pouquíssimos estão dispostos a fazer algo para que isso aconteça. Uma pesquisa realizada em São Paulo pelo instituto Paraná Pesquisas com exclusividade para o blog Cidades sem Fronteiras revela que, para 54,3% dos entrevistados, a prefeitura não deve proibir as pessoas de estacionar o carro na rua como uma forma de aliviar o trânsito. Outros 57,7% afirmam que não usariam bicicleta em seus trajetos mesmo que houvesse uma ciclovia ligando sua casa aos locais aonde precisa ir.
Parar o carro no meio fio é considerado algo natural mesmo quando transforma faixas inteiras em estacionamentos e obstrui a passagem. Até mesmo ruas com apenas três faixas é permitido estacionar em duas delas, uma de cada lado da via. O irônico é que disso resulta uma terceira fila de carros parados, aqueles que estão entre elas, tentando passar. Quando surge esse assunto, há quem argumente que, por pagar IPVA, o imposto que incide sobre a propriedade do veículo automotivo, tem o direito de estacionar o carro na rua de graça. Embora tenha aumentado o número de vagas de Zona Azul pela cidade, sistema que cobra 5 reais por uma hora de estacionamento, em muitos bairros ainda é possível parar sem pagar por quanto tempo o motorista desejar – horas, dias ou meses.
Outro ponto que a pesquisa mostra ser de difícil adesão é o uso de bicicletas. Apesar dos esforços da prefeitura em construir ciclovias, 57,7% dos entrevistados afirmam que não pedalariam todos os dias mesmo se houvesse uma ciclovia ligando sua casa porta a porta. A meta do prefeito Fernando Haddad (PT) é entregar 400 quilômetros de ciclovias, dos quais foram entregues pouco mais da metade, 230 quilômetros. Na semana que vem, está programada a inauguração da ciclovia da Avenida Paulista, construída no canteiro central.
Os números do Paraná Pesquisas mostram que, conceitualmente, todo mundo é a favor da bicicleta. Porém, quando confrontados com a possibilidade real de trocar o carro pelos pedais, mudam de ideia. Se mesmo numa situação hipotética, como a da pesquisa, só 35% topariam a empreitada, a tendência é que esse número seja bem menor em uma situação real. Em Londres, que investiu em ciclovias no início dos anos 2000, apenas 2,5% da população usa bicicletas para chegar ao trabalho.
Ainda assim, há maneiras de incentivar uma adesão maior às bicicletas. Quando as pistas são bem projetadas, com pelo menos 1,5 metro de largura e mais meio metro para isolar as bikes dos carros, elas se tornam mais procuradas por aqueles que se sentem mais vulneráveis atrás do guidão: mulheres e pessoas acima dos 60 anos. Sem isso, quem se arriscam a pedalar são homens entre 25 e 40 anos, mais dispostos correr perigo transitando entre carros, ônibus e motos (leia mais aqui).
Os resultados do levantamento do Paraná Pesquisas revelam o descompasso entre os problemas de São Paulo e a busca por soluções. Numa metrópole onde convivem quase 12 milhões de pessoas, não há passe de mágica capaz de resolver uma questão que é, antes de tudo, física: a falta de espaço. Sem planejamento nem concessões a cidade dificilmente sairá do lugar.
O universo da pesquisa abrange os habitantes do município de São Paulo maiores de 16 anos. Foi utilizada uma amostra de 1 054 habitantes, estratificada por sexo, faixa etária, escolaridade e localização. As entrevistas foram feiras pessoalmente entre 15 e 18 de junho deste ano. O grau de confiança é de 95%, e a margem de erro é de três pontos percentuais, para cima ou para baixo. A Paraná Pesquisas está registrada no Conselho Regional de Estatística da 3ª Região sob o nº 6288/10 e é filiada à Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) desde 2003.
Por Mariana Barros
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