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Obama escolhe área pobre de Chicago para abrigar sua biblioteca presidencial e é criticado por grupos locais

Na semana passada, Chicago saiu das páginas policiais para ocupar a primeira página dos principais jornais e sites americanos. Depois da repercussão da morte de um jovem de 18 anos pela polícia local, em abril, a cidade voltou ao noticiário nacional por um feito notável. Lá será construída a biblioteca do presidente Barack Obama quando ele deixar a Casa […]

Por Mariana Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 jun 2024, 03h20 - Publicado em 18 Maio 2015, 16h40
Vista aérea da região do Hyde Park, em Chicago, onde será erguida a biblioteca de Barack Obama

Vista aérea da região do Hyde Park, em Chicago, onde será erguida a biblioteca de Barack Obama

Na semana passada, Chicago saiu das páginas policiais para ocupar a primeira página dos principais jornais e sites americanos. Depois da repercussão da morte de um jovem de 18 anos pela polícia local, em abril, a cidade voltou ao noticiário nacional por um feito notável. Lá será construída a biblioteca do presidente Barack Obama quando ele deixar a Casa Branca. O anúncio oficial, que pode ser conferido no vídeo abaixo, encerrou uma temporada de vários meses de apostas e especulações.

Nos Estados Unidos, a construção de centros presidenciais é uma tradição mantida desde Hebert Hoover, que governou o país entre 1929 e 1933. Desde então, seus treze sucessores passaram a ter uma biblioteca própria (o que embute a criação de uma fundação) para preservar o seu legado. O gerenciamento do projeto e a manutenção deses edifícios fica a cargo do Office of Presidential Libraries, que também ajuda a escolher o local para tais homenagens. No Brasil, o mais perto que se chegou disso foi a criação do iFHC (Instituto Fernando Henrique Cardoso) e do Instituto Lula, ambos em São Paulo.

A memória de Obama vinha sendo disputada entre três cidades. Nova York corria por fora, participando do pleito mais por sua própria importância do que pela importância que representa na vida do presidente. Foi apenas o local onde ele estudou e se formou, após quatro anos cursando a Universidade Columbia. A briga mesmo ficou entre Honolulu, no Havaí, e Chicago. Honolulu por ser onde Obama nasceu. Graças a ele, o arquipélago deixou de ser apenas o mais jovem estado do país (integrado em 1959) e ganhou destaque na histórica americana. Mas a expectativa –e talvez a torcida geral — era por Chicago, onde o presidente iniciou sua carreira política, conheceu e se casou com Michelle Obama e o casal teve suas duas filhas. Além disso, a escolha de construir a biblioteca em Chicago é capaz de trazer à cidade benefícios que talvez Nova York e Honolulu não precisem tanto.

 

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Chicago tem a mais alta taxa de homicídio entre as cidades americanas. E, de toda a cidade, a área mais violenta é justamente aquela eleita por Obama para abrigar sua biblioteca. Ela ficará dentro do Hyde Park, parque com uma enorme área verde situado no tumultuado South Side. Foi a algumas quadras dali que a política matou no mês passado o jovem que colocou Chicago em todos os noticiários do país. Há duas semanas, houve 14 tiroteios na vizinhança em um mesmo final de semana.

É uma área carente de empregos e de oportunidades, algo que a escolha de Obama pode conseguir reverter, pelo menos em parte. Estimativas iniciais indicam que a construção da biblioteca representará 600 milhões de dólares em investimento e a criação de 3 000 postos de trabalho. “É uma escolha rica tanto em sua substância quanto em simbolismo”, escreveu o colunista do Financial Times baseado em Washigton, Edward Luce. “Poucos presidentes tiveram a oportunidade de impactar tanto o ambiente que cerca suas bibliotecas como Obama tem agora”.Bill Clinton talvez tenha tido chance semelhante, que aproveitou muito bem ao criar sua biblioteca em Little Rock, Arkansas, e impulsionar o desenvolvimento da área mais ao norte da cidade, ou estabelecer a Clinton Foundation no Harlem, em Nova York, levando empregos para uma área carente.

Mas, como nada na vida é fácil, a escolha de Barack Obama tem recebido duras críticas. Grupos locais e de ambientalistas reclamam de o presidente resolver construir o edifício justamente dentro de um parque, em vez de erguê-lo num lote urbano comum. Argumentam haver milhares de pessoas que usam o parque, numa região sem muitas opções de lazer, e que o presidente decidiu simplesmente confiscar esse espaço porque esses frequentadores são pobres e não têm como defender a preservação da área. Comparam o Hyde Park ao Central Park de Nova York para afirmar que, assim como seria inconcebível construir qualquer coisa lá, porque os nova-iorquinos fariam um estardalhaço, é igualmente absurdo fazê-lo no parque de Chicago. Para engrossar ainda mais o caldo, o atual prefeito, Rahm Emanuel, reeleito neste ano, é aliado histórico de Obama e já fez o possível para facilitar o trâmite. No início deste mês, a medida foi aprovada pelo órgão equivalente à Assembleia Legislativa e pelo governador de Illiniois, depois de já ter passado pela “Câmara dos Vereadores” de Chicago.

O ponto é que o Hyde Park não é o Central Park. Aliás, se fosse, o problema nem existiria, porque Barack Obama não teria se interessado em erguer uma biblioteca lá, onde está concentrada boa parte da riqueza do planeta. O Hyde Park, ao contrário, está em uma região pobre, carente e violenta. E, embora áreas verdes urbanas sejam fundamentais para a qualidade de vida e a preservação ambiental, viver com segurança e ter uma boa oferta de empregos e serviços são razão essencial pela qual historicamente os seres humanos se agrupam em cidades. Em Chicago, como em qualquer outro lugar, segurança não é ter polícia nas ruas, e sim permitir à população ir e vir à hora que quiser. De que adianta uma área verde deslumbrante se o medo impede as pessoas de usá-la?  A investida de Obama tem tudo para melhorar o South Side e, a partir daí, permitir a criação de áreas verdes que estejam ao alcance de todos, a qualquer hora do dia ou da noite.

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