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Muito além do azar: por que terremotos que matam milhares de pessoas ocorrem apenas nos países pobres

As mortes no Nepal causadas pelo terremoto ocorrido no último sábado já são estimadas em 10.000 pessoas e há pelo menos outras 7000 feridas. Com a rapidez com que novos boletins são divulgados, é bem provável que esses números ainda avancem tristemente por mais algumas centenas. Segundo o Itamaraty, deve haver pelo menos 90 brasileiros no país. Até onde se […]

Por Mariana Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 jun 2024, 05h00 - Publicado em 27 abr 2015, 16h48
Rachadura causada pelo terremoto na cidade de Bhaktapur, no Nepal (Navesh Chitrakar/Reuters)

Rachadura causada pelo terremoto na cidade de Bhaktapur, no Nepal (Navesh Chitrakar/Reuters)

As mortes no Nepal causadas pelo terremoto ocorrido no último sábado já são estimadas em 10.000 pessoas e há pelo menos outras 7000 feridas. Com a rapidez com que novos boletins são divulgados, é bem provável que esses números ainda avancem tristemente por mais algumas centenas. Segundo o Itamaraty, deve haver pelo menos 90 brasileiros no país. Até onde se sabe, nenhum deles morreu nem foi ferido no desastre.

O Nepal é um dos países mais pobres do mundo, situado na cordilheira do Himalaia, e faz fronteira com a Índia e a China. Sua população é composta por mais de 23 milhões de pessoas, que ocupam o território de maneira concentrada. A densidade populacional é alta, 184 habitantes por quilômetro quadrado, taxa semelhante à da Nigéria, um dos países de maior crescimento populacional do mundo. Esses dois fatores –ser pobre e concentrar muita gente num espaço restrito–, além de sua posição geográfica, colocam o Nepal no grupo dos países mais vulneráveis a perder vidas em terremotos.

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Desde 1976, foram registrados no mundo todo 26 terremotos em que morreram mais de 1.000 pessoas, já incluído o do Nepal. Desse total, apenas 5 atingiram países ricos e 21 atingiram países pobres. Em 2010, os abalos no Haiti, o mais pobre do continente, mataram 220 mil pessoas. Em 2014, o terremoto mais forte dos últimos 25 anos ocorrido na Califórnia, nos Estados Unidos, não matou ninguém. Uma diferença dessas não pode ser explicada pelo “azar” dos mais pobres ou por uma simples coincidência, mas sim por uma trágica confluência de fatores. Vamos a eles.

O primeiro ponto a ser destacado é que esses 26 terremotos que mataram mais de 1.000 pessoas nas últimas décadas não foram os únicos de grandes magnitudes. Desde 1976, houve 99 terremotos que alcançaram 7.0 na escala Richter, usada para medir a força do fenômeno numa escala que vai de zero a dez, sendo dez o de maior força e nunca registrado desde que os humanos estão sobre a Terra. Ou seja, os que chacoalharam os países pobres não foram os mais fortes, apenas os que causaram mais mortes.

O segundo ponto é que, com a intensa migração urbana das últimas décadas, os países pobres, historicamente agrários, têm recebido em suas cidades um contingente de pessoas muito superior ao que se muda para cidades de países ricos. São metrópoles cada vez mais populosas, que se encaminham para virar megacidades com mais de 10 milhões de habitantes já nos próximos anos. De acordo com  dados da ONG GeoHazards International, em 1950, duas de cada três pessoas que viviam em áreas de risco de terremotos eram moradoras de países pobres. Em 2010, a proporção subiu para assombrosos 9 em cada 10.

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Escombros de Bhaktapur, no Nepal: países pobres registram mais mortes em terremotos (Navesh Chitrakar/Reuters)

Escombros de Bhaktapur, no Nepal: países pobres registram mais mortes em terremotos (Navesh Chitrakar/Reuters)

O terceiro ponto é que, graças à tecnologia, a quantidade de vítimas de terremotos está diminuindo no mundo todo. Pessoas que vivem em áreas de risco recebem alertas capazes de prepará-las para desastres naturais e dispõem de mais dados sobre os perigos que correm naquela região. Mas, de novo, a redução é muito maior nos países ricos do que nos pobres.

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Para se ter uma ideia, entre 1976 e 2000, os países ricos sofreram 4 terremotos deles, número caiu para apenas 1 entre 2001 e 2015. Já os países pobres sofreram 13 deles entre 1976 e 2000. Entre 2001 e 2015, a taxa caiu para 8, menos da metade da anterior. Ou seja, as nações ricas conseguiram reduzir a mortalidade de terremotos muito mais rapidamente do que os países pobres.

Há ainda um fator político e econômico. Os governos locais deveriam alimentar fundos destinados justamente a reduzir os eventuais danos de desastres naturais. Para incentivá-los, o Banco Mundial criou um ranking das nações que mais evoluíram ao evitar o risco de desastres, classificando-as com uma nota que vai de zero a cinco. Graças ao desenvolvimento econômico da década passada e aos esforços na prevenção de vítimas de desabamentos, o Brasil saiu-se com um bom 4,5. Já o Nepal aparece com um triste 2,8.

Seria o caso então de passar o chapéu nas nações mais ricas para que elas também contribuíssem para o custeio desses esforços. Desde o tsunami de 2005, porém, apenas o Japão interessou-se em investir na prevenção de outros países. É o país mais solidário do mundo? Talvez. Mas é preciso considerar também que muitas nações ricas são vítimas de terremotos e são justamente elas que arcam com os maiores prejuízos quando os tremores são muito fortes.

Em agosto do ano passado, quando a Califórnia, sofreu um forte terremoto, ninguém morreu e apenas 120 pessoas ficaram feridas. As perdas materiais, no entanto, superaram 1 bilhão de dólares, comprovando que a conta dos terremotos é muito mais alta para as nações ricas do que para as pobres simplesmente por que há mais coisas para se quebrar. Um único barril de pinot noir estraçalhado em uma vinícola do Vale do Napa representou 16 mil dólares de prejuízo.

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Apesar de as perdas serem significativas nas nações ricas, nenhuma delas pode ser comparada à perda de milhares de vidas cada vez que um país pobre sofre um abalo de grandes proporções. O fato de isso acontecer numa era em que boa parte dessas mortes já poderiam ser evitadas é que é a verdadeira tragédia.

Por Mariana Barros
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