Livro infantil Casacadabra traz explicações lúdicas sobre casas construídas ao redor do mundo
Lançamento da Pistache Editorial está no Catarse; contribuições a partir de 70 reais dão direito a um exemplar


Casa Bola, do arquiteto Eduardo Longo, um dos projetos explicados para crianças no livro Casacadabra (Imagens: Divulgação)
Lançado na semana passada, o livro Casacadabra surgiu com a nobre missão de fazer as crianças relfetirem desde cedo sobre os espaços onde vivem. O projeto foi idealizado pela jornalista Bianca Antunes, que há doze anos se dedica à cobertura de arquitetura em veículos especializados e é pós-graduanda no assunto, e Simone Sayegh, arquiteta de formação e cuja carreira também é dedicada à difusão do tema.
Embora arquitetura e urbanismo não sejam ensinados nas escolas, é natural que as crianças despertem para esse universo desde muito cedo, conforme caminham perto de casa, observam a cidade pelo vidro do carro ou passeiam em praças e parques. E o ponto de partida para essa percepção costuma ser a própria casa onde vivem.
A partir dessa ideia, o Casacadabra selecionou dez casas do mundo todo, ilustradas por Carolina Hernandes, que também assina o projeto gráfico do livro, para explicar como funcionam por dentro e por fora. Há projetos de diferentes épocas e estilos arquitetônicos, como a Casa Batlló, de Gaudí, ou a Fallingwater, de Frank Lloyd Wright. Entre os brasileiros, estão a Casa de Vidro, de Lina Bo Bardi, a Casa Bola, de Eduardo Longo, a casa Grelha, do escritório FGMF, e o Copan, de Oscar Niemeyer, definido no livro como “um edifício cheio de casas”.
Quem se interessar pelo projeto pode colaborar via Catarse (catarse.me/casacadabra). Há contrapartidas entre 30 e 173 reais. Com 40 reais, o colaborador ganha uma maquete de papel para recortar e montar da Casa de Vidro de Lina Bo Bardi. A partir de 70 reais, as recompensas incluem um exemplar do livro.
Em entrevista ao blog Cidades sem Fronteiras, Bianca Antunes e Simone Sayegh falam mais sobre o projeto e a importância do contato das crianças com o universo da arquitetura e cidades desde cedo. Confira:
1) Como foram selecionadas as dez casas do livro?
Bianca: Partimos de dois objetivos: que fossem lúdicas e que tivessem diferentes elementos de arquitetura para serem passados ao leitor, sempre pensando em projetos referência na arquitetura mundial. A primeira seleção teve mais de 20 nomes, e tivemos de enxugar porque queríamos aprofundar mais em cada casa, e evitar que o livro se transformasse em um catálogo ou fosse superficial demais. Filtramos, então, levando em conta uma seleção que fosse o mais equilibrada possível, com arquitetos de gerações distintas, em lugares diferentes do planeta e que apontassem situações diversas de morar: a habitação social, o conjunto sustentável, a casa em cima da cachoeira…
2) É possível dizer que a casa onde a criança mora é seu primeiro contato com a cidade e o mundo construído?
Simone: Sim. A casa fornece formas, cores, dimensões, luzes e até cheiros com os quais a criança começa a se identificar e a formar repertório. É nesse primeiro espaço, depois do útero, que ela passa a se alimentar, tanto física quanto mentalmente. E muitos elementos são incorporados em nosso repertório sem que o percebamos.
Bianca: Nesse sentido, estimulamos o leitor a perceber sua própria casa: descobrir para que lado seu quarto está voltado, onde nasce e se põe o sol em sua casa ou em seu apartamento, por exemplo, é um dos exercícios propostos no livro, entendendo que a qualidade do espaço também está relacionada ao exterior, ao que acontece do lado de fora da fachada.
3) Até que ponto os espaços frequentados na infância interferem na percepção das cidades onde vivemos?
Bianca: Interferem totalmente, e em diferentes níveis. Desde o espaço fechado da casa (conseguimos ver a rua da janela de casa ou do apartamento?), passando por como nos locomovemos pela cidade (como saímos desse espaço? A pé? De carro?) e quais espaços públicos frequentamos (é a rua ou são espaços fechados, semipúblicos?). Tudo isso se traduz na percepção da cidade em que vivemos. Abrir os olhos para esses detalhes, que muitas vezes passam desapercebidos e são incorporados desde a infância como fatos normais, é uma maneira também de começarmos a olhar criticamente para a cidade onde vivemos, de tomarmos a cidade como um espaço de todos e de aumentar nossa sensação de pertencimento a ela.
Simone: Queremos justamente instigar perguntas, jogar luz sobre nossa relação com o ambiente urbano e sobre a importância dessas vivências na construção de cidades melhores.
4) Cada vez mais crianças passam a infância em apartamentos. O livro busca de alguma forma resgatar para as novas gerações a experiência de viver em uma casa?
Simone: Apesar de termos muitas casas – são nove residências e um edifício, o Copan, que chamamos de “a casa de mil casas” –, o livro não faz apologia sobre a melhor tipologia: casa ou apartamento. Buscamos o contrário disso: mostrar que não existe apenas uma maneira de morar e de perceber o espaço.
Bianca: No Copan, por exemplo, falamos da experiência de um lugar que possui apartamentos de diversos tamanhos para diferentes pessoas: solteiros, casais, famílias inteiras, e de um térreo aberto para toda a cidade. O que queremos resgatar é a experiência de olhar para a sua forma de morar, entendê-la e até, por que não, questioná-la.
5) Incluir temas ligados à arquitetura e à vida urbana no currículo escolar poderia contribuir para termos cidades melhores no futuro? De que maneira?
Bianca: Com certeza, e essa é uma das bandeiras que queremos levantar. Hoje existe uma lacuna entre os arquitetos/urbanistas e a sociedade, principalmente porque esses temas são ensinados apenas nos bancos das faculdades de arquitetura. Passar a perceber, desde o ensino básico, que a qualidade do espaço pode mudar comportamentos, por exemplo, é uma maneira de questionar o lugar em que vivemos, ou outros que visitamos, compará-los, buscar propostas para cidades mais humanas, mais vivas, construídas para as pessoas usufruírem delas sem medo.
Simone: A cidade é de todos – e temos visto, cada vez mais, a vontade de participação civil no espaço urbano – então por que seus códigos devem estar restritos apenas ao entendimento dos especialistas? As crianças aprendem sobre ecologia na escola, sobre não sujar as ruas, sobre economia de água e voltam para casa ensinando os pais. Já existem grupos de crianças que discutem a diversidade, e como todos somos diferentes. Por que não discutir como se mora, e por que moramos assim hoje? As novas gerações só terão a ganhar com isso.
Por Mariana Barros
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