Gigantes da tecnologia, Google e Microsoft percorrem vielas das favelas cariocas para colocá-las nos mapas online
Demorou, mas as gigantes da tecnologia finalmente perceberam o mercado existente nas ruelas ingrimes em que mal dá para passar um carro, locais onde energia elétrica, tubulações de água e esgoto e até TV a cabo chegam quase que por uma espécie de geração espontânea, no improviso criativo de seus moradores. No Rio de Janeiro, […]

Demorou, mas as gigantes da tecnologia finalmente perceberam o mercado existente nas ruelas ingrimes em que mal dá para passar um carro, locais onde energia elétrica, tubulações de água e esgoto e até TV a cabo chegam quase que por uma espécie de geração espontânea, no improviso criativo de seus moradores. No Rio de Janeiro, um quarto da população vive assim, em uma das 763 favelas espalhadas pela cidade. São 1,5 milhão de pessoas, das quais cerca de 1,3 milhão tem o próprio celular, metade deles smartphones. Estar conectado, porém, não garante a essas pessoas encontrar a rua onde moram no Google Maps ou no Bing, programas de localização online de, respectivamente, Google e Microsoft.
É bom lembrar que, até o começo deste ano, antes dos esforços do prefeito Eduardo Paes (PMDB) motivados pela Copa do Mundo, boa parte dessas localidades não tinha nem CEP, quanto mais vias batizadas com nome oficial. Agora, além de melhorias pouco a pouco implantadas por empresas públicas, as duas potências da internet dedicam-se a, literalmente, colocar essas comunidades no mapa e converter moradores em consumidores de seus serviços.
Mais ambicioso, o projeto do Google inclui fotografar todas as vielas ao nível da rua, para que as imagens sejam incluídas no Google Street View. Quem sabe assim passeios turísticos pelas favelas cariocas poderão, em breve, ganhar versão online. Para os comerciantes locais, o mapeamento é uma oportunidade rara para aumentar o movimento. Graças ao uso de plataformas colaborativas, que permitem aos proprietários registrar seus estabelecimentos, será possível encontrar lanchonetes, salões de beleza, mercados e lavanderia próximos consultando o celular.

Voluntária fotografa barbearia no Vidigal para o Google Maps: estabelecimentos poderão ser encontrados online
Os programas de mapas tanto do Google quanto da Microsoft são gratuitos. O interesse dessas empresas está, por enquanto, em exibir anúncios e ampliar sua base de usuários. Isso torna-se particularmente interessante em mercados emergentes como o brasileiro, já que o europeu e o norte-americano já foram expandidos ao limite do possível. O foco inicial do Google são as favelas cariocas do Vidigal, da Rocinha e do Caju.
Na prática, a iniciativa é encampada por lideranças das comunidades, como associações e ONGs reconhecidas, como o AfroReggae, que batizou o projeto de Tá no Mapa. Por meio dessas lideranças, são recrutados os voluntários que gastam sola de sapato nas capturas minuciosas. Claro que nem tudo são rosas. Há pedaços ainda assombrados por criminosos, em que já houve até roubo de equipamento dos mapeadores. E existe ainda a dificuldade de nomear vias nunca antes reconhecidas pela prefeitura. Nesse caso, ou opta-se pela maneira como são popularmente conhecidas ou vota-se nas sugestões dos moradores.
Outra parte do problema está na negociação com Google e Microsoft. Lideranças comunitárias se queixam de receber ofertas de baixo valor para comandar a execução de tarefas colossais. Segundo o Wall Street Journal, que publicou reportagem recente sobre o assunto, nem Google nem Microsoft revelam o quanto estão investindo no mapeamento. Boa parte dos moradores considera que apenas concluir os registros e, assim, tornar suas vidas um pouco mais fáceis, já será suficiente para compensar tamanho trabalho.

Mirante do Arvrão, no Vidigal: tour pelas favelas cariocas também via internet
Por Mariana Barros
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