Em sua nova ´Rota da Seda´, China construirá estradas, hidrelétricas e até transporte público em outros países
Desde que se tornou presidente da China, em março de 2013, Xi Jinping não esconde de ninguém seu desejo de colocar em prática um ambicioso plano de integração regional. Sua ideia tem sido interpretada como um esforço de recriar o que foi a Rota da Seda, um dos mais importantes corredores comerciais da história, que ao longo […]

Desde que se tornou presidente da China, em março de 2013, Xi Jinping não esconde de ninguém seu desejo de colocar em prática um ambicioso plano de integração regional. Sua ideia tem sido interpretada como um esforço de recriar o que foi a Rota da Seda, um dos mais importantes corredores comerciais da história, que ao longo de 6 000 quilômetros, impulsionou o desenvolvimento asiático e sua conexão com o Ocidente de 114 a.C até 1450.
A Rota 2.0 responde pelo nome de Cinturão Econômico da Rota da Seda (Silk Road Economic Belt) e conta com a administração profissional de um fundo nacional (China’s Silk Road Fund) criado no ano passado para gerir nada menos do que os 46 bilhões de dólares a serem investidos. E não há nada de teares ou fibras naturais dessa vez. Os fios produzidos pelos bichos-da-seda foram substituídos por um tipo de “mercadoria” muito mais valiosa neste século 21: infraestrutura. Estradas, ferrovias, portos e até hidrelétricas serão produzidos pelos chineses seguindo um modelo do tipo exportação. Ou seja, em vez de construir em território nacional, essas obras serão erguidas em países capazes de ampliar os verdadeiros negócios da China. A relação pretende ser de ganha-ganha: os chineses desembolsam enormes quantias, mas garantem o direito de explorar esses locais por décadas. Já os países que recebem as obras passar a contar com melhorias permanentes, usufruídas por todos os cidadãos e que também ajudarão a alavancar os negócios — tudo isso sem despender nenhum centavo.
O primeiro agraciado da lista é o Paquistão, destino de um pacote de 28 bilhões de dólares. Entre as obras previstas, está uma hidrelétrica e uma rede de distribuição de energia, que serão construídas e administradas pela China durante trinta anos após a entrega, prevista para 2020. A lista de benesses aos paquistaneses inclui rede de fibra ótica, investimentos em transporte público na cidade de Lahore, uma das mais populosas do país, e um porto em Gwandar, que fica perto da divisa com o Irã.
Desde o final do ano passado, quando a Operação Lava Jato começou a colocar em xeque o destino das maiores empreiteiras brasileiras, economistas e cientistas políticos estudam alternativas capazes de manter os projetos de infraestrutura do país em andamento. Uma das propostas segue justamente o modelo que está sendo posto em prática pelos chineses: de que a economia brasileira se abra para que construtoras estrangeiras operem no país. Para Marcos Fernandes Gonçalves da Silva, professor da Fundação Getúlio Vargas, essa alternativa contribuiria inclusive com o combate à corrupção, pois seria capaz de diminuir o poder de coerção do governo sobre as empresas. No atual cenário econômico, investimentos estrangeiros também seriam vistos com bons olhos. E a China já possui uma importante proximidade comercial com o Brasil, afinal é o principal destino das exportações nacionais, com 17% do total, o que em 2014 rendeu 41 bilhões de dólares.
Mas é claro que, pela estratégia chinesa, baseada em ampliar seu poder regional, investimentos no Brasil estão fora do escopo. E o mesmo vale para o Brasil, onde há uma série de questões regulatórias, políticas e econômicas a serem resolvidas antes de qualquer parceria internacional desse tipo surgir no horizonte. O fato é que a infraestrutura é hoje peça fundamental para o desenvolvimento de qualquer país, afinal é por meio dele que as cidades são capazes de prosperar. Neste século 21, em que a riqueza habita as cidades, não há como crescer sem ajudá-las a crescer da melhor maneira. Basta ver que na nova Rota da Seda chinesa até o transporte público de uma cidade paquistanesa receberá investimento.

Trecho da antiga Rota da Seda, perto da fronteira da China com a Índia: desenvolvimento regional
Por Mariana Barros
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