Conheça a maior atração de uma cidade, algo que não é feito de tijolos nem de concreto
A maior atração de uma cidade não são seus edifícios, museus ou monumentos. Segundo o urbanista dinamarquês Jan Gehl, referência mundial em planejamento urbano, a maior atração de uma cidade são seus moradores. Afinal, é para nos encontrarmos que nos reunimos em cidades. Aos 78 anos, Gehl fez carreira defendendo quem deve ficar confortável ao circular pelas ruas são as pessoas, e […]

A maior atração de uma cidade não são seus edifícios, museus ou monumentos. Segundo o urbanista dinamarquês Jan Gehl, referência mundial em planejamento urbano, a maior atração de uma cidade são seus moradores. Afinal, é para nos encontrarmos que nos reunimos em cidades. Aos 78 anos, Gehl fez carreira defendendo quem deve ficar confortável ao circular pelas ruas são as pessoas, e não os carros. Autor do best-seller Cidades Para Pessoas, em que explica a importância de respeitar a escala humana na hora de desenhar uma cidade, ele diz que é o encontro, fortuito ou agendado, social ou profissional, obrigatório ou opcional, que dá vida, ritmo e sentido à rotina urbana. Segundo ele, ver e ouvir são as principais formas de contato social e também as que mais podem ser influenciadas pelo planejamento urbano.
Ele afirma que a vida na cidade é também uma forma de entretenimento, um passatempo estimulante e divertido, em que cenas, rostos e comportamento mudam a cada minuto. Quem já praticou o esporte de se sentar e ver a vida passar sabe o quanto faz bem. Quando estamos a pé, andar é mais do que ir de um ponto ao outro, e sim caminhar, mover-se enquanto se observa o que acontece ao redor. Ao urbanista cabe pensar na paisagem que será vista por quem caminha a 5 quilômetros por hora, caso de Veneza, do que na paisagem vista por quem trafega a bordo de um carro a 100 quilômetros por hora, caso de Dubai. A primeira favorece o encontro, a segunda, o atrapalha — o que fica guardado é sempre o que se vê no nível da rua. O desafio então é criar espaços tão agradáveis que as pessoas queiram estar ou ao menos passar por eles.
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Abaixo, seis lições de Gehl para tornar as cidades mais agradáveis e funcionais.
1. Oferecer muitas formas de se deslocar é a premissa número um de uma boa cidade para se viver. O ideal é que seja possível escolher como chegar a determinado lugar –a pé, de bicicleta, de transporte público ou de carro. Isso dá sensação de liberdade e permite uma boa variação de paisagens, ainda que para um mesmo percurso.
2. Manter uma alta densidade é a condição número dois. Muita gente vivendo perto umas das outras significa percorrer a distâncias mais curtas, que podem ser vencidas a pé ou de bicicleta, propiciando maior contato. Escalas menores tornam os locais mais agitados, intensos e calorosos do que as grandiosas.
3. Nada de edifícios muito altos, já que a visão humana não consegue vê-los por inteiro, tampouco apreciá-los. As construções devem ter, no máximo, sete andares. Paris é um bom exemplo desse formato. A maneira como os supermercados dispõem seus produtos nas prateleiras dão uma boa ideia de como nosso campo de visão é limitado. Enxergamos cerca de 55 graus para cima e até 80 graus para baixo.
4. Áreas verdes precisam ser preservadas e estar presentes em toda a cidade, tornando-a mais agradável. Mesas com cadeiras ou bancos se tornam um convite à convivência e também estimulam caminhadas e passeios de bicicleta.
5. Estações de transporte devem ser o mais condensadas e variadas possível. Idealmente, devem reunir estacionamento para carros, plataforma de embarque para as linhas de metrô e trem, terminal de ônibus e bicicletário. A presença de uma estação completa estimula o surgimento de locais que demandam grande circulação de pessoas, como empresas e universidades. Atrai também moradores interessados em usufruir dessas facilidades.
6. Destinar moradia bem localizada a quem não pode pagar. Instalar essas pessoas onde os terrenos são mais baratos significa levá-las para longe. Isso pode até resolver o problema imediato da falta de teto, mas traz uma enorme piora de qualidade de vida. Os congestionamentos aumentam e geram altos custos e perda de tempo para todo mundo. Em Copenhague, 20% de todas as residências construídas pelo mercado imobiliário são, por exigência da prefeitura, destinadas a moradores de baixa renda. Assim, os bairros conseguem acomodar uma mistura saudável de diferentes perfis sociais, contribuindo para uma paisagem mais interessante.
Por Mariana Barros
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