Zumbi tinha escravos. E daí?
O fato de ter capturado e mantido escravos não torna Zumbi uma fraude nem tira o valor do Dia da Consciência Negra

Todo Dia da Consciência Negra alguém publica um comentário dizendo que Zumbi era uma fraude pois, como eu afirmo no Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, ele atacava fazendas vizinhas para capturar escravos e mantinha a escravidão no Quilombo de Palmares.
É verdade, eu falo mais ou menos isso no livro. É um anacronismo tolo acreditar (como fizeram historiadores de esquerda décadas atrás) que Zumbi, um indivíduo do século 17, defendia valores contemporâneos de liberdade e igualdade. Ele provavelmente vivia como um rei africano da época – lutava pela liberdade do seu grupo, não dos negros em geral.
Mas não considero Zumbi uma fraude e não vejo muito problema no feriado da Consciência Negra. Talvez outro personagem tenha sido mais relevante para o fim da escravidão e mereceria a homenagem mais que Zumbi. Uma alternativa é Luís Gama, o rábula (advogado sem diploma) que ajudou a libertar milhares de escravos em São Paulo e foi homenageado semanas atrás pela OAB (que proíbe a atividade de rábula hoje em dia; vai entender).
Mas feriados e datas comemorativas são assim mesmo: dizem mais sobre a época em que foram criados do que a data comemorativa em si. O Sete de Setembro só ganhou a importância atual 40 anos depois de ter ocorrido – em 1862, com a inauguração da estátua equestre de dom Pedro I no centro do Rio de Janeiro. Quem vê inconsistência no Dia da Consciência Negra precisa reclamar de outros feriados brasileiros.
Com ou sem escravos, Zumbi continua sendo um personagem relevante na história do Brasil. O fato de ter capturado e mantido escravos não o torna uma fraude, apenas um personagem do seu tempo. Assim como donos de engenhos de cana-de-açúcar, traficantes de escravos ou reis europeus e africanos que lucraram com a escravidão.
@lnarloch