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Caçador de Mitos

Por Leandro Narloch Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Uma visão politicamente incorreta da história, ciência e economia

Os tropeços de Mercadante sobre Galileu

Numa única frase, o ministro da Educação conseguiu reunir três erros sobre a história do astrônomo florentino

Por Leandro Narloch
Atualizado em 30 jul 2020, 22h48 - Publicado em 6 Maio 2016, 14h57

O ministro da Educação precisa voltar para a escola. Na quarta-feira, comentando o projeto de lei que impede professores da rede pública de emitirem opiniões ideológicas durante a aula, Mercadante disse o seguinte:

Não podemos voltar ao tempo da Inquisição, em que Galileu Galilei foi queimado porque achava que a Terra era redonda, e a ‘Fé’, não.

É difícil achar uma frase tão curta e tão cheia de mitos. Vamos lá:

  1. Galileu não tentava convencer ninguém de que a Terra é redonda. Isso todo mundo já sabia no século 17. Suspeitava-se da esfericidade da Terra desde a Grécia Antiga; as grandes navegações, mais de um século antes da condenação de Galileu, encerraram o assunto. O que o astrônomo defendia é que a Terra se move.
  2. Galileu não foi queimado pela Inquisição. Todo mundo sabe que, pouco antes de ser condenado pela Igreja, ele voltou atrás e jurou ter abandonado a ideia do movimento da Terra. Tampouco foi torturado ou preso em masmorras. Durante o julgamento em Roma, ficou hospedado na casa do embaixador da Toscana e, depois, em aposentos do Santo Ofício reservado a visitantes ilustres. Tinha acesso ao pátio e era servido por funcionários da casa.
  3. É verdade que a Igreja cometeu uma lamentável perseguição a Galileu, mas é impreciso dizer que “a Fé” não acreditava no movimento da Terra. Essa polêmica dividia opiniões dentro e fora da Igreja. O dinamarquês Tycho Brahe, o astrônomo mais conceituado na época, concordava com o movimento de todos os planetas – menos o da Terra, que para ele estava parada no centro do Universo. Na Itália, os melhores amigos de Galileu eram bispos; os dois principais opositores eram professores universitários. Ludovico delle Colombe, autor de uma crítica a Galileu chamada “Contra o movimento da Terra”, era um filósofo natural; Cesare Cremonini, que se recusou a olhar no telescópio por acreditar que Galileu era um charlatão que criava ilusões de ótica, era professor da Universidade de Pádua.

De fato há problemas no projeto de lei que limita opiniões religiosas e políticas dos professores da rede pública. Seria preciso definir o que é uma opinião neutra e limitar a liberdade em sala de aula. Mercadante tinha argumentos de sobra para criticar o projeto – não precisava se atrapalhar com uma história que não conhece.

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@lnarloch

* Para quem se interessar pelo conflito de Galileu com a Igreja e o ambiente científico da época, há mais detalhes no meu livro Guia Politicamente Incorreto da História do Mundo

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