Mito: “é preciso proteger a indústria nacional”
O protecionismo transforma a "indústria infante" num adulto mimado, incapaz de competir no mercado internacional
O que mais espanta na notícia sobre a queda da produção industrial (os piores números em uma década) é perceber que as máquinas pararam apesar de toda a proteção que o governo brasileiro deu à indústria nos últimos anos.
Poucos países têm a economia tão fechada a importações quanto o Brasil; as regras de conteúdo nacional criadas em 2012 ainda estão por aí. E, mesmo com a alta do dólar, que favorece exportações, nada da indústria despertar.
Eu disse acima “apesar de toda a proteção”, mas talvez o correto seja “por causa de toda a proteção”. Pois a atitude antiga de proteger a indústria nascente é um tiro no pé. Com os concorrentes estrangeiros fora do páreo, as empresas nacionais deixam de investir em inovação e ajustam o preço ao nível dos importados. A indústria infante se torna um adulto mimado, incapaz de competir no mercado internacional.
Já sabíamos disso em 2012, quando Dilma deu uma de Geisel e aumentou tarifas de importações. Já sabíamos disso no fim dos anos 1980, quando os brasileiros, exaustos de ter que dirigir as “carroças” nacionais, elegeram como presidente o primeiro picareta que prometeu abrir o mercado aos importados.
Já sabíamos disso em 1952. Basta ler o economista Eugênio Gudin reclamando da “excessiva proteção ao produtor ineficiente, o que permite e dá lugar a um tão grande desperdício dos escassos fatores de produção do país.”
Já sabíamos do risco do protecionismo mesmo em 1898. Bernardino de Campos, então ministro da Fazenda, formulou nessa época um argumento que caberia sem emenda nos jornais de hoje:
Nossa indústria não raras vezes falseia sua missão, ou produzindo artigos ruins, que não podem competir com os estrangeiros, ou aperfeiçoando as suas manufaturas, mas acompanhando o preço similar do importado. É sempre o consumidor o prejudicado e o que menos aproveita a partilha dos favores da tarifa. O protecionismo de Estado, está cabalmente demostrado, tem produzido efeitos negativos, em relação ao aproveitamento público, porque sacrifica uma parcela da fortuna da coletividade em proveito de um grupo de privilegiados.
Faz pelo menos 117 anos que economistas advertem sobre os males do protecionismo. Mas o viés anti-estrangeiro, a pressão dos fabricantes nacionais e a ignorância econômica dos políticos sempre fala mais alto.
@lnarloch