
Muita gente se estarreceu com a pesquisa da Fecomercio segundo a qual os brasileiros gastam mais em beleza (20,3 bilhões de reais) que em educação (17 bilhões). “É por isso que o país não vai pra frente”, vi alguém dizer no Facebook. Pois eu saio em defesa dos vaidosos. Se o objetivo do consumo é aumentar o salário, gastar na manicure e no cabeleireiro não é tão absurdo quanto parece.
Não dá pra negar a importância da educação para a renda. O salário dos brasileiros cresce em média 15% a cada ano de estudo, segundo uma pesquisa da FGV de 2008. Esse retorno da educação diminui à medida que todos se escolarizam. Está em 17% no Nordeste, 12% na região Sul e apenas 6% na Suécia.
Mas a “taxa de retorno da beleza” tampouco é desprezível. Um bocado de estatísticas mostra que pessoas pouco atraentes e mal cuidadas ganham menos, têm menos chances de serem contratadas e são demitidas com mais facilidade.
Nos Estados Unidos, um dos primeiros estudos sobre o tema concluiu que mulheres consideradas feias por voluntários ganhavam 4% menos que a média, enquanto as bonitas tinham um salário 8% acima da média. No caso dos homens, o bônus à beleza é menor (4%) mas a penalização aos feios é de 13%. Na China, a diferença de salários entre funcionários feios e bonitos chega a 28%. Não há estudos similares no Brasil.
Gastar na academia ou na nutricionista também vale a pena. Na Suécia, um estudo classificou homens de acordo com o peso que eles apresentaram ao se alistarem no Exército. Quem estava acima do peso, décadas depois, tinha um salário 16% menor que a média.
Há ainda outro motivo para investir mais em beleza que em educação. Não existem manicures grátis, mas escolas, sim. Cálculos de retorno da educação, como o da FGV que eu citei acima, relacionam salários a anos de estudo, e não ao dinheiro gasto pelas famílias com escolas particulares. As pesquisas não diferenciam anos de estudo em escolas privadas ou públicas. Já a relação entre investimento dos pais e salário dos filhos no futuro é muito mais frágil. No ensino superior, a relação é até inversa – quem estudou em universidades gratuitas costuma ter salários melhores que a turma de faculdades privadas.
Alguém pode argumentar que não devemos nos adequar ao preconceito do mercado de trabalho. Mas discriminações assim são difíceis de combater e até mesmo de serem percebidas. Nunca deixarão de existir. Ao conhecer uma pessoa, instintivamente procuramos sinais da aparência que mostrem status, origem ou nível cultural. Enquanto não se consegue controlar o viés dos avaliadores e especialistas em Recursos Humanos, vale a pena, sim, investir em beleza.
@lnarloch