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Caçador de Mitos

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Uma visão politicamente incorreta da história, ciência e economia

A Teoria Geral do Sedentarismo

Quatro ideologias para defender a preguiça e manter a aversão a academias de ginástica*

Por Leandro Narloch
Atualizado em 4 jun 2024, 23h29 - Publicado em 28 jun 2016, 11h37

Erram os sedentários quando decidem ceder às pressões de familiares e submeter-se a exercícios físicos. Os sedentários não precisam de exercícios: precisam de uma teoria. Defender uma teoria do sedentarismo exige muito menos esforço que largar o sedentarismo.

Teorias se fundamentam numa narrativa capaz de identificar a fonte do mal da sociedade e alertar quanto à urgência em combatê-lo. Como há sedentários das mais diversas preferências políticas e ideologias, precisamos de diversas teorias do sedentarismo. Apresento quatro delas abaixo; os leitores estão livres para formular outras nos comentários.

A Teoria Petista do Sedentarismo

O combate às injustiças sociais implantado pelo companheiro Lula e mantido pela presidenta Dilma levou a duas consequências inusitadas: o excesso de comida na mesa dos brasileiros e a falta de necessidade de se movimentar. Quem diria que o povo sofrido, acostumado a passar fome durante tantos governos da elite, agora pode desfrutar de abundância e obesidade. Não devemos negar essa feliz herança do lulo-petismo. É preciso que todos os brasileiros abandonem antigos preconceitos e sejam fiéis ao sedentarismo, exibindo sem vergonha a abundância de seus corpos. Do alto de sua varanda gourmet, a elite paulistana, avessa ao Brasil real, defende a prática de exercícios físicos porque nega o apreço à preguiça (esse traço tão popular, tão brasileiro) e propaga a meritocracia estadunidense das academias de ginástica. Não vai ter esteira!

A Teoria Reacionária do Sedentarismo

É natural que, numa sociedade sem valores cristãos, em que a família é considerada um obstáculo à felicidade, o homem negue suas limitações, sua finitude, e cultue o próprio corpo como a um deus. Como diz o professor Olavo, com muita propriedade e conhecimento, “esses atletas são tudo uns *, eles que vão todos tomar no *, esses filhos da *”. Exercícios físicos provocam mudanças bruscas e rupturas, e portanto são ameaças à paz e às tradições tão necessárias à cooperação social. Títere do Foro de São Paulo, a esquerda brasileira tenta nos convencer a correr e andar de bicicleta porque quer faturar milhões em obras superfaturadas de ciclovias e assim financiar as Farc e o avanço do bolivarianismo na América Latina. Fora, fitness!

A Teoria Feminista do Sedentarismo

Sob a ótica do patriarcado opressor, mulheres altas e magras consagram o novo modelo estético. Alcançar esse padrão se tornou uma obsessão cada vez mais árdua pelo “corpo ideal”. Academias estão lotadas e as cirurgias plásticas para colocar silicone e lipoaspirações são cada vez mais comuns. Exercitar-se é submeter-se a padrões heteronormativos, à objetificação do corpo feminino e à ditadura da beleza reproduzida à exaustão em imagens midiáticas. Precisamos abandonar as academias e ir para as ruas lutar por leis que incluam mulheres obesas e sedentárias nas propagandas de TV, nos cargos mais altos das grandes empresas e nos filmes de conteúdo adulto. Eu luto contra a ditadura da beleza!

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A Teoria Liberal do Sedentarismo

A influência marxista nas escolas leva muitos brasileiros a rejeitar o acúmulo de calorias. Isso é um equívoco. Acumular – ouro, bitcoins ou quilinhos a mais – é belo, é virtuoso. A pressão por corpos magros e atléticos revela a aversão típica dos socialistas à prosperidade do mundo liberal e à abundância que só o capitalismo é capaz de produzir. É preciso notar ainda que o sedentarismo provoca problemas de saúde apenas porque o estado (sempre ele) impõe burocracias e entraves que dificultam pesquisas médicas e impedem a livre iniciativa dos laboratórios farmacêuticos. Por fim, todo bom economista sabe que é preciso gastar menos do que se arrecada – essa regra também vale para calorias. Menos supino, mais sofá!

@lnarloch

*Este texto é um plágio descarado de The General Theory of Not Gardening, do filósofo Leszek Kolakowski.

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