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Balanço Social

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Um olhar diferente para as desigualdades do Brasil

Em duas décadas, Ideb evoluiu em todas as etapas da educação básica

Análise exclusiva feita pela ONG Todos pela Educação mostra que alguns estados avançaram mais. Evolução foi maior nos anos iniciais

Por Andréia Peres Atualizado em 8 out 2024, 09h47 - Publicado em 8 out 2024, 09h00

Tive o privilégio de entrevistar Paulo Freire (1921-1997) quando ele foi secretário de Educação da prefeita Luiza Erundina, na cidade de São Paulo, entre 1989 e 1991. Mais de trinta anos se passaram e nunca esqueci a longa conversa que tive com ele. Como gestor, Paulo Freire continuava sendo o educador maravilhoso que sempre foi. Não tinha dúvidas sobre o papel transformador da educação, uma educação emancipadora e de qualidade, e da sua importância para o futuro da democracia.

Educação é, sem dúvida, um investimento fundamental e necessário para o Brasil. Como qualquer bom investimento, seus resultados, no entanto, não aparecem de uma hora para outra. Por isso, observar a trajetória de longo prazo é fundamental.

 “Política educacional não se faz de um dia para o outro. Precisa de tempo, de continuidade, de melhorias contínuas”, diz Gabriel Barreto Corrêa, diretor de Políticas Públicas da ONG Todos pela Educação, em entrevista à coluna.

O Todos pela Educação elaborou com exclusividade para a coluna uma análise da evolução do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2005 a 2023, em todos os estados e etapas da educação básica.

ANOS INICIAIS E FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

“Os anos iniciais foram nos quais o Brasil mais avançou nesse recorte histórico do Ideb”, diz ele. “Todos os estados avançaram, alguns mais do que outros.” Ceará, Alagoas e Piauí, por exemplo, mais do que dobraram o Ideb. Ceará passou de 2,8, em 2005, para 6,5, em 2023; Alagoas saltou de 2,4 para 5,7 e Piauí foi de 2,6 para 5, 7, no mesmo período (veja gráfico).

Ideb de 2005 a 2023 – Anos iniciais

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Nos anos finais também houve avanços, mas menores. Alguns estados, como Rio Grande do Sul e Distrito Federal, tiveram progressos bem tímidos para um período de 18 anos. O Rio Grande do Sul, por exemplo, passou de 3,6, em 2005, para 4,7, em 2023. Já o Distrito Federal foi de 3,3 para 4,6, no mesmo período (veja gráfico).

Ideb 2005 a 2023 anos finais
(Todos pela Educação/Divulgação)

“Falta aos estados um projeto educacional para os anos finais que olhe para as características próprias da adolescência nessa etapa de transição”, ressalta Gabriel Corrêa. Segundo ele, é uma fase com especificidades e particularidades e que tem sido esquecida. “Há muitos problemas de saúde mental hoje nas escolas, muitos jovens não se sentem parte da escola ou acolhidos por ela”, avalia.

ENSINO MÉDIO

No ensino médio, o Ideb também evoluiu ao longo das duas últimas décadas, mas de forma muito tímida. “Os avanços vão caindo no decorrer da educação básica”, observa o especialista.

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Goiás, Piauí e Pernambuco foram os estados que mais evoluíram no Ideb no período (veja gráfico). Goiás, hoje, tem o melhor índice (4,8), o que não era uma realidade em 2005, quando seu índice era de 2,9. Piauí quase dobrou o Ideb, saltando de 2,3 para 4,3. Já Pernambuco passou de 2,7 para 4,5.

Santa Catarina, por sua vez, foi o estado que menos avançou. Em dezoito anos, evoluiu tímidos 0,3 ponto. “Tinha o maior indicador entre redes públicas em 2005 e hoje tem o 16º maior resultado”, analisa Gabriel. Acompanham como menores evoluções no período os estados de Roraima (de 3,2 para 3,6), Rio Grande do Sul (de 3,4 para 3,9) e Rio de Janeiro (de 2,8 para 3,3).

Gabriel destaca que o Rio de Janeiro teve o segundo pior resultado entre as redes estaduais do país em 2023 e, em 2013, chegou a ter o quarto melhor Ideb do ensino médio.

Evolução do Ideb de 2005 a 2023 – Ensino médio – Redes estaduais
(Todos pela Educação/Divulgação)
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“Ao longo do tempo, o sucesso do avanço ou o atraso se dão por uma sequência de acertos ou por uma soma de gestões erráticas”, acredita. Levantamentos como esse feito pelo Todos pela Educação para a coluna são fundamentais para entendermos o cenário numa perspectiva histórica e cobrarmos políticas educacionais efetivas. Como dizia Paulo Freire, “educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”.

* Jornalista e diretora da Cross Content Comunicação. Há mais de três décadas escreve sobre temas como educação, direitos da infância e da adolescência, direitos da mulher e terceiro setor. Com mais de uma dezena de prêmios nacionais e internacionais, já publicou diversos livros sobre educação, trabalho infantil, violência contra a mulher e direitos humanos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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