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Augusto Nunes

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Verdades e mentiras das eminências pardas

Que as eminências que hoje assessoram Jair Bolsonaro se mirem nas eminências cujos cabelos brancos podem atestar que mentir prejudica a todos

Por Deonísio da Silva
Atualizado em 4 jun 2024, 16h05 - Publicado em 27 jan 2019, 11h22

Deonísio da Silva

Nossos homens públicos não dizem “Você é um mentiroso”, quando xingam uns aos outros. Dizem: “Vossa Excelência está faltando com a verdade”, este delicado eufemismo para mentira.

Na semana passada, no programa Sem Papas na Língua, da Universidade Estácio de Sá & Rádio Bandnews Rio, que faço semanalmente há alguns anos com o jornalista Ricardo Boechat, tratamos da etimologia destas palavras e expressões. O programa pode ser ouvido ou bisbilhotado aqui.

Na ocasião, lembramos aos ouvintes que é Veritas, verdade em latim, o lema da prestigiosa universidade Harvard, nos EUA, onde fez um curso emblemático de especialização em Direito o ex-juiz e agora ministro Sergio Moro, conhecido nacional e internacional por seu empenho em descobrir a verdade por trás de mentiras, contando com delações de eminências pardas que ajudaram seus chefes a montar uma rede de corrupção para lavar dinheiro, causando extraordinários prejuízos ao povo brasileiro que diziam representar, defender e proteger.

Grande e estranho é o mundo, como diz o título do romance do peruano Ciro Alegría sobre a luta dos índios contra os poderes locais, que, auxiliados pelos EUA, querem destruí-los.

Hoje, os investidores, sobretudo estrangeiros, estão também empenhados em moralizar os contratos, do contrário como investir? Os velhos métodos da corrupção causam-lhes problemas insuperáveis.

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Ocorre que a estátua do fundador da Universidade Harvard, o pastor inglês John Harvard, bacharel em Artes, filho de um açougueiro e sobrevivente de uma peste bubônica que dizimou sua família e o fez migrar para os EUA, onde morreu de tuberculose aos trinta anos, é conhecida como a estátua das três mentiras, a saber:

  1. Ele não foi o fundador da college, nome inglês para faculdade, que então mudou para university; ele apenas doou cerca de quinhentos livros à instituição.
  2. A inscrição na estátua informa que a universidade foi fundada em 1638, mas a data correta é 1636.
  3. John Harvard não está representado na estátua. O escultor Daniel Chester French criou a figura dois séculos depois, utilizando de modelo um aluno chamado Sherman Hoar.

Lemas de outras universidades ensejam outras reflexões. O lema da maior universidade brasileira, a USP, é Sciencia vinces  (Vencerás pela ciência). As universidades tradicionais, como é o caso da Harvard,  nasceram de cursos de Teologia, sem contar que até o século XVIII era o Latim a língua da ciência, como é agora o Inglês desde há algumas décadas.

Não se estranhem tantos lemas em latim nas universidades, uma vez que palavras, frases, provérbios e expressões latinas estão presentes em muitas outras instituições referenciais.

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O lema de São Paulo, potência econômica do Brasil, é Pro Brasilia fiant eximia (Pelo Brasil sejam feitas as melhores coisas) e o do município de São Paulo é Non ducor duco (Não sou conduzido, conduzo).

Soa quase deboche o lema do estado Rio de Janeiro, onde os governadores mais recentes estão presos ou já estiveram presos, em ações em que se destacaram outros juízes, como é o caso de Marcelo Bretas: Recte rem publicae gerere  (Gerir a coisa pública com correção). Sérgio Cabral Filho e Luiz Fernando de Souza, o Pezão, antecessor e sucessor, respectivamente, estão na cadeia. E o casal de ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho também já ficaram atrás das grades.

A verdade, porém, é difícil de descobrir, ainda mais depois que se tornaram tão complexas as ferramentas para ocultá-la. Mesmo por trás de intenções tão bonitas como os lemas, às vezes estão escondidas inverdades ou deslavadas mentiras, associadas preliminarmente a más intenções de roubar, corromper e lavar dinheiro nos projetos de vida de muitos políticos brasileiros, que inclusive formaram dinastias e organizações criminosas para atingir seus fins.

Que as eminências pardas que hoje assessoram o presidente Bolsonaro se mirem nas eminências cujos cabelos brancos podem atestar que mentir prejudica a todos.

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Os três erros na estátua de John Harvard não foram cometidos para enganar a ninguém, não são crimes. Sabemos que, por esperteza adicional, também a semântica vem sofrendo apropriações indevidas que procuram misturar erro, pecado e crime num balaio só. Não. As três são coisas bem distintas.

De resto, a eminência era cinza na origem, porque esta era a cor do hábito do frade que assessorava o cardeal Richelieu, que, por sua vez, mesmo vestindo vermelho ou púrpura, a cor da hierarquia católica, era a eminência parda do rei francês Luís XIII.

Como no Brasil os pardos são uma categoria para definir as etnias brasileiras pelo IBGE — os pardos são a segunda em número, só perdendo para os brancos — e no escuro todos os os gados são pardos, tornou-se indispensável aparelhar-se melhor para discernir a verdadeira cor e sobretudo a verdade, como garante o Evangelho de São João: “conhecereis a verdade e ela vos libertará”.

No caso do Brasil, está libertando os humildes, as vítimas, e encarcerando os soberbos, como diz outro belo trecho bíblico do Novo Testamento, o Magnificat.

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É impressão deste escritor e professor ou os evangélicos brasileiros preferem citar mais o Antigo Testamento em suas homilias pelas redes de televisão?

*Deonísio da Silva
Diretor do Instituto da Palavra & Professor
Titular Visitante da Universidade Estácio de Sá
https://portal.estacio.br/instituto-da-palavra

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