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Augusto Nunes

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Valentina de Botas: O xeque-mate da Justiça e a aula magna de cinismo

VALENTINA DE BOTAS Lindo dia este em que o país indignado assistiu eufórico à aula prática de civilidade a que o rei da era da canalhice foi submetido. Num xeque-mate, o juiz Sergio Moro aplicou uma lição simples: a de que ninguém está acima da lei. O jeca e respectivos devotos, refratários a essa luz […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 30 jul 2020, 23h22 - Publicado em 5 mar 2016, 17h22

VALENTINA DE BOTAS

Lindo dia este em que o país indignado assistiu eufórico à aula prática de civilidade a que o rei da era da canalhice foi submetido. Num xeque-mate, o juiz Sergio Moro aplicou uma lição simples: a de que ninguém está acima da lei. O jeca e respectivos devotos, refratários a essa luz civilizatória mínima para qualquer país se viabilizar, reagiram como sempre: reafirmando a mentira como um modo de estar no mundo e, para ser escuridão em manhã plena de luz, Lula responde ao xeque-mate da Justiça ministrando uma aula magna de cinismo.

Insistindo em deformar a realidade, o jeca amputou a verdade mediante o vitimismo de drama de circo; a clivagem já ineficaz entre “nós” e “eles”, excetuado o bando devoto; a tentativa inútil de fazer o juiz Sergio Moro, a pessoa mais admirada no país atualmente, parecer detestável. Um metalúrgico não pode ter um sítio? Claro que sim: ao milionário Lula, assim como a qualquer cidadão, basta adquiri-lo honestamente e declarar o bem. Onde guardar 11 contêineres da mudança? Um bazar beneficente com os presentes cedidos pelo amigão dos pobres teria sido uma boa maneira de aliviar essa carga. Necessária a condução coercitiva? Pergunte-se ao procurador Cássio Conserino que não pôde colher o depoimento do casal fujão que debocha da lei.

A fala expelida das profundezas da pilantragem profissional germina naquilo em que é mestre: falsidade, truculência e arrogância que têm, no coração do caudilho, ninho indevassável. Do que mais precisa para triunfar um homem primitivo com esse talento insuperável para a farsa? Gerado no peleguismo sindical, amamentado no colo da ditadura, amadurecido nos braços das esquerdas na redemocratização, a Lula só faltava a chave do cofre e, de lambuja, um ambiente semicivilizado, inóspito à dissidência, ao cumprimento das leis e ao confronto político.

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Dono da chave do cofre eleito presidente, tratou de degradar ainda mais o ambiente, o que o eternizaria na posse da chave, uma coisa garantindo a outra. Muito simples: cooptação de capitalistas selvagens, colonização ideológica, demagogia, sabotagem da democracia, compra de consciências. Até a manhã luzidia desta sexta-feira a que a Lava Jato e a conduta serena e segura de Sergio Moro nos trouxeram, acelerando o desmanche da farsa iniciado há algum tempo com a nação exangue que tenta se reerguer como pode, apoiada nas instituições falhas e tardias, no jornalismo independente que resiste e abandonada pela oposição.

Depois do depoimento, a fala de Lula traduziu um líder – para os devotos incuráveis – que, atingido, se fortalece e se apresenta para liderar, precisamente, os devotos incuráveis. Mas também mostra que, cego pela luz da manhã radiosa, não vê que ela vai raiar ainda outras vezes em desdobramentos saneadores do primitivismo que a súcia quis eternizar e que esse xeque-mate é apenas parte disso. O jeca que se vê como herói de dramas falsos ignora a verdadeira tragédia pessoal da farsa que se crê mito: como disse Isaac Asimov, na vida, ao contrário do xadrez, o jogo continua após o xeque-mate.

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