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Augusto Nunes

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Valentina de Botas: ‘Jornalões reescrevem a própria biografia com a tinta da covardia’

As palavras vêm de onde? Do dicionário, diz minha filha pré-adolescente. Está escrevendo a autobiografia para reescrevê-la a cada 10 anos. Pois é. Será que elas vêm do pensamento? Machado de Assis esculpiu o conto magnífico “O Cônego ou a Metafísica do Estilo”, em que Sílvio (o adjetivo) e Sílvia (o substantivo) se procuram pela […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 02h30 - Publicado em 6 dez 2014, 22h27

As palavras vêm de onde? Do dicionário, diz minha filha pré-adolescente. Está escrevendo a autobiografia para reescrevê-la a cada 10 anos. Pois é. Será que elas vêm do pensamento? Machado de Assis esculpiu o conto magnífico “O Cônego ou a Metafísica do Estilo”, em que Sílvio (o adjetivo) e Sílvia (o substantivo) se procuram pela mente do cônego que tenta escrever um discurso. Na peleja intelectual e intelectiva, Machado mostra que Sílvio e Sílvia não se conhecem nem se dão a conhecer ao cônego com facilidade. Mas ele sabe que em algum lugar hão de haver um Sílvio e uma Sílvia.

De onde eles vêm? Ora, também posso escrever uma autobiografia. Fiquei pensando no que aprendi, um fazer que acho definidor de biografias: ler e escrever, sem parar de aprender. Não é pouca coisa. Nossa língua tem sutilezas maravilhosas que vêm do próprio interior dela. Por exemplo, o moço da quitandinha perto de casa responde assim quando pergunto se já chegaram aquelas lichias: “quês lichia?”. Outro exemplo, o feminino de peixe-boi é… peixe-mulher! E tinha o deputado Abi-Ackel falando “Acho essa questão despicienda”, sem rir nem ficar vermelho.

Sílvio e Sílvia, peixe-mulher, o plural do moço da quintandinha, Abi-Ackel, tudo isso tem graça, espanto e erudição. Realça a substância fugidia do idioma e mesmo da linguagem. Insuportável é o politicamente correto que avilta realidades e a intolerável afilhada dela, a tal novilíngua das redações em que o PT é o queridinho há décadas e onde a verdade é língua morta.  Os redatores analfabetos no idioma da verdade não me fazem refletir sobre de onde vêm as palavras que usam para não contar os fatos, mas para onde elas vão.

Esse tipo de jornalismo pequeno da grande imprensa deveria se questionar para quem e para o que escreve. Se tivesse coragem para isso, reconheceria que suas palavras a têm tangido para o abismo onde faz a verdade tombar. Uma emboscada para si e para a democracia inevitavelmente. Legitimando uma versão para a verdade que verdade já não é, os jornalões espelham o país deformado em que cidadãos que se manifestavam dentro da ordem e da lei são barrados na casa do povo enquanto o ministro da casa civil  promoveu os deliquentes black blocs a interlocutores.

Estabelecendo uma narrativa do que não houve, as respectivas manchetes têm de ser lidas pelo filtro da ironia já que tratam a realidade brasileira como questão despicienda.  Os jornalões reescrevem, então, a própria biografia com a tinta da covardia e da melancolia. Continuemos traduzindo esses jornalistas para o idioma da verdade. Aliás, quês jornalista?

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