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Um ano depois da descoberta do escândalo estrelado por Lula e Rose, o país continua querendo saber quem fez o quê

PUBLICADO EM 4 DE DEZEMBRO JÚLIA RODRIGUES Um ano depois do desfecho da Operação Porto Seguro, promovida pela Polícia Federal para desbaratar uma quadrilha especializada na comercialização de pareceres fraudulentos emitidos por agências reguladoras, a única mulher envolvida no escândalo é também a única integrante do bando cuja vida mudou para pior. Chefe do escritório […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 04h40 - Publicado em 13 jan 2014, 18h52

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PUBLICADO EM 4 DE DEZEMBRO

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JÚLIA RODRIGUES

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Um ano depois do desfecho da Operação Porto Seguro, promovida pela Polícia Federal para desbaratar uma quadrilha especializada na comercialização de pareceres fraudulentos emitidos por agências reguladoras, a única mulher envolvida no escândalo é também a única integrante do bando cuja vida mudou para pior.

Chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo desde 2004, Rosemary Nóvoa de Noronha reinou no 17° andar do prédio do Banco do Brasil na Avenida Paulista até a descoberta de que o local fora reduzido a uma extensão de um grupo criminoso.

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Os chefes eram os irmãos Paulo Vieira, diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e Rubens Vieira, diretor da Agência Nacional de Águas (ANA). Além de Rose, participavam do segundo escalão figurões como José Weber de Holanda, número dois da Advocacia-Geral da União.

Escalada para agir no núcleo especializado em tráfico de influência ─ um dos três em que o bando se dividia ─ Rose valeu-se das relações íntimas que mantinha com Lula para a consumação de irregularidades suficientemente numerosas para promovê-la ao cargo informal de “Facilitadora-Geral da República”. A boa vida acabou em 23 de novembro de 2012, quando a Polícia Federal, munida de um mandado de busca e apreensão, invadiu o escritório e a casa da protegida de Lula.

Passado um ano, o acervo de reveses é de bom tamanho. A perda do salário de R$ 12 mil é a menos relevante. Uma mesada negociada com Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, tem livrado a desempregada de dificuldades financeiras. O que a transformou numa mulher amargurada foi a perda de outros privilégios que lhe garantiam a vida de segunda-dama.

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Deixou, por exemplo, de viajar no Aerolula, a bordo do qual fez 28 viagens internacionais em companhia do presidente como passageira clandestina, deixou de ser convidada para hospedar-se no Palácio Pamphili, a esplêndida relíquia arquitetônica que abriga a embaixada brasileira em Roma. Perdeu até o direito aos mimos que levaram a Polícia Federal a qualificá-la de petequeira. Essa expressão, utilizada nos meios políticos e empresariais, designa quem se deixa corromper por ninharias, como ingressos para camarotes no Carnaval do Rio de Janeiro, cruzeiros no litoral paulista, financiamentos de pequenas cirurgias ou apartamentos.

Indiciada em dezembro de 2012 pela Polícia Federal, Rose foi, pouco depois, denunciada pelo Ministério Público por formação de quadrilha, corrupção passiva, tráfico de influência e falsidade ideológica. Em setembro passado, a Controladoria-Geral da União decidiu exonerar a ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo, que nunca mais poderá ocupar cargos públicos federais. A CGU entendeu que Rose havia incorrido no crime de improbidade administrativa.

Para a mulher que nomeava parentes e amigos com o amparo do presidente, nada foi mais penoso que a perda do prestígio. Ela nomeou, por exemplo, os irmãos Vieira. Até agora, os comparsas não foram demitidos. Embora denunciados pelo Ministério Público Federal, os demais integrantes da quadrilha continuam recebendo salários do governo, como informou a reportagem de VEJA publicada neste 23 de novembro.

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Em público, Rose evita queixar-se dos problemas que enfrenta. Em troca do silêncio, ganhou um batalhão de advogados especializados em localizar brechas na Lei para adiar o andamento de processos com sucessivos recursos.  Ela mantém o direito de ir e vir. Mas evita exercê-lo para não se expor ao assédio de jornalistas. Enclausurada na casa da filha, Rose rumina as lembranças dos tempos em que exibia ostensivamente a proximidade com o ex-presidente, a quem se referia como “chefe” e “PR” (Presidente da República), deixando, eventualmente, escapar um “Luiz Inácio” para impressionar colegas de trabalho.

Agia com discrição apenas como passageira do Aerolula. Só embarcava quando Marisa Letícia não estava a bordo. Para driblar a vigilância da primeira-dama, que conferia os nomes incluídos na comitiva, Rosemary Noronha nunca aparecia na lista de passageiros publicada no Diário Oficial. É provável que se tenha transformado na viajante clandestina com a maior milhagem da história da aviação.

“Imagine uma pessoa que passou a vida pendurada no cheque especial e, de repente, recebe uma herança de um tio. Essa é a Rose”, resumiu um amigo. Motoristas, secretárias e copeiras que foram subordinados à imperatriz do escritório, revelam que gritos e humilhações públicas eram frequentes. Uma secretária alvejada por um dos chiliques, agravado pela ameaça de demissão, teve de ser hospitalizada para tratar a crise de hipertensão. Rose não só negou socorro à funcionária, como tirou-lhe o emprego.

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Tantos sintomas de deslumbramento são justificados pela biografia. Na década de 90, Rosemary Noronha sequer sonhava com a chegada ao coração do poder. Bancária, participava de algumas atividades no sindicato da categoria em São Paulo, instalado num prédio ao lado da sede nacional do PT. Despertou a atenção dos chefes não por intervenções em assembleias, mas pela silenciosa exibição de outros atributos, como as volumosas coxas e os cabelos longos. Chegou ao Partido dos Trabalhadores pelas mãos de José Dirceu, que a contratou como secretária. O chefe apresentou-a a Lula. Em 1994, ainda trabalhava com Dirceu quando passou a cuidar da agenda do futuro presidente. O estreitamento das ligações animou Lula a alojar a protegida no cargo de que foi destituída só em novembro de 2012.

A mudez de 12 meses só foi interrompida pela curta entrevista concedida a VEJA. Afirmou que seu relacionamento com o ex-presidente era “totalmente profissional”, baseado em “amizade e fidelidade”. “As nossas famílias se conhecem desde que as crianças eram pequenas”, disse. Ainda no começo da conversa, irritada com uma pergunta banal ─ como e quando havia conhecido Lula? ─ deu a entrevista por encerrada.

Lula também mantém distância da história muito mal contada. Dois dias depois da explosão do escândalo, declarou-se traído. “Eu me senti apunhalado pelas costas”, lamuriou-se. “Tenho muito orgulho do escritório da Presidência, onde eram feitos encontros com empresários para projetos de interesse do país”.

Em março, numa entrevista ao jornal Valor Econômico, criticou a cobertura o noticiário da imprensa sobre o Caso Rose. “Quando as coisas são feitas de muito baixo nível, quando parecem mais um jogo rasteiro, eu não me dou nem ao luxo de ler nem de responder”, desconversou o entrevistado. “Porque tudo o que o Maquiavel quer é que ele plante uma sacanagem e você morda a sacanagem”.

Lula continuava procurando algum álibi consistente em setembro, mostrou a entrevista concedida ao Correio Braziliense. “A CGU julgou um relatório feito pela Casa Civil. E pelo que vi do relatório, ele confirma as conclusões da Casa Civil”, resumiu. “Todo servidor que comete algum ilícito tem de ser exonerado”.

Neste começo de dezembro, os brasileiros ainda continuam à espera de explicações menos rasas. O país quer saber, por exemplo, todos os detalhes da mesada que Rose recebe. Ou quem banca o batalhão milionário de 40 advogados incumbidos de defendê-la. Lula faz de conta que não há o que explicar. É desmentido por, pelo menos, 40 perguntas formuladas pelo Brasil que presta. Fala, Lula. O país continua querendo saber.

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