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Pesquisa não é urna, popularidade não é voto, intérprete não é Obama

Barack Obama, convém contar o caso como o caso foi, jamais disse que Lula é “o cara”. Só poderia ter dito isso se falasse português. Quem disse foi o intérprete. “That’s my man”, assim se referiu o presidente americano ao colega brasileiro. “Esse é meu chapa”, ou “esse é dos meus”, ou “esse é gente minha” ─ qualquer dessas opções estaria […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 17h17 - Publicado em 13 jul 2009, 17h38

Barack Obama, convém contar o caso como o caso foi, jamais disse que Lula é “o cara”. Só poderia ter dito isso se falasse português. Quem disse foi o intérprete. “That’s my man”, assim se referiu o presidente americano ao colega brasileiro. “Esse é meu chapa”, ou “esse é dos meus”, ou “esse é gente minha” ─ qualquer dessas opções estaria de bom tamanho. Como conhece o chefe, o intérprete escolheu arbitrariamente a fórmula que incharia de orgulho o pastor vaidoso e induziria a balidos emocionados o rebanho cada vez mais jeca.

O confisco do título que Romário se atribuíra era o que faltava para que fosse promovido  a senhor das urnas o dono de um currículo eleitoral pouco brilhante. Em 1982, Lula foi derrotado por Franco Montoro na disputa pelo governo de São Paulo. Elegeu-se deputado federal em 1986, mas perdeu para Fernando Collor a sucessão presidencial de 1989 ─ mesmo com o apoio, na segunda rodada, de Leonel Brizola, Mário Covas e Ulysses Guimarães.

Em 1994 e 1998, foi goleado por Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno. Precisou do segundo para vencer José Serra em 2002 e, vejam só, Geraldo Alckmin em 2006. Os institutos de pesquisa já o haviam transformado num fenômeno de popularidade quando o presidente teve de engolir um segundo duelo com o concorrente ligeiramente mais carismático que qualquer vereador do Partido dos Aposentados da Nação.

Com o índice de popularidade já roçando os 100% (ou 103%, se a margem de erro oscilar para cima), Lula resolveu que Marta Suplicy seria prefeita e Micarla de Souza, não . “Marta vai ganhar em São Paulo”, decretou no fim de setembro em Nova Delhi. Empossada por Lula, a candidata do PT foi para casa levando sobre os ombros toneladas de votos em Gilberto Kassab. O eleitorado de Natal tampouco obedeceu à ordem do presidente, que transformara a vitória no Rio Grande do Norte em questão de honra. Micarla virou prefeita no primeiro turno.

O cara é mesmo bom de urna? Lula e seus devotos juram que sim, a oposição oficial acredita. O Brasil que pensa prefere pagar para ver. O currículo eleitoral informa que, por enquanto, o craque está mais para Sevilha que para Real Madrid.

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