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Augusto Nunes

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Os 40 anos da abertura comercial chinesa

É virtualmente impossível copiar a experiência chinesa. Contudo, pode-se aprender com ela

Por Marcos Troyjo
Atualizado em 30 jul 2020, 20h22 - Publicado em 11 ago 2018, 23h25

Marcos Troyjo

A China está comemorando 40 anos de sua política de abertura. Sob o comando de Deng Xiaoping, a dinâmica de reformas posta em marcha naquele ano propiciou o que muitos consideram o maior feito econômico da história da humanidade.

Há quatro décadas, um chinês médio era cerca de doze vezes mais pobre que um brasileiro. Hoje, ambos têm renda equivalente — e os chineses continuam em tendência ascendente.

O comércio internacional, para a China, operou milagres, e colocou o país em rota de ocupar o posto de maior economia do mundo — posição que ostentou por muitos séculos até o início do século 19, quando a Revolução Industrial (e também o comércio) fez os britânicos arremeterem.

Em alguns círculos acadêmicos, as medidas de Deng Xiaoping recebem o título de Política de Porta Aberta (Open Door Policy, em inglês).

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No presente contexto de guerra comercial e de debate, no Brasil, sobre se uma abertura deveria ser unilateral (em que o país não exige contrapartidas para abrir seu mercado interno) ou negociada (onde os princípio fortes são gradualismo e reciprocidade), vale a pena registrar no que consistiu a experiência chinesa.

O ponto de partida é o de que, nos anos 1970, havia no contexto global da Guerra Fria motivos eminentemente geopolíticos para que o Ocidente oferecesse benefícios apetitosos para a China. Daí, Pequim ter obtido, por meio de princípios como o da nação mais favorecida, acesso privilegiado, como base de exportações, a mercados de EUA e Europa.

Abertura, nesse caso, representou para a China, perspectiva de aumento das exportações e ao mesmo tempo importações (de insumos, máquinas, equipamentos e técnicas produtivas e gerenciais). Tal processo foi possibilitado, em sincronia, pelo dramático aumento do volume de investimento estrangeiro direto (IED) direcionado ao território chinês.

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Pouco desse IED foi atraído à China com o intuito de aproveitar a abertura no sentido de poucas restrições a vendas diretas ao consumidor chinês. Todo o esforço foi no propósito de transformar a China numa robusta máquina exportadora.

A abertura chinesa também foi implementada mediante modalidades daquilo que hoje classificaríamos como PPPs (parcerias público-privadas). O capital estrangeiro que chegava à China — para valer-se das vantagens exportadoras e do acesso ao amplo e barato estoque de mão de obra — era também convidado (na satisfação de seus próprios interesses) a investir em infraestrutura.

Tudo isso permitiu aos chineses fortalecer seus canais logísticos e energéticos num instante em que os recursos endógenos para tal simplesmente inexistiam.

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A porta aberta chinesa também significou mostrar-se para o mundo. Os últimos 40 anos foram de intensos road shows sobre produtos, habilidades e oportunidades para investimento na China. E os estrategistas chineses logo perceberam a importância do turismo de negócios. Já faz vinte anos que a China se converteu no maior polo realizador de feiras e exposições comerciais do mundo.

Hoje, para qualquer país, seja por diferente contexto histórico ou escala, é virtualmente impossível copiar a experiência chinesa. Pode-se, no entanto, com ela aprender — sobretudo em termos da importância de coordenar diferentes vetores (industriais, diplomáticos, cambiais, infraestruturais, etc.) para a obtenção de resultados positivos.

Longe de apenas uma mera redução de tarifas ou quotas de importação, a abertura chinesa foi um complexo e multifacetado projeto de inserção internacional.

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