O trunfo do caçador de maracujás
Na noite de 14 de dezembro de 1989, no segundo dos cinco blocos do derradeiro debate da campanha presidencial, Fernando Collor encaixou, no meio de uma resposta sobre casas populares, a informação de que Lula teria “aparelhagens ultramodernas e sofisticadas de som” que ele próprio “ainda não havia tido oportunidade de ter”. O comentário pareceu tão absurdo quanto a ausência […]
Na noite de 14 de dezembro de 1989, no segundo dos cinco blocos do derradeiro debate da campanha presidencial, Fernando Collor encaixou, no meio de uma resposta sobre casas populares, a informação de que Lula teria “aparelhagens ultramodernas e sofisticadas de som” que ele próprio “ainda não havia tido oportunidade de ter”.
O comentário pareceu tão absurdo quanto a ausência de respostas ou revides: na réplica, um Lula com expressão mais cansada, confuso e embaraçado, esfregando nervosamente as mãos, não tocou no assunto. Soube-se só mais tarde que Collor começou a explorar o tema na véspera.
Em São Paulo, de volta da visita à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em Brasília, Lula recebeu dois telefonemas anônimos. O primeiro avisou que Collor revelaria durante o debate que Lula aproveitou a passagem pela capital para presentear uma amiga jornalista com um aparelho de som. O segundo informava que as provas estariam armazenadas numa pasta verde.
Uma pilha de pastas permaneceu todo o tempo diante de Collor. Terminado o segundo bloco, a verde não estava mais lá. O golpe surtiu efeito. Lula terminou o debate dizendo que Collor, embora se proclamasse “caçador de marajás”, não passava de um caçador de maracujás. Ninguém entendeu.
(A íntegra do debate pode ser conferida no site do YouTube, dividida em 17 partes)