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O hino à imbecilidade e o monumento ao cinismo

Para fingir que não soube do pedido de socorro emitido por 42 presos políticos cubanos,  o presidente Lula compôs um hino à imbecilidade. “As pessoas precisam parar com esse hábito de fazer cartas, guardarem para si e depois dizerem que mandaram para os outros”, começou. Como se o texto não tivesse sido reproduzido por todos […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 15h51 - Publicado em 25 fev 2010, 13h20

Para fingir que não soube do pedido de socorro emitido por 42 presos políticos cubanos,  o presidente Lula compôs um hino à imbecilidade. “As pessoas precisam parar com esse hábito de fazer cartas, guardarem para si e depois dizerem que mandaram para os outros”, começou. Como se o texto não tivesse sido reproduzido por todos os jornais do país. “Quando uma pessoa manda uma carta para um presidente, no mínimo, só pode dizer que o presidente a recebeu se protocolar a carta”, concluiu. Como se a ditadura dos irmãos amigos se dispusesse a fretar um avião para depositar na Praça dos Três Poderes um dos signatários do documento.

Para culpar o preso político Orlando Zapata Tamayo pela própria morte, Lula ergueu um monumento ao cinismo. “Lamento profundamente que uma pessoa se deixe morrer por fazer uma greve de fome”, começou, com um “se” obsceno. Como se Zapata tivesse permanecido 85 dias sem se alimentar para aprender o ofício de faquir. “Vocês sabem que sou contra, porque fiz greve de fome”, concluiu. Como se merecesse tal qualificação o anedótico jejum que simulou durante a paralisação dos metalúrgicos do ABC entre abril e maio de 1980.

“O pessoal escondia bala, acordava para roubar bolacha, uma vergonha”, diz José Maria de Almeida, um dos participantes da comédia. Em 1997, como atesta o video abaixo, Lula confessou que tentara contrabandear para a cela um pacote de balas Paulistinha. A pedido dos próprios metalúrgicos, em busca de uma saída honrosa para o falso problema, o cardeal Paulo Evaristo Arns solicitou-lhes que encerrassem o que nem começou. O fim da paródia foi celebrado com um amistoso jantar entre encarcerados e carcereiros. “Fiquei tão contente quando a greve de fome acabou que mandei servir lula a dorê para o pessoal”, conta o agora senador Romeu Tuma.

O depoimento gravado em vídeo atesta que, enquanto os companheiros permaneceram hospedados no Dops, o delegado Tuma transformou o que deveria ser uma prisão do regime autoritário num aconchegante hotel com celas. Lula nem faz ideia do que é uma cadeia de ditadura. Nunca soube o que é greve de fome. Conjugados, o falatório em Cuba e as declarações de 1997 avisam que o mundo deste começo de século será lembrado como um deserto de estadistas. É esse o habitat do governante das cavernas.

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