Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Augusto Nunes

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Com palavras e imagens, esta página tenta apressar a chegada do futuro que o Brasil espera deitado em berço esplêndido. E lembrar aos sem-memória o que não pode ser esquecido. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

O governo da potência de araque não para de esbanjar lá fora o dinheiro que falta aqui

BRANCA NUNES Neste 7 de maio, o governo federal comemorou a aprovação na Câmara dos Deputados da PEC 665, embrulho incluído no balaio do ajuste fiscal que altera regras no seguro-desemprego. Mais uma vez, Dilma Rousseff e seus parceiros avisaram que é pelo bem do Brasil que a população será sacrificada. A mesma cantilena foi […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 01h21 - Publicado em 19 Maio 2015, 08h43

1390853892_914410_1390861068_noticia_normal

BRANCA NUNES

Neste 7 de maio, o governo federal comemorou a aprovação na Câmara dos Deputados da PEC 665, embrulho incluído no balaio do ajuste fiscal que altera regras no seguro-desemprego. Mais uma vez, Dilma Rousseff e seus parceiros avisaram que é pelo bem do Brasil que a população será sacrificada. A mesma cantilena foi entoada para que os pagadores de impostos aceitem outra contradição absurda: os parteiros do slogan Brasil – Pátria Educadora cortaram  R$ 500 milhões da verba que deveria garantir a professores e bibliotecas públicas o suprimento de livros didáticos. Há alguns dias, enfim, o Ministério da Educação confessou que não resta um único tostão para investir no FIES.

A indigência financeira, cujo codinome é “contingenciamento de gastos”, provoca estragos que ultrapassam as fronteiras do território nacional. Já no primeiro mandato de Dilma, o Brasil perdeu o direito de voto em instituições internacionais, sofreu derrotas sucessivas na disputa por cargos relevantes e foi proibido de comandar missões de paz da ONU, entre outras sanções que deixaram em frangalhos a imagem do país. Como a soma das dívidas com as agências da Organização das Nações Unidas já passou dos R$ 600 milhões, não há perigo de melhorar.

Para recuperar, por exemplo, o direito de voto na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), perdido desde 1º de janeiro de 2015, o país precisa pagar R$ 10,3 milhões. Um débito de R$ 15,4 milhões e dois anos de calotes na contribuição financeira devida ao Tribunal Penal Internacional expulsaram o Brasil do quadro de eleitores da instituição. Na FAO, a dívida acumulada chegou a R$ 38,6 milhões.

As embaixadas desenham um quadro de penúria. Em reportagem recente, o Estadão revelou que a representação brasileira em Benim, na África ocidental, ficou sem água e luz por falta de pagamento. Os telefones só não haviam emudecido porque um diplomata ali baseado quitou a conta com o que restava do salário. A escassez de recursos atinge também representações em Tóquio, nos Estados Unidos e em Portugal.

Continua após a publicidade

No ano passado, o Brasil se recusou a pagar a contribuição obrigatória à Organização dos Estados Americanos (OEA), entidade que reúne as nações das Américas do Sul, Central e do Norte. Dos 8,1 milhões de dólares esperados, depositou apenas 1 dólar. Em contrapartida, o salário dos parlamentares saltou no começo do ano de R$ 26.723,13 para R$ 33.763,00. E as despesas federais no primeiro trimestre cresceram R$ 5,4 bilhões, passando de R$ 822 bilhões para pouco mais de um trilhão de reais por ano. “Sem contar a Petrobras”, ressalva o jornalista Carlos Brickmann.

Tudo somado, conclui-se que o Brasil Maravilha que Lula pariu e Dilma Rousseff carregou no colo só existiu na cabeça baldia do parteiro e no cérebro desabitado da babá. Pelo menos desde 2006, a dupla insistiu em enxergar um colosso emergente no que nunca passou de um pobretão metido a besta. Fantasiado de rico com um fraque puído nos fundilhos, há mais de 12 anos a potência de araque deu de esbanjar lá fora o dinheiro que faz falta aqui. Neste início do segundo mandato, o fraque foi reduzido a andrajos que denunciam a miséria financeira e moral do perdulário irresponsável.

Neste 12 de maio, a Câmara dos Deputados aprovou a liberação de mais R$ 50 bilhões para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O governo parece achar pouco: o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, move-se nos bastidores para apressar a transferência de outros R$ 10 bilhões atualmente em poder de um fundo criado com uma fatia de recursos do FGTS. De 2006 para cá, o total de empréstimos do Tesouro ao BNDES ultrapassou a fronteira dos R$ 410 bilhões — 8,4% do PIB.

Boa parte da dinheirama esvaiu-se na construção de usinas, portos, rodovias e aeroportos no exterior ─ em transações mantidas sob sigilo e sempre com juros de pai para filho. “Fazer empréstimos internacionais sem que eles passem pelo Congresso é uma atitude inconstitucional que se cristalizou no governo Lula e Dilma”, observou Maristela Basso, professora de direito internacional da USP, numa entrevista a Heródoto Barbeiro. “Emprestar para Cuba de forma secreta para a construção do Porto de Mariel, por exemplo, é nulo perante o direito brasileiro”.

Inconstitucional ou não, é o que o governo federal faz há mais de uma década. Entre 2006 e 2012, US$ 3,2 bilhões (R$ 6,4 bilhões) foram consumidos em empréstimos a companhias brasileiras em Angola –49% para a Odebrecht–, de acordo com uma reportagem da BBC Brasil. Trecho: “A Odebrecht conta com parte de uma nova linha de crédito do banco, de US$ 2 bilhões, para manter o ritmo de investimentos em Angola, entre US$ 500 milhões e US$ 600 milhões anuais (de R$ 1,1 bilhão a R$ 1,2 bilhão)”.

Continua após a publicidade

Também construído pela Odebrecht e financiado pelo BNDES, o porto de Mariel engoliu US$ 682 milhões só na primeira etapa. Com 18 metros de profundidade, 12 quilômetros de ferrovias e 70 quilômetros de rodovias com pista dupla no entorno, o porto cubano é tudo o que o Porto de Santos, em São Paulo, quer ser quando o governo decidir gastar por aqui as verbas que sobram para modernizar a infraestrutura de países companheiros.

Pelo atalho do BNDES, a Queiróz Galvão fez chegar um bilhão de dólares aos canteiros de obras da hidrelétrica de Tumarín, na Nicarágua. No Equador, a Odebrecht foi contemplada com mais de US$ 90 milhões para construir a Hidrelétrica Manduriacu, além de outros US$ 240 milhões para a hidrelétrica de San Francisco. Acusada de “desleixo” no cumprimento do cronograma, a empreiteira foi expulsa do país, em 2008, pelo presidente Rafael Correa.

Cada vez mais numerosos, esses acertos internacionais são cada vez menos transparentes. Não se sabe ao certo quais são os critérios usados pelo BNDES para escolher parceiros. Boa parte das obras financiadas beneficia países da África e da América do Sul cuja irrelevância comercial é compensada pela permanência no poder de governantes amigos.

A suspeita de que o segredo de alguns contratos se presta a ocultar tenebrosas transações ameaça o sigilo que, no caso de Cuba e Angola, só seria suspenso em 2027. A reação do governo à iminente instauração de uma CPI do BNDES reforçou a sensação de que a devassa na multibilionária caixa-preta é inadiável. As descobertas podem espantar até os brasileiros convencidos de que, depois do Petrolão, não se espantarão com mais nada.

Seguem-se 14 obras no exterior financiadas pelo BNDES.

Continua após a publicidade

Porto de Mariel (Cuba)

Valor da obra: US$ 957 milhões (US$ 682 milhões por parte do BNDES) / Empresa responsável: Odebrecht

Valor da obra: US$ 957 milhões (US$ 682 milhões por parte do BNDES) / Empresa responsável: Odebrecht

Hidrelétrica de San Francisco (Equador)

Valor da obra: US$ 243 milhões / Empresa responsável: Odebrecht

Valor da obra: US$ 243 milhões / Empresa responsável: Odebrecht

Hidrelétrica Manduriacu (Equador)

Valor da obra: US$ 124,8 milhões (US$ 90 milhões por parte do BNDES) / Empresa responsável: Odebrecht

Valor da obra: US$ 124,8 milhões (US$ 90 milhões por parte do BNDES) / Empresa responsável: Odebrecht

Hidroelétrica de Chaglla (Peru)

Valor da obra: US$ 1,2 bilhões (US$ 320 milhões por parte do BNDES) / Empresa responsável: Odebrecht

Valor da obra: US$ 1,2 bilhões (US$ 320 milhões por parte do BNDES) / Empresa responsável: Odebrecht

Continua após a publicidade

Metrô Cidade do Panamá (Panamá)

Valor da obra: US$ 1 bilhão / Empresa responsável: Odebrecht

Valor da obra: US$ 1 bilhão / Empresa responsável: Odebrecht

Autopista Madden-Colón (Panamá)

Valor da obra: US$ 152,8 milhões / Empresa responsável: Odebrecht

Valor da obra: US$ 152,8 milhões / Empresa responsável: Odebrecht

Aqueduto de Chaco (Argentina)

Valor da obra: US$ 180 milhões do BNDES / Empresa responsável: OAS

Valor da obra: US$ 180 milhões do BNDES / Empresa responsável: OAS

Soterramento do Ferrocarril Sarmiento (Argentina)

Valor: US$ 1,5 bilhões do BNDES / Empresa responsável: Odebrecht

Valor: US$ 1,5 bilhões do BNDES / Empresa responsável: Odebrecht

Linhas 3 e 4 do Metrô de Caracas (Venezuela)

Valor da obra: US$ 732 milhões / Empresa responsável: Odebrecht

Valor da obra: US$ 732 milhões / Empresa responsável: Odebrecht

Continua após a publicidade

Segunda ponte sobre o rio Orinoco (Venezuela)

Valor da obra: US$ 1,2 bilhões (US$ 300 milhões por parte do BNDES) / Empresa responsável: Odebrecht

Valor da obra: US$ 1,2 bilhões (US$ 300 milhões por parte do BNDES) / Empresa responsável: Odebrecht

Barragem de Moamba Major (Moçambique)

Valor da obra: US$ 460 milhões (US$ 350 milhões por parte do BNDES) / Empresa responsável: Andrade Gutierrez

Valor da obra: US$ 460 milhões (US$ 350 milhões por parte do BNDES) / Empresa responsável: Andrade Gutierrez

Aeroporto de Nacala (Moçambique)

Valor da obra: US$ 200 milhões (5 milhões por parte do BNDES) / Empresa responsável: Odebrecht

Valor da obra: US$ 200 milhões ($125 milhões por parte do BNDES) / Empresa responsável: Odebrecht

BRT da capital Maputo (Moçambique)

Valor da obra: US$ 220 milhões (US$ 180 milhões por parte do BNDES) / Empresa responsável: Odebrecht

Valor da obra: US$ 220 milhões (US$ 180 milhões por parte do BNDES) / Empresa responsável: Odebrecht

Hidrelétrica de Tumarín  (Nicarágua)

Valor da obra: US$ 1,1 bilhão (US$ 343 milhões) / Empresa responsável: Queiroz Galvão

Valor da obra: US$ 1,1 bilhão (US$ 343 milhões) / Empresa responsável: Queiroz Galvão

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.