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O futuro do PSDB e DEM

Os dois partidos mantêm uma aliança que vem desde 1994, mas só o andar da carruagem e do bolsonarismo vai dizer o que lhes reserva o futuro

Por Eliane Cantanhêde
Atualizado em 30 jul 2020, 19h41 - Publicado em 4 jun 2019, 16h21

Eliane Cantanhêde (publicado no Estadão)

O destino do PSDB e do DEM está diretamente vinculado ao futuro do bolsonarismo e ao sucesso ou fracasso do governo Jair Bolsonaro. A direita foi ocupada pelo capitão. Logo, tucanos e democratas têm de perseguir o centro. Com Bolsonaro fraco, pela centro-direita. Com Bolsonaro forte, pela centro-esquerda, invertendo o movimento tucano à direita para se contrapor à força do PT e das esquerdas em 2002, 2006, 2010 e 2014.

O Brasil é um país de centro. Lula só se elegeu ao se apresentar pelo centro e Bolsonaro só subiu a rampa porque encarnou o antissistema e foi uma válvula de escape para o centro, que se tornou radicalmente contra a esquerda e frustrou-se com o PSDB.

Se o Congresso aprovar a reforma da Previdência, se a meta do governo for mantida, se a reforma tiver o impacto esperado na economia, se isso significar a volta dos empregos… Se, se e se, Bolsonaro pode ser um sucesso e PSDB e DEM vão continuar “ensanduichados” entre a esquerda, à frente o PT, e a direita, com o poder na mão.

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Essa, porém, é só uma das hipóteses. A reforma pode demorar, sair pior do que Paulo Guedes projetou, desanimar os investidores, não derrubar o desemprego. E, não custa lembrar, Bolsonaro não só pode como tende a continuar expondo suas fragilidades, falando besteira e surrupiando a confiança, não apenas do capital e de setores que o apoiaram, mas também do eleitor.

Pesquisa Ideia Big Data divulgada domingo pelo Estado mostra que a soma dos eleitores que aprovam ou aprovam totalmente o governo era de 49% em janeiro e hoje despencou para 31%, enquanto os que desaprovam ou desaprovam totalmente pularam de 21% para 36%. O núcleo duro do bolsonarismo, que votou no “mito” já no primeiro turno, parece estar resistindo, mas o mesmo não se pode dizer dos que aderiram no segundo turno, como forma de dizer “não” ao PT, à esquerda e ao establishment. Esses começam a demonstrar desconfiança e a desembarcar.

PSDB e DEM se articulam para recolher os náufragos, mas cheios de cuidados e dedos, porque eleitor não aceita quem torce contra o governo, ou contra o presidente. Fatalmente, seria entendido como torcer contra o Brasil.

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Nem João Doria, pelo PSDB, nem Rodrigo Maia, do DEM, jamais declarariam e possivelmente jamais iriam tão longe quanto o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, que pregou a desidratação da reforma da Previdência assim: “Precisamos de uma reforma que não garanta a reeleição do Bolsonaro”. Um escândalo.

Doria e Maia, porém, observam os movimentos tanto do presidente quanto da sua base eleitoral com um cálculo naturalmente político. Ambos defendem decididamente a reforma da Previdência, mas com nuances. Como governador de São Paulo, Doria precisa de uma sintonia fina com o Planalto e com Bolsonaro, a quem apoia desde a campanha. Como presidente da Câmara, Maia fala grosso e é direto na defesa do Congresso e da política contra os ataques bolsonaristas.

Entre os dois, Geraldo Alckmin, despojado de cargos e candidaturas, pede que o PSDB tenha a “coragem de criticar” o governo Bolsonaro, “pôr o dedo na ferida” e “não bajular os poderosos”. E manifestou solidariedade a Maia, contra “esses oportunistas políticos por 30 anos, ele (Bolsonaro) e a família inteira”.

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O DEM tem as presidências da Câmara e do Senado e três ministérios poderosos. Já o PSDB tem esqueletos para tirar do armário: Aécio, Richa, Perillo… Os dois partidos mantêm uma aliança que vem desde 1994, mas só o andar da carruagem e do bolsonarismo vai dizer o que lhes reserva o futuro. Vão continuar aliados ou virar adversários para disputar o centro? Em qualquer hipótese, PSDB e DEM dependem de Bolsonaro, do seu sucesso ou fracasso.

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