O deputado que se lixa para a opinião pública virou suplente do clube que preside
Em maio de 2009, incumbido pelo Conselho de Ética da Câmara de redigir o parecer sobre o “Caso do Castelo”, o deputado gaúcho Sérgio Moraes foi logo avisando que absolveria o colega mineiro Edmar Moreira, acusado de quebra do decoro parlamentar por ter esquecido de incluir na declaração de bens a maluquice arquitetônica avaliada em […]

Em maio de 2009, incumbido pelo Conselho de Ética da Câmara de redigir o parecer sobre o “Caso do Castelo”, o deputado gaúcho Sérgio Moraes foi logo avisando que absolveria o colega mineiro Edmar Moreira, acusado de quebra do decoro parlamentar por ter esquecido de incluir na declaração de bens a maluquice arquitetônica avaliada em mais de R$ 20 milhões. Fora um pecado venial, decidiu. Pecado mortal, e portanto irremissível, era a chuva de críticas que desabou sobre a cabeça do relator. Ofendido, Moraes foi à luta. E pousou espetacularmente no Sanatório Geral a bordo de duas frases que fundiam em doses exatas cinismo e sinceridade: “Estou me lixando para a opinião pública. Vocês batem, batem, e nós nos reelegemos mesmo assim”.
A coluna entendeu que quem diz uma coisa dessas merece mais que um estágio no Sanatório. E resolveu promover uma enquete para que os leitores decidissem, entre quatro opções, o que deveria ser feito com o deputado do PTB. Do total de 1.382 votantes, 147 sugeriarm que assumisse o Ministério de Relações com o Congresso, 217 o lançaram candidato ao Senado e 229 preferiram confiná-lo em Santa Cruz do Sul, cidade de que foi prefeito mais de uma vez. Venceu a quarta oposição: por decisão de 789 eleitores (57.0%), Sérgio Moraes foi eleito presidente vitalício do Clube dos Cafajestes.
Em outubro, a reeleição do deputado que se lixa para a opinião pública mostrou que ele conhece o próprio eleitorado. Nesta semana, na quermesse de abertura dos trabalhos legislativos, a eleição de Moraes para a 4ª suplência da Mesa da Câmara demonstrou que a declaração que o celebrizou apenas traduziu o que a turma toda pensa, mas não diz em público. Conseguiu 395 votos, 20 a mais que o novo presidente Marco Maia. O que importa, no caso, não é o cargo. É o ocupante. O apoio de quase 400 deputados a uma flor da abjeção reduz de vez o Congresso a uma extensão parlamentar do Clube dos Cafajestes.
O Brasil não é para amadores, ensinou Tom Jobim. Não é mesmo, confirma o paradoxo produzido por Sérgio Moraes: por misteriosos motivos, ele virou suplente de um anexo do clube que vai presidir até morrer.