O ativista de araque implodiu a trama contra William Waack
Ao sentar-se na cadeira de apresentador do 'Jornal da Globo', o acusador protagonizou o melhor momento da encenação debochada
Interpretando simultaneamente os papéis de sherloque, promotor e juiz, o diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, só precisou de alguns minutos para abrir e fechar o caso William Waack. O sherloque Kamel decidiu que a frase dita pelo suspeito no vídeo gravado há mais de um ano bastava para o encerramento das investigações. Tratava-se de um racista sem remédio. Convencido de que a gravidade do crime comprometia a imagem da empresa a que serve com exemplar dedicação, o promotor Kamel solicitou o imediato afastamento do apresentador do Jornal da Globo.
Foi atendido de pronto pelo juiz Kamel, que negou ao réu o direito de defender-se e arquivou o pedido de desculpas endereçado a quem se sentisse ofendido pela frase. O rito sumário dispensa tais quinquilharias. Por conhecer William Waack, o grande Boni absolveu-o. O lider genial do grupo de craques que escreveu a história da Globo informou que jamais faria o que fez o diretor de jornalismo. Também por conhecer William Waack, Kamel e aliados não perderam a oportunidade de livrar-se do perigo. O brilho alheio é visto com entusiasmo por chefes talentosos. Mas eterniza a insônia de superiores hierárquicos incuravelmente inseguros.
Punido arbitrariamente, William saiu de cena para aguardar os desdobramentos do episódio. Quem segue no palco, eufórico com a notoriedade súbita, é o operador de câmera Diego Rocha. Foi ele um dos dois funcionários da Globo que produziram e, há poucas semanas, divulgaram pela internet o vídeo transformado em prova contundente de um crime sem perdão. Nesta terça-feira, com uma visita ao prédio da Globo em São Paulo, o próprio Diego demoliu o monumento ao bom-mocismo erguido por santarrões de bordel.
A manifestação de respeito ao politicamente corretíssimo apenas camuflava uma conspiração urdida para tirar do ar o melhor jornalista da TV brasileira. Para desferir o tiro que lhe atingiu o pé e ricocheteou na testa dos mandantes da farsa, bastou a Diego alegar na portaria que precisava resolver alguns problemas no setor de recursos humanos. Com a desenvoltura de quem se sente em casa, ele entrou no prédio, circulou pela redação, recebeu cumprimentos de gente que viu em sua delação premiada um soberbo triunfo da tropa que combate preconceitos e invadiu, sem topar com quaisquer obstáculos, o estúdio onde é gravado o Jornal da Globo.
Ali, sentou-se na cadeira que William Waack ocupava, posou para um admirador, postou a imagem no Instagram e lá se foi saborear outros dez minutos de fama. Serão os últimos. A expressão debochada, o meio sorriso atrevido, a frase insolente sob a foto (“O que acham?”)”, as hashtags provocadoras ─ tudo somado, desenha-se com nitidez uma figura desprezível. Não se enxerga um único e escasso vestígio da amargura que costuma marcar alvos de agressões racistas. O que se vê com desoladora nitidez é um oportunista arrogante movido pela certeza de que é credor da Globo.
É uma arrogância inibidora, confirmam o silêncio e o imobilismo dos que se mostraram tão ágeis na montagem do cadafalso que esperavam ver escalado por William. O espetáculo do cinismo protagonizado pelo operador de câmera estreou nas redes sociais no começo da manhã. No fim da noite, o sherloque, o promotor e o juiz que habitam o mesmo corpo continuavam à caça de alguma saída.
A promessa de enquadrar os responsáveis pela desmoralização do esquema de segurança e do sistema de vigilância da Globo é uma piada. Diego passeou pelo lugar com o desembaraço de quem zanza na casa da sogra. Tinha a fisionomia distendida pela ausência de culpas e remorso, e exalava a autoconfiança de quem acabou de prestar bons serviços aos anfitriões. Está na cara: Diego Rocha é um crápula fantasiado de ativista afrodescendente.