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Augusto Nunes

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Nem só de resmungo vive o ambientalismo

Texto publicado no Estadão desta sexta-feira. Marcos Sá Corrêa O texto da mensagem era tão insólito que o nome dos remetentes foi deixado para depois. Não é toda hora que brota em sua tela, sem mais nem menos, um e-mail só para dizer que, numa “tarde esplêndida do outono”, os resedás estavam florindo em Santo […]

Por Augusto Nunes Atualizado em 31 jul 2020, 14h58 - Publicado em 26 jun 2010, 12h01

Texto publicado no Estadão desta sexta-feira.

post-itatiaia

Marcos Sá Corrêa

O texto da mensagem era tão insólito que o nome dos remetentes foi deixado para depois. Não é toda hora que brota em sua tela, sem mais nem menos, um e-mail só para dizer que, numa “tarde esplêndida do outono”, os resedás estavam florindo em Santo Antônio do Pinhal. Só isso e três fotos para não deixar dúvidas.

O cabeçalho que esclarecia tudo. O e-mail vinha de Miriam Leite e Dioclésio José do Nascimento. E só quem os conhece pode fazer ideia de quanto essas flores lhes custaram.

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Dois anos atrás, o casal vivia no Parque Nacional do Itatiaia. Tinha alugado lá dentro, em 1995, as ruínas de um hotel falido num terreno decrépito. Levaram mais de uma década para reconciliar a casa e o jardim com a mata que os donos, como sempre, tinham levado décadas para enxotar da propriedade.

Nas horas vagas, quando não estavam consertando tudo a mão, ela pintava e fotografava, ele tecia tapetes artesanais num tear de madeira. Os dois vendiam seus produtos numa loja na sala de casa. Era uma dessas lojas onde se podia entrar, provar o chá de capim-limão colhido no canteiro junto da varanda, comer o pão caseiro ainda quente do forno e sair de mãos abanando, com a noite caindo, sem a menor ideia do que horas antes pretendia comprar.

Ou seja, não se tratava propriamente de um estabelecimento comercial. Mas era loja. E estava num parque. Quando souberam que, sob nova administração, Itatiaia não queria mais conviver com eles, Miriam e Dioclésio fizeram o que já tinham feito tantas vezes antes: botaram tudo no carro e foram em busca de outro canto de serra para embelezar.

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Mata sadia. Tinham tradição no ramo. O lugar por onde eles passaram em Valença, no começo dos anos 90, é hoje uma reserva particular de mata sadia. Em Santo Antônio do Pinhal, estão desde 2008 devolvendo à floresta e aos bichos os 14 hectares que compraram em prestações a perder de vista, depois que a agricultura e a pecuária os exauriu e desvalorizou.

Eles arrancaram todos ou mourões de cerca espetados na capineira. Eram tantos que encheram dois caminhões de lenha para olarias. Outros dois caminhões levaram para a reciclagem os restos de arame, lata e vidro que a dura faina da ganância agrícola havia semeado. Desmancharam um viveiro grande como uma penitenciária de aves exóticas. Limparam os córregos.

E, sobretudo, plantaram mudas, as maiores que conseguiam comprar nos hortos da Mantiqueira. Sempre de árvores frutíferas típicas da Mata Atlântica, como araçá, goiaba, ingá e abio. Os pássaros da região parecem reconhecê-las, pois se aboletam em seus ramos assim que as veem de pé. O terreno já recebeu visitas de caititu, jaguatirica e veado-mateiro.

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Eles gastam nisso quase tudo o que ganham. Mas nem por isso deixaram de montar uma loja coberta de sapê, ao lado do shopping na cidade. Miriam, que em Itatiaia fazia joias de papel-machê, em Santo Antônio do Pinhal se converteu à ourivesaria. Dioclésio descobriu um mercado de silhuetas adesivas em forma de gavião, para remediar a mortandade dos pássaros contra vidraças nas casas de campo. As vendas estão pagando o reflorestamento.

Eles fizeram tudo isso enquanto o País discutia se é possível sobreviver debaixo do Código Florestal ou se o Parque Nacional do Itatiaia pode ou não resolver legalmente seus problemas fundiários. Ainda bem que ainda há brasileiros dispostos a mudar de assunto.

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