Imagens em movimento: Uma perspectiva kubrickiana
PUBLICADO EM 28 DE SETEMBRO SYLVIO DO AMARAL ROCHA Meninas gêmeas com vestidos azuis permanecem estáticas no fim de um comprido corredor de hotel. Um astronauta expelido da nave mergulha no silêncio do espaço. Jovens de branco, com longos cílios postiços em apenas um olho bebem leite no fundo de um bar repleto de manequins […]

PUBLICADO EM 28 DE SETEMBRO
SYLVIO DO AMARAL ROCHA
Meninas gêmeas com vestidos azuis permanecem estáticas no fim de um comprido corredor de hotel. Um astronauta expelido da nave mergulha no silêncio do espaço. Jovens de branco, com longos cílios postiços em apenas um olho bebem leite no fundo de um bar repleto de manequins nuas. Um general avança em direção à câmera entre duas filas de soldados imóveis. O que essas cenas têm em comum além de terem sido extraídas de filmes de Stanley Kubrick? A resposta está no vídeo abaixo. Nele, Kogonada, um usuário do Vimeo, separou trechos de várias obras do cineasta para ilustrar a tese de que Kubrick usou e abusou da perspectiva com um ponto de fuga.
Desenvolvida no Renascimento, a técnica que possibilita que objetos tridimensionais sejam representados em planos bidimensionais até hoje influencia as artes. Como se percebe nas projeções mapeadas com vários pontos de fuga (veja aqui), a perspectiva procura representar o mundo, a partir de um ponto de vista fixo, da forma espacial como percebemos.
No começo da edição, Kogonada desenha uma grade que reproduz o caminho do olhar. O ponto de fuga da imagem está no centro. A profundidade de campo é irrestrita ─ nada está fora de foco ─ e, mesmo assim, obtém-se a impressão de amplidão, como se as imagens ultrapassassem os limites da tela. Uma das formas mais comuns que os fotógrafos usam para transmitir tal sensação é desfocar o que está mais distante, evidenciando que os objetos estão em planos distintos. Conseguir isso quando tudo está em foco é mais complicado.
Que Stanley Kubrick foi um gênio do cinema não é novidade. O que poucos sabem é que, embora péssimo aluno, foi um excelente jogador de xadrez e um fotógrafo excepcional. Sabia tudo sobre lentes, enquadramento, luz e câmera. Perfeccionista, demorava anos preparando um filme. Kogonada, por sua vez, foi primoroso na edição desse material. Além de selecionar exemplarmente cada cena, foi kubrickiano na obsessão pelo melhor timing na hora da edição ─ apesar do estilo mais frenético que o do cineasta. Não deixe de ver.
[vimeo 48425421 w=460 h=258]
Kubrick // One-Point Perspective from kogonada on Vimeo.