Imagens em Movimento: Um presente do passado
SYLVIO DO AMARAL ROCHA A fotografia faz lembrar que o tempo passa. É o recorte de um momento, um fragmento arrancado da vida. Alguns povos indígenas não gostavam de ser fotografados. Alegavam que a vida lhes era roubada pelo clique. Durante muito tempo, fotografias dos mortos foram produzidas por gente que perseguia o registro do […]

SYLVIO DO AMARAL ROCHA
A fotografia faz lembrar que o tempo passa. É o recorte de um momento, um fragmento arrancado da vida.
Alguns povos indígenas não gostavam de ser fotografados. Alegavam que a vida lhes era roubada pelo clique. Durante muito tempo, fotografias dos mortos foram produzidas por gente que perseguia o registro do último suspiro, do momento derradeiro. Ao espelhar a imagem e congelar o instante com o uso de algum fixador potente, os fotógrafos inauguraram a idade do tempo. O contato com o passado feito através de uma fotografia evidencia a fragilidade do presente e a inclemência do devir.
Márcio Távora transporta suas imagens para notas de passado. As páginas do seu Livro de Visitas, de 2013, exibem fotos de hotéis abandonados. Cada fragmento contém uma história do antes e depois do clique. Se não fosse por essas imagens, muitos desses locais se diluiriam no emaranhado das coisas que nunca existiram. A fotografia carrega o espaço no tempo.
Márcio também costuma registrar paisagens do bairro do Cambuci, em São Paulo, objetos que perderam a utilidade e carros antigos. Carregados de nostalgia, os encontros com essas imagens mostram que a mente do fotógrafo é parecida com a de um cineasta: busca tecer narrativas com os diversos passados contidos numa mesma imagem.
Não foi por acaso que Távora criou uma página no Vimeo e começou a postar pequenos filmes. É uma extensão do trabalho como fotógrafo. Os locais visitados e as pessoas destacadas têm o mesmo objetivo de suas fotos. Algumas histórias têm curtos depoimentos que fornecem mais pistas para a narrativa criada pelo espectador.
Frutti Viva, realizado em parceria com Helena Rios, Paulo Marcelo e Raphael Villar, traz um pouco da vida da família Yamahata, dona de uma mercearia que há mais de sessenta anos funciona no bairro da Aclimação, também na capital paulista. Esses fragmentos em movimento são o caleidoscópio de um Brasil que muitos veem desintegrar-se a cada dia. Sem sucessores, os Yamahata em breve fecharão as porta do estabelecimento. Graças aos três minutos do filme abaixo, um pouco dessa história permanecerá.
[vimeo 97971593 w=500 h=281]
Frutti Viva from Estúdio Távora on Vimeo.