Imagens em Movimento: E Méliès criou a magia
SYLVIO DO AMARAL ROCHA Ao assistir ao curta Le Repàs Du Bébé (A alimentação do bebê) numa das sessões no Grand Café de Paris, em 1895, um dos maiores cineastas de todos os tempos pensou alto: “As folhas se mexem”. Realmente se mexiam – e talvez fosse essa a última coisa que uma pessoa comum […]

Ao assistir ao curta Le Repàs Du Bébé (A alimentação do bebê) numa das sessões no Grand Café de Paris, em 1895, um dos maiores cineastas de todos os tempos pensou alto: “As folhas se mexem”. Realmente se mexiam – e talvez fosse essa a última coisa que uma pessoa comum pensaria ao observar a cena na qual Auguste Lumiére dava comida a seu filho, Andrée, ao lado da mulher, Magrite.
Mas George Méliès não era comum. E foi a partir daquele momento que o ilusionista europeu passou a perseguir a criação do movimento e a expansão de suas possibilidades de uma maneira nova e encantadora. Amparando-se na desculpa de que aquela invenção servia à ciência e não à arte, os irmãos Lumiére se recusaram a lhe vender um cinematógrafo. Eles acreditavam que o cinema deveria ser usado não para trazer os sentidos à tona, mas para analisar o mundo, dissecá-lo e entendê-lo aos modos de Marey (confira aqui).
Com um pensamento bem diferente, Méliès se transformou no primeiro grande influenciador da gramática cinematográfica. Sem a pretensão de copiar a realidade ou seguir determinadas narrativas, acoplou o advento aos seus shows de mágica, ilusionismo e fantasmagoria.
Foi gravando um cortejo fúnebre em Paris, por exemplo, que ele criou ao acaso o primeiro “efeito especial” do cinema. Ao revelar o filme, Méliès notou que a câmera, apontando para um mesmo local, havia travado num determinado momento e voltado a funcionar tempos depois. Assim, uma pessoa que caminhava na calçada desaparecia misteriosamente. Um carro que acabara de entrar na cena surgia quilômetros adiante como num passe de mágica.
Méliès terminou abandonando tudo para se dedicar exclusivamente a essa arte e montou o primeiro estúdio cinematográfico. Todo feito de vidro e com o auxílio de cortinas, permitia controlar a luz ideal para cada cena. Seu filme mais famoso, Viagem à Lua, foi rodado em 1902. No roteiro, um grupo de astrônomos capitaneado pelo professor Barbenfouillis (o próprio Méliès) realiza uma viagem à lua. Primeiro grande sucesso comercial do cinema e um dos mais pirateados do mundo, viajou praticamente todo o globo e influenciou inúmeros criadores que, como ele, se iniciavam na aventura de capturar imagens para exibi-las como histórias. Boa viagem. [youtube https://www.youtube.com/watch?v=G5DLJgn-ys4?wmode=transparent&fs=1&hl=en&modestbranding=1&iv_load_policy=3&showsearch=0&rel=1&theme=dark&w=425&h=344%5D