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Augusto Nunes

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Gleisi e Boulos

Quem, além de outros ditadores, ainda poderia defender Maduro sem ter uma ditadura apontada para a cabeça? O PSOL, por exemplo

Por Valentina de Botas
Atualizado em 30 jul 2020, 19h56 - Publicado em 26 fev 2019, 17h04

Valentina de Botas

A escalada dos crimes da narcoditadura militar chefiada pelo civil Nicolás Maduro contra a população venezuelana foi progressiva e constante e, quando os observadores mais otimistas esperavam o início de sua reversão, o tirano decretou o fechamento das fronteiras e do espaço aéreo do país, entrincheirando-se para rejeitar à bala a ajuda humanitária. Depois de encarcerar opositores pelo crime real de se oporem camuflado no delito fictício de conspiração, Maduro aprisiona a população. Até então, quem podia fugir do paraíso do socialismo do século 21 não perdeu tempo, e o êxodo estimado em 2,3 milhões pela ONU (dados de agosto de 2018) inscreve a Venezuela na lista de paraísos deformados ilustrada por Cuba e a ex-Alemanha Oriental, estranhos enclaves edênicos dos quais se luta para sair. Quem, além de outros ditadores, ainda poderia defender Maduro sem ter uma ditadura apontada para a cabeça? O PSOL, por exemplo.

Para tanto, o PSOL vai da relativização à higienização com argumentos e antissépticos usados pelos defensores da ditadura militar condenada pelo partido: numa entrevista a um youtuber na sexta-feira passada, Guilherme Boulos foi ao limite da imoralidade e deu mais um passo afirmando que o governo de Maduro “errou”, mas a oposição também; numa concessão como tributo à farsa, reconheceu que “realmente o regime comete excessos, mas a oposição também”. Uma oposição encarcerada e desarmada. Enquanto inocenta Maduro por crimes reais, o militante das trevas condena certo presidente Bolsonaro fascista por crimes imaginários. O líder do MTST sabe que, num regime fascista, estaria numa masmorra como está parte da oposição venezuelana. À miragem de Boulos, juntou-se Gleisi Hoffmann, aquela que, num país normal, seria somente alguém com um prenome implausível, não uma ex-ministra e ex-senadora com um prenome implausível. Na farsa que sustenta para se sustentar, Gleisi trocou o vilão Bolsonaro pelo vilão Trump: é o imperialismo americano que mata venezuelanos de fome, doença, porrada e tiro; são ianques as milícias que exterminam as pessoas no meio da rua ou entram nas casas e executam pais e filhos na frente uns dos outros. Depois de o PT regar com a nossa grana e com a ética própria um regime abjeto, este ainda é cultivado nas mentiras de Gleisi e Boulos.

 

Não se nasce Celso de Mello, torna-se

No Brasil, homicídio e tentativa de homicídio são crimes. Há a figura do “motivo torpe” ou do “agravante” que aumentam a pena do condenado, motivação como discriminação sexual é um deles. Assim, a legislação brasileira já contempla o que a militância LGBT alega buscar no STF. Apesar de não haver no Brasil o holocausto gay anunciado pelos farsantes das causas identitárias que dissolvem indivíduos nelas, claro que LGBTs são mortos por sua condição de LGBTs, inclusive são mortos por outros LGBTs. Mas LGBTs, antes de tudo, são pessoas, suas vidas valem por isso, não por definições identitárias. A militância LGBT não quer proteção para andar na rua sem levar porrada porque ela sabe que uma lei não impede isso, ou ela também impediria 64 mil assassinatos no país que padece sob uma violência estrutural: a militância quer poder e seus representantes sabotadores e principais opressores do LGBT que se recusa a trocar sua individualidade pelo coletivismo identitário querem votos, holofotes e outros mimos da democracia que chamam de fascista e opressora se ela não lhes mimar. Patéticas caricaturas jeanwyllysenses do LGBT que é pessoa comum que só quer viver sossegado.

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Celso de Mello, Roberto Barroso e Cármen Lúcia também brilharam no picadeiro do atraso progressista: sem se darem conta, fizeram um strip-tease da demagogia que artificializa direitos e ignora a nação real ─ onde, como a maioria dos brasileiros, LGBTs transam com quem quiserem, casam-se se quiserem e têm a profissão para a qual se prepararem ─, desnudamento involuntário no qual não há trololó meigo de erudição obsoleta com terminologia torturada capaz de cobrir as vergonhas que o STF já perdeu. Equiparar a LGBTfobia ao racismo (prática já criminalizada pela lei), como pretende a militância LGBT numa esperteza para driblar o princípio constitucional que impede o STF de legislar e de criar tipo penal, tem base em entendimentos anteriores do Supremo que fundam um país-miragem visível somente a partir daqueles onze tronos suntuosos imunes ao real e à Constituição. O pleito da militância LGBT também contempla a criminalização da mera crítica ao comportamento sexual mirando as referências ofensivas ou de incitação ao ódio; ora, tais práticas já estão tipificadas no Código Penal. Claro que há críticas cretinas, mas a cretinice é inerente aos humanos, ou Celso de Melo não se tornaria Celso de Melo, e criminalizá-la não é certo nem errado, é somente inútil. Além disso, vamos contar a coisa como a coisa é: tal pleito vem de um grupo cujos não poucos integrantes ofendem cristãos e atacam os respectivos símbolos religiosos ─ para o que invocam a liberdade de expressão que querem restringir nos outros ─, são misóginos e xingam-se uns aos outros.

Um caminho possível para combater a violência contra LGBTs no Brasil é combater a violência no Brasil. LGBTs sustentam que estão expostos à violência como qualquer brasileiro, mas correm um risco a mais por sua condição identitária. Faz sentido, contudo o combate a esse primitivismo só será eficaz se a histeria manipuladora não vencer os fatos, portanto é fundamental apurar quão “a mais” é esse risco. A Gazeta do Povo publicou na semana passada uma revisão dos dados feita pelo geneticista Eli Vieira, homossexual crítico das pautas identitárias. Ele pesquisou as fontes do Grupo Gay da Bahia, principal referência para as estatísticas nesse assunto, sobre 347 casos de mortes por suposta motivação homofóbica, em 2017. Descobriu que apenas 6% dos casos se confirmaram por tal motivação: menos de 21 mortes. Muito, mas 21 não é 347. É muito porque se mata muito no Brasil: em 2017, 63.800 brasileiros foram assassinados, informa o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Um Congresso omisso e um STF que legisla fragilizam a sociedade brasileira, mas criminalizar a LGBTfobia não protegerá LGBTs, e penalizar a crítica ao comportamento (ou a qualquer coisa) sexual vai engessar a liberdade de expressão, o que instaurar o vigilismo sempre castrador: é a educação pela sintaxe do ódio. Se Celso de Mello não tivesse se tornado Celso de Melo, saberia que o Brasil só será civilizado para LGBTs quando for civilizado.

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